A indústria fóssil não mede esforços para continuar de pé e manter os negócios prosperando, ainda que para isso continuem a ignorar as mudanças climáticas e as vozes das comunidades. No entanto, estamos em contagem regressiva e se quisermos trilhar um caminho mais sustentável para nós e para o planeta, precisamos ver um declínio significativo no uso de combustíveis fósseis e reduzir nossas emissões de gases-estufa. Para isso, não podemos esperar que apenas políticos e autoridades liderem esse processo.
E quem tem o poder de abalar os pilares que sustentam essa indústria? As comunidades locais. A luta por por um mundo livre dos combustíveis fósseis ganha cada vez mais força ao redor do mundo. Milhões de pessoas já levantaram suas vozes contra os combustíveis fósseis e querem uma transição energética justa para todos, com fontes de energia 100% renováveis. Portugal segue por esse caminho.
Aljezur está localizada no Algarve, uma região litorânea que fica no sul de Portugal e que é considerada uma das regiões mais turísticas no verão europeu e uma das mais ricas do país. A região é também o novo alvo da indústria fóssil. No começo do ano, o governo português prorrogou a licença de prospecção de petróleo na região em três concessões no oceano Atlântico, o que inclui a realização de uma perfuração de teste em águas profundas, a cerca de 46 quilômetros de Aljezur.
Essa decisão vai contra a dinâmica econômica da região e é incoerente com as estratégias do governo de utilizar energias renováveis e com a resolução anunciada pelo primeiro-ministro, António Costa, na conferência do Clima das Nações Unidas (COP22), em Marrakesh, de fazer evoluir a economia nacional para chegar a um modelo neutro em carbono até 2050. Além disso, a possibilidade dessa perfuração não agrada em nada a população local.
A sociedade civil, ambientalistas e organizações locais estão mobilizados para dizer NÃO AO FURO EM ALJEZUR. A mais recente ação contra a exploração aconteceu no dia 14 de abril, em Lisboa. Manifestantes organizaram uma marcha, que saiu da praça Luís de Camões e seguiu até a Assembleia da República e reuniu milhares de pessoas em defesa da vida, das belezas da região e por um mundo livre dos combustíveis fósseis. A exploração de petróleo no Algarve pode comprometer a imagem internacional da região e implicar em uma série de riscos para toda a faixa costeira. Uma ameaça para a riqueza ambiental e ecológica e para atividades econômicas, como o turismo e a pesca. Uma ameaça que nós não podemos permitir.
O furo de prospecção de petróleo em Aljezur já possui até prêmio. Mas isso não é motivo de orgulho. Portugal ganhou medalha de ouro no European Fossil Fuel Subsidies Awards 2018 – prêmio para os piores subsídios aos combustíveis fósseis. A atribuição da licença para pesquisa de petróleo em Aljezur, no Algarve, foi considerada o pior subsídio para combustíveis fósseis na Europa. O Brasil já passou por algo semelhante durante a COP 23. Graças à medida provisória 795 o Brasil levou para casa o Fóssil do Dia. Apelidada de MP do trilhão, a proposta, já sancionada pelo Presidente Michel Temer, concede incentivos fiscais que podem ultrapassar a cifra de R$ 1 trilhão para empresas explorarem petróleo e gás no país.
Felizmente, não é apenas um “prêmio” e o idioma que unem Brasil e Portugal. O embate contra a indústria fóssil é comum e milhares de quilômetros não são suficientes para separar nossas vozes. Em apoio à campanha contra o furo em Aljezur, membros da 350.org Brasil e da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS) conversaram com centenas de pessoas durante o Fórum Alternativo Mundial da Água sobre essa ameaça. O Fórum aconteceu em Brasília e diversas pessoas se sensibilizaram com a causa e enviaram mensagens de apoio. Não podemos aceitar mais nenhum novo projeto fóssil. Nem do lado de cá, nem do lado de lá.
Para saber mais sobre a campanha Zero Fósseis, acesse https://zerofosseis.org/