O ano era 2009, em novembro a revista britânica The Economist estampava em sua capa a imagem do Cristo Redentor alçando vôo do pico do Corcovado, abaixo de uma chamada de dar orgulho a qualquer brasileiro : “O Brasil decola”. Quatro anos depois, a publicação, uma das mais importantes do mundo, já vê dúvidas sobre a decolagem brasileira. A nova edição da revista, traz na capa que circulará na América Latina e na Ásia um questionamento: “O Brasil estragou tudo?”. Desta vez, o Cristo aparece caindo, depois de fazer um vôo torto pelos céus.

Fonte: Capa da revista The Economist
15 anos depois, a sensação é de estarmos vivendo um deja vú. Dessa vez, vivemos o auge da crise climática, correndo contra o tempo e sabendo que, se não agirmos agora, com medidas drásticas para diminuir as emissões de gases de efeito estufa, os próximos anos serão ainda mais difíceis.
O Brasil, em sua imensidão territorial, tem diversas fontes de energias renováveis, comunidades com sabedoria ancestral, as respostas que o mundo precisa para sair da crise climática, além do papel de anfitrião da próxima e mais importante Conferência das Partes, a COP30.
A expectativa era de liderança climática baseada no exemplo, mas o que estamos vendo é um grande escárnio quando nos deparamos com as declarações sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas vindas do presidente Lula e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Eles ignoram as avaliações do IBAMA e o modo de vida das comunidades tradicionais locais que sofrerão o impacto da abertura de poços para extração de combustíveis fósseis.
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Comunidades tradicionais pedem por uma Amazonia Livre de Petróleo e Gás / Foto: Observatório do Marajó
Sila Mesquita, Coordenadora Nacional, Rede de Trabalho Amazônico (GTA), disse:
“A liberação da exploração de petróleo na Foz do Amazonas é um grave retrocesso para a agenda socioambiental do Brasil. O bioma amazônico e as populações que dele dependem não podem ser sacrificados em nome de interesses econômicos que acentuam os problemas socioambientais e trazem mais concentração de renda para poucos. A Rede GTA se posiciona veementemente contra essa decisão e reforça a necessidade de investimentos em uma economia sustentável, que respeite a biodiversidade e os direitos das comunidades tradicionais.”
Suane Barreirinhas, ativista da Vila da Barca, bairro periférico de Belém onde vivem pessoas ribeirinhas disse:
“É tempo de usarmos a COP30 para ecoar a voz de quem sente na pele a crise climática: pescadores, ribeirinhos e crianças. Queremos informação para todos, uma conversa democrática sobre o futuro do planeta. Que este espaço, o nosso rio, seja palco da nossa luta contra esse “desenvolvimento” que nos afeta. Já vimos o desastre de Belo Monte e não aceitamos a perfuração na foz do Amazonas. Peixe é com açaí, não com petróleo!”
Valma Teles, do Observatório do Marajó disse:
“A exploração de petróleo na foz do Amazonas é um desrespeito aos direitos humanos das comunidades locais, incluindo o direito à terra, à água e à saúde. O governo apressar a aprovação de um projeto cheio de riscos socioambientais e que não tem legitimidade popular nos territórios para evitar se queimar na COP30 é querer fazer nós, povos das florestas e águas, e o mundo todo de bobo. Cadê o investimento em outra matriz energética? Cadê as soluções descentralizadas? Não podemos continuar assumindo os riscos das promessas que não se cumprem e continuar lidando com a falta de políticas adequadas para uma verdadeira transição energética.”
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Não suficiente, ao passo que o governo atual produz poderosos discursos em mesas como COP e G20, é importante pontuar que os projetos contrários ao caminho da justiça climática lutam contra esses discursos.
- A continuação do 5o Ciclo da Oferta Permanente de Concessão, divulgado no dia 11/02: Um claro sinal de que não há expectativa do Brasil parar de aumentar sua produção de combustíveis fósseis
- A falta de continuidade no projeto de taxação dos bilionários: A falta de atitude na busca justa e equitativa de um financiamento climático.
- Os subsídios direcionados para a indústria de combustíveis fósseis que chegam a mais de R$ 80 bilhões, e com aumento recente no incentivo de produção: combatendo a falácia de que a exploração dos combustíveis fósseis financiam a transição energética.
Ilan Zugman, diretor da 350.org para a América Latina e o Caribe disse:
“O Governo espalha desinformação quando diz que precisa de mais petróleo para financiar a transição energética. Essa narrativa é simplória e desrespeitosa. Para colocar em perspectiva, mais de 80% dos incentivos fiscais oferecidos pelo governo federal para o setor de energia são direcionados para os combustíveis fósseis. O governo federal investe mais de R$80 bilhões em subsídios para combustíveis fósseis. É também vergonhoso que membros do governo federal se pronunciem de forma contrária aos direitos das pessoas mais vulneráveis do país e que mais sofrem pelas crises climáticas. O presidente Lula deveria se pronunciar a favor dos direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais à consulta prévia, livre e informada, bem como ao do IBAMA de fiscalizar para proteger o nosso meio ambiente, conforme seu mandato. Mas estamos vendo um esforço contrário.”
Será que o Brasil, na possibilidade de se tornar um verdadeiro líder climático global, vai arruinar tudo mais uma vez?
Estamos lutando para que isso não aconteça. Vem com a gente apoiar esse ato!
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Livia Lie – Digital Campaigner para 350 América Latina
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