Por SOS Amazonia e 350.org

Neste momento crítico, quando os impactos das mudanças climáticas continuam quebrando recordes de destruição e o nosso planeta se aproxima de um ponto de não retorno, a nossa floresta Amazônica desempenha um papel vital – mas ela também está sob enorme ameaça: o desmatamento e a exploração de petróleo e gás colocam a floresta, as suas comunidades e todos nós em risco.

 

Quais são os principais desafios que a floresta enfrenta?

Em maio, as áreas desmatadas na Amazônia aumentaram 91%, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Foram 960 km² de floresta derrubados em apenas um mês, o segundo pior resultado da série histórica. A ligação entre desmatamento e queimadas ilegais é direta: o fogo, usado para “limpar” a terra, responde por mais da metade da destruição.

O Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), apresentado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), aponta que 51% do desmatamento resulta de queimadas, 48% de corte raso e 1% de mineração. E, segundo o  Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) , 79% dessa devastação acontece em terras privadas (fazendas, sobretudo), 16% em assentamentos, 5% em unidades de conservação e 1% em terras indígenas.

Essa destruição não é apenas um ataque à biodiversidade: ela sufoca comunidades inteiras com fumaça, contamina rios, destrói colheitas e aumenta a insegurança alimentar. Enquanto isso, o governo insiste que o petróleo vai financiar a transição energética justa. Mas a realidade desmente essa narrativa: a expansão das fronteiras extrativas só gera mais violência, mais desigualdade e mais apagões na vida de quem vive na Amazônia. 

Além do mais, não há um plano concreto de transição energética do governo brasileiro, com metas claras. Uma transição energética justa não pode nascer da destruição – ela precisa começar com o povo que paga o preço mais alto por uma crise que não criou.

 

Foto: Bloomberg Finance LP

 

O que está por trás das queimadas ilegais?

Como lembra a pesquisadora do INPE, Dra. Luciana Gatti: “o avanço do fogo no Brasil não é um fenômeno natural.” Agronegócio, pecuária, mineração e petróleo são setores que lucram com o desmatamento. O próprio presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, resumiu: “Derrubar árvore é caro. Queimar é barato – basta comprar gasolina.”

Para agravar, o Congresso aprovou o PL da Devastação (2159/2021), que fragiliza o licenciamento ambiental e facilita a regularização de projetos que destroem a floresta. Um presente para a bancada ruralista e para os interesses que lucram com a destruição.

 

Vulnerabilidades e injustiça energética

Enquanto isso, as comunidades amazônicas enfrentam eventos extremos cada vez mais severos. No Acre, 93 comunidades indígenas perderam suas lavouras com enchentes históricas em 2024, e hoje o estado enfrenta uma das piores secas já registradas — com 64% do território afetado.

No meio dessa crise climática, a exclusão energética é gritante. A Amazônia responde por quase um terço da energia elétrica do Brasil, mas milhões de pessoas ainda vivem à luz de lamparinas e geradores a diesel. Em Belém e Manaus, famílias pagam proporcionalmente mais caro pela eletricidade do que em outras partes do país — um retrato cruel da desigualdade.

 

A contradição do governo e o desafio da COP30

O governo Lula tenta se apresentar ao mundo como liderança climática ao sediar a COP30 em Belém. Mas como conciliar esse discurso com a possibilidade de liberar a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, com a aprovação do PL da Devastação e com comunidades inteiras vivendo no escuro? Não existe liderança climática internacional sem coerência em casa. Abrir novas fronteiras de petróleo na Amazônia é perfurar o coração do clima global.

 

Dia da Amazônia: vamos às ruas!

Neste 5 de setembro, Dia da Amazônia, não basta celebrar: é preciso lutar.

Com a campanha A Resposta Somos Nós e a mobilização global DELIMITE – parte da mobilização global ‘Draw the Line’ – povos indígenas, comunidades ribeirinhas, quilombolas, juventudes urbanas e movimentos sociais vão ocupar as ruas para traçar a linha contra a devastação e os fósseis.

O Brasil precisa de um Plano Nacional de Transição Energética que comece pelos territórios, garanta energia limpa e comunitária para quem hoje está excluído e que seja construído com participação popular real. O futuro só será possível se for com justiça –  e essa justiça começa agora, com coragem e mobilização.

No Dia da Amazônia, marchamos porque o futuro não se negocia: se defende.

Foto: Kathleen Lei Limayo

Sobre SOS Amazonía

A SOS Amazônia nasceu em 1988, no Acre, sob a liderança de Chico Mendes, para defender a floresta e as populações tradicionais. Desde então, tem atuado na criação e gestão de Unidades de Conservação, incluindo o Parque Nacional da Serra do Divisor, além de plantar mais de 2,1 milhões de árvores e apoiar diretamente 5.500 famílias. A organização também fortaleceu a cooperação entre Brasil e Peru para o uso sustentável da floresta, desenvolveu o projeto Bombeiros da Amazônia para reduzir o uso do fogo na agricultura e recebeu reconhecimento nacional ao ser eleita uma das 100 melhores ONGs do Brasil nos anos de 2017, 2021 e 2022, além de prêmios por sua gestão eficiente.

Mais informações: sosamazonia.org.br/en

 

Fontes: 

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE (2025, June 6). TerraBrasilis: Deforestation alerts – Amazon biome (aggregated data). 

Greenpeace Brasil. (2025, June 6). Desmatamento.

Imazon. (2025, April). Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) – Março de 2025.

SOS Amazônia. (2019, September 21). Brazil in flames.

Menezes, R. (2024, August 7). Desmatamento é caro, fogo é mais barato, explica presidente do Ibama sobre queimadas. Agência Pública. 

g1 Acre. (2025, June 28). Com mais de 64% do território em situação de seca, autoridades do AC avaliam estratégia para amenizar prejuízos. 

g1 Acre. (2024, March 2). Da seca extrema à cheia histórica: entenda os fatores climáticos que fazem o Acre viver nova emergência. 

SOS Amazônia. (2024, April 22). Dia da Terra: A importância da Amazônia para o futuro do planeta.