leilao petroleo e gas

Aconteceu ontem o nono e último leilão de petróleo e gás do Governo Bolsonaro, uma era marcada por grandes saldões, com blocos vendidos por até 50 mil reais, recorrente inclusão, nos leilões, de blocos onde a atividade petrolífera e gasífera colocaria em risco áreas de extrema sensibilidade socioambiental, como a Foz do Rio São Francisco e  a Foz do Rio Amazonas, a própria Bacia do Amazonas, o Arquipélago de Abrolhos e Fernando de Noronha.

Nesse último leilão, apenas 4 dos 11 blocos ofertados foram arrematados, mostrando, mais uma vez a decadência desse sistema que impacta comunidades de base e abre portas para a piora da crise climática global. 

 

E agora? 

Seria maravilhoso se víssemos um aceno para o fim dos leilões de combustíveis fósseis, mas a verdade é que, apesar de ter feito um belo discurso na COP27, sem dúvidas, lidar com o lobby das indústria será o maior desafio do novo governo do presidente eleito Lula no enfrentamento às mudanças climáticas.

“You may say I am a dreamer… But I am not the only one”, Imagine – John Lennon.
Tradução: “Posso parecer muito sonhador(a)… Mas não sou o único”

Parece um sonho? Pode até parecer, mas trata-se de uma possibilidade concreta, que um governo comprometido com a justiça social e climática precisa abraçar.

Por isso, as comunidades tradicionais, que sempre estiveram na linha de frente da luta por uma matriz energética renovável e socialmente justa, estão mais uma vez liderando a busca por avanços nessa área. 

No começo de dezembro, 15 associações e redes de povos indígenas, pescadores artesanais, quilombolas e ativistas ambientais de áreas afetadas ou potencialmente afetadas pela extração de combustíveis fósseis enviaram uma carta aberta com propostas aos Grupos Técnicos de Minas e Energia e de Meio Ambiente do Gabinete de Transição Presidencial do Governo Lula. 

Em conjunto com a 350.org, as organizações de base apresentaram seis demandas emergenciais na área de energia, incluindo propostas referentes aos leilões da ANP. 

São as seguintes:

  1. Criação de uma Secretaria de Energias Renováveis e Transição Energética Justa, que terá a incumbência de criar, em conjunto com a sociedade civil, um plano para acelerar a transição energética do país.
  2. Determinação da proteção integral ao bioma amazônico, incluindo a anulação definitiva das ofertas de exploração de petróleo e gás em todos os blocos nesse bioma (estão em oferta blocos nas bacias do Amazonas, do Parnaíba e do Parecis, e em estudo de oferta, blocos na Bacia do Solimões).
  3. Indicação do Ministério de Meio Ambiente para proibição do fracking (fraturamento hidráulico) via resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), até aprovação de legislação específica (um pré-edital lançado recentemente pelo governo Bolsonaro abre a brecha para o uso do fracking, em breve, no país, o que representa um gigantesco risco socioambiental).
  4. Priorização e aceleração do Pacto Energético firmado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela Eletrobras com a Organização das Nações Unidas (ONU), para descarbonização da Amazônia até 2030.
  5. Exclusão, na Oferta Permanente da ANP, dos blocos em áreas sensíveis próximos a Abrolhos (Bacia de Camamu-Almada), Fernando de Noronha e Atol das Rocas (Bacia Potiguar) e da Foz do Rio São Francisco (Bacia Sergipe-Alagoas).
  6. Cancelar a rede de gasodutos e termelétricas a gás previstos pelo “jabuti” incluído indevidamente por alguns parlamentares na lei de privatização da Eletrobras, durante o governo Bolsonaro.

Além de necessárias, as sugestões das comunidades tradicionais signatárias da carta mostram-se inteligentes, viáveis e vantajosas para o país. Só a sexta medida, por exemplo, permitiria uma economia aos cofres públicos de R$117 bilhões de reais, recurso que poderia financiar a aceleração da transição energética justa mencionada no documento.

Continuaremos cobrando ações nesse sentido, até que o bem-estar da população prevaleça sobre o lobby das companhias multibilionárias de petróleo, gás e carvão.

Assine nossa petição e peça o fim dos leilões de combustíveis fósseis

##

Livia Lie – Digital Campaigner da 350.org América Latina