Ao longo dos próximos 3 dias, a África do Sul sediará a 10ª cúpula do bloco BRICS, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com a presença confirmada de autoridades de alto escalão de governo, um dos principais tópicos da reunião deveria ser como os países em desenvolvimento, mais afetados pela transferência de investimentos em projetos de petróleo e gás provenientes do Norte Global, devem priorizar uma transição rápida e justa para uma economia com baixas emissões de carbono, a fim de alcançar as metas globais de combate ao maior desafio dos últimos tempos: as mudanças climáticas.

A Cúpula de Líderes do BRICS é convocada anualmente com discussões que representam esferas de coordenação política e socioeconômica, nas quais os países-membro identificam oportunidades de negócio, complementaridades econômicas e áreas de cooperação. Este ano, um dos principais focos é “alavancar a Estratégia para a Parceria Econômica do BRICS buscando o crescimento inclusivo e o avanço da 4ª Revolução Industrial.” Mas, na prática, o que isso significa para os países do BRICS, e como será implementado?

Atualmente, algumas das regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas estão nos países do BRICS. Nos últimos anos, somente o continente africano sofreu inundações catastróficas, uma crise hídrica em uma grande cidade e uma tendência de migração trans-continental arriscada devido à instabilidade criada pelas circunstâncias climáticas.

Tempestades de areia e trovoadas atingiram partes do Rajastão, Uttar Pradesh e outras regiões vizinhas na Índia, matando mais de 120 pessoas e ferindo pelo menos 300. No leste da Ásia, 55 mil famílias foram afetadas pelo tufão Maria em julho. No sul da Rússia, chuvas fortes e inundações que ameaçaram uma barragem na região de Stavropol levaram à evacuação de alguns milhares de pessoas no final de maio do ano passado.

No Brasil, enquanto o governo nacional ainda prioriza medidas para atrair investimentos em combustíveis fósseis, expandindo a fronteira de exploração a cada ano, o Nordeste, a região mais vulnerável às mudanças climáticas, vem enfrentando uma seca severa há mais de seis anos. No ano passado, São Paulo, a cidade mais populosa do país, experimentou sua maior crise no abastecimento de água. Além disso, várias cidades na fronteira receberam refugiados climáticos de nações vizinhas, levando a uma crise ainda mais profunda de saúde, moradia, emprego e justiça social.

Um estudo recente sobre a ajuda por parte de bancos de desenvolvimento regionais e multilaterais em 10 países mostrou que a China foi o país que mais contribuiu para o setor de energia, fornecendo US$ 5 bilhões por ano. Destes, 88% foram gastos com combustíveis fósseis. No continente africano, não apareciam quaisquer financiamentos em projetos renováveis. Quase três quartos do valor total foi destinado para apoiar a extração de petróleo e gás, e outros 13% apoiaram a geração de energia a carvão.

Isso mostra uma falta de consistência e responsabilidade dentro das estruturas do BRICS, colocando em questão a credibilidade de seu compromisso com a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. A intensidade energética é um desafio fundamental para todas as economias dos BRICS: China, Rússia e África do Sul têm as economias mais intensivas em energia no grupo. Essa trajetória de crescimento contínuo destaca oportunidades de melhoria através da implantação de medidas de eficiência energética, bem como busca diversificar a matriz energética a fim de atender às necessidades das populações.

Os BRICS podem ser líderes em energias renováveis e, ao mesmo tempo, mitigar os impactos das mudanças climáticas em suas economias. A 4a Revolução Industrial afetará profundamente a natureza da geração de energia e o acesso a ela. O Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS deve comprometer-se a criar um ambiente propício para que as energias renováveis prosperem e se abstenham de investir em novos projetos de combustíveis fósseis em todos os países do bloco.