Foram três dias de encontro, entre 14 e 16 de dezembro, e muitos debates sobre temas como saúde, educação e territórios. Comunidades indígenas de várias partes da região sul do país representaram suas etnias, como os Guarani Mbyá, Xokleng e os Kaingang. Divididos em grupos de trabalho, os participantes redigiram um documento final contendo as reivindicações dos povos, que será encaminhado à coordenação-executiva da Articulação dos Povos indígenas do Brasil (APIB), como uma forma de posicionar a região sul na luta por direitos dentro do movimento nacional. A defesa dos territórios indígenas contra a exploração de gás pelo método do fracking consta como um dos pontos principais do documento final.

“Várias questões que a gente debateu aqui são problemas compartilhados por todos os povos indígenas do Brasil. E nós, povos indígenas do sul do país, necessitávamos desse espaço para rearticularmos nossas bases e poder fazer enfrentamentos de forma mais robusta”, afirmou Marcos Kaingang, estudante universitário e um dos organizadores do ATL Sul.

Outro ponto importante dentro dos debates foram os arrendamentos de terra, que estão causando problemas sérios a muitas comunidades indígenas. “Precisamos organizar nossa estratégia de luta contra essas práticas anti-indígenas para reafirmarmos a preservação do nossos territórios”, defendeu Marcos Kaingang.

Segundo o cacique Kretã Kaigang, coordenador da APIB para a região Sul, diversas terras indígenas estão sob ameaça por causa desta prática – especialmente com a propensão do governo a apoiar uma Medida Provisória que autoriza o arrendamento de terras indígenas. “Somos contra o arredamento, mas temos uma proposta a apresentar para que as terras indígenas sejam preservadas, com respaldo técnico. O arrendamento causa conflitos internos em aldeias, expulsão de famílias, gerando uma série de problemas sociais”, afirma Kretã, que também é integrante da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS), e coordenador para assuntos indígenas da 350.org Brasil.

Para Abílio Padilha, liderança Kaingang da Terra Indígena Borboleta (RS), esses encontros são importantes para fortalecer a resistência às opressões que os povos indígenas vêm sofrendo.“Os encontros que a gente faz dão sustentação e uma injeção de ânimo para continuarmos a lutar cada vez mais. As ameaças vêm de tempos atrás, pelo massacre físico, exclusão e agora, de maneira mais refinada, pelo papel e caneta”, afirma o líder Kaingang.

Alerta sobre o fracking

Kretã Kaingang fez uma apresentação ao público sobre o perigo da exploração do gás de xisto pelo fraturamento hidráulico, ou fracking, e mostrou como o método ameaça a vida de todos, não só das comunidades indígenas. “Foi assustador para as comunidades indígenas ver o que as empresas petrolíferas podem fazer quando entram nos territórios para exploração de nossos recursos energéticos. É de fundamental importância esse trabalho de conscientização das comunidades para criarmos uma frente de luta contra o petróleo, gás e carvão”, reforça o cacique.   

O evento aconteceu na comunidade Goj Vêso, do povoKaingang, um espaço de retomada onde foi a antiga sede da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no município de Iraí – uma cidade onde a resistência indígena pela retomada de territórios é histórica. “A importância desse primeiro ATL Sul é formar unidade. Estamos buscando união entre todos os povos e etnias para reforçar nossa luta”, diz Kretã Kaigang.

Lideranças Terena e Guarani-Kaiowá também participaram do encontro e trouxeram visões sobre a situação dos indígenas no Mato Grosso do Sul, estado conhecido pela forte oposição aos direitos dos povos originários.