13 outubro, 2020

350.org pede a bancos públicos em todo o mundo que assumam seu papel em uma recuperação justa

Antes da primeira cúpula internacional de instituições financeiras públicas, grupos da sociedade civil exigem o fim do financiamento fóssil e o cancelamento da dívida colonial

 

Global, 13 de outubro – Daqui a um mês, os bancos públicos de desenvolvimento e outras instituições financeiras de todo o mundo terão a oportunidade única de liderar o caminho para um futuro melhor, mais justo e mais limpo para todos. 

A Cúpula Finance in Common (FiC), convocada pela Agência Francesa de Desenvolvimento (Agence Française de Développement), será realizada em Paris, de 10 a 12 de novembro. Cerca de 450 bancos, que controlam ao redor de US$ 2 trilhões em dinheiro público, se reunirão com o objetivo de declarar o compromisso de alinhar suas políticas às metas de clima, desenvolvimento sustentável e biodiversidade.

“A crise climática exige que o planeta fique abaixo do limite de 1,5ºC do aquecimento global, e a única maneira de fazer isso é nos afastando rapidamente da produção e do uso de combustíveis fósseis. Precisamos que as instituições financeiras públicas sejam as primeiras a impulsionar essa transição”, afirma Clémence Dubois, líder da 350.org na França.

Ela explica que os bancos de desenvolvimento têm o poder de promulgar políticas e direcionar fundos para uma recuperação justa, mas estão ficando para trás. 

“Especialmente em meio a uma emergência econômica e sanitária, o dinheiro público deve ser usado para impulsionar soluções que criem novos empregos e apoiem as pessoas mais impactadas. As instituições financeiras públicas precisam prestar contas à sociedade, afinal, é o nosso dinheiro, e o uso desses recursos tem influência em nossas vidas e em nosso futuro”, diz Dubois.

Diversos governos e instituições financeiras públicas estão indo na direção errada, no que se refere a investir o dinheiro público em ações que criem empregos e, ao mesmo tempo, ajudem a superar a crise climática. Um relatório recente mostra que os governos do G20 ainda fornecem US$ 77 bilhões por ano em dinheiro público para carvão, petróleo e gás. 

No entanto, algumas instituições já se comprometeram a excluir o financiamento público dos combustíveis fósseis, como o Banco Europeu de Investimento (BEI), o Swedfund, da Suécia, e a AFD, a Agência Francesa de Desenvolvimento. A cúpula de novembro trará a oportunidade para que todas as instituições financeiras sigam esse caminho e alcancem um padrão mínimo de responsabilidade, como parte de seus esforços para se alinharem ao Acordo de Paris.

As organizações da sociedade civil estão exigindo compromissos ambiciosos, que apóiem ​​uma transição justa para longe dos combustíveis fósseis e protejam os trabalhadores, os cidadãos, as comunidades e o meio ambiente. 

Essa liderança por parte das instituições públicas e multilaterais de financiamento ao desenvolvimento é cada vez mais importante, em um momento em que governos de diversos países se preparam para investir enormes somas de recursos públicos em resposta aos danos econômicos e sociais provocados pela pandemia da COVID-19. A exclusão do apoio aos combustíveis fósseis será um sinal claro para outros atores financeiros de que a transição energética já está em andamento.

Os dias entre 10 e 16 de outubro marcam também a Semana Global de Ação para Cancelamento da Dívida Externa. A iniciativa é promovida por diversas organizações e movimentos em diferentes regiões do globo e chama a atenção para o problema da dívida externa pública, que há muitas décadas impacta negativamente os países em desenvolvimento. Consequência da colonização, o peso financeiro da dívida sobre os países mais pobres do mundo ganhou um novo enfoque durante a pandemia, com vários países ricos e instituições financeiras abrindo-se para um discussão sobre o tema. 

“Quando as principais instituições financeiras emprestam dinheiro aos governos para desenvolverem projetos de combustíveis fósseis, elas estão destruindo o clima, enfraquecendo os processos democráticos e as leis, aprofundando a pobreza e a desigualdade e violando os direitos humanos. Mais do que isso, estão amarrando as gerações jovens e futuras à escravidão da dívida. Não podemos ter justiça climática e uma recuperação justa sem justiça da dívida”, afirma Alex Lenferna, ativista da 350.org na África.

Como explica Lenferna, a dívida contraída para financiar projetos de combustíveis fósseis leva ao caos climático e é totalmente ilegítima. “As instituições financeiras públicas devem cancelar essas dívidas e não permitir novas”, conclui.

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Contato para a imprensa

Nathália Clark
Comunicação da 350.org
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