11 maio, 2022

350.org reage a planos do Centrão de impor ao país milhares de quilômetros de gasodutos

Descoberta do jornal o Estado de S. Paulo mostra desconexão de parte do Congresso com a realidade global e reforça a ligação histórica entre o setor de combustíveis fósseis e o mau uso do dinheiro público

 

Print da reportagem publicada pelo Estadão. Crédito da foto da reportagem: Cigás.

 

A 350.org vem a público expressar sua veemente reprovação à tentativa de um grupo de parlamentares de impor ao país a construção de milhares de quilômetros de gasodutos, conforme revelado por reportagem publicada nesta terça-feira (10/05) pelo repórter André Borges, em matéria exclusiva do jornal O Estado de S. Paulo.

De acordo com o Estadão, “o Centrão opera no Congresso Nacional” para aprovar um projeto que destinaria R$ 100 bilhões a um fundo para bancar uma rede de gasodutos conhecida como Brasduto.

“A articulação prevê que seja incluído um “jabuti” – termo usado para se referir a emendas que não têm relação com propostas originais – no Projeto de Lei 414, texto que trata de medidas de modernização do setor elétrico”, informa a reportagem.

O Estado de S. Paulo ainda aponta que a proposta “cai como uma luva para viabilizar projetos do empresário Carlos Suarez e seus sócios – hoje os únicos donos de autorizações para distribuir gás em oito Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste”.

Fica evidente, a partir da leitura da reportagem, que o plano do Centrão contraria os compromissos climáticos do Brasil no plano internacional. Caso se concretize, a expansão do uso do gás, ainda mais na dimensão prevista, intensificará a crise climática, que já prejudica milhões de pessoas em nosso país e em todo o mundo. Também agravará a perda de credibilidade do Brasil frente a investidores, organizações multilaterais e demais nações.

Além disso, o investimento em combustíveis fósseis contraria o interesse nacional de garantir segurança energética baseada em fontes limpas, renováveis e socialmente justas. Diversos estudos comprovam que aderir à transição energética, substituindo petróleo, gás e carvão por fontes como a solar e a eólica, pode trazer benefícios econômicos e sociais como a geração de empregos, a melhoria das condições de vida das comunidades vulneráveis e a proteção ao meio ambiente local e ao clima global.

Outro aspecto absurdo da articulação descrita pelo jornal é que a tentativa de alocação de recursos baseia-se em uma inclusão tardia da proposta em um projeto de outra natureza, além de ser uma medida que beneficia essencialmente um pequeno grupo de empresários previamente conhecidos. Trata-se, portanto, de uma afronta a princípios como o respeito ao debate parlamentar, a transparência e a impessoalidade.

“A articulação por mais gasodutos mostra que uma parte considerável do Congresso está completamente desconectada da realidade global, da expectativa da sociedade por mais ética na política e das próprias necessidades da população”, afirma Ilan Zugman, diretor da 350.org na América Latina.

Imediatamente após sua revelação, a manobra do Centrão recebeu críticas de ambientalistas, especialistas do setor energético e empresários. 

Para o diretor da 350.org, a resistência da sociedade civil à articulação por mais gasodutos expõe o cansaço dos brasileiros com os privilégios que parte dos políticos oferece às empresas de combustíveis fósseis.

“Os parlamentares que tentam impor a expansão de gasodutos estão, na verdade, abrindo mais um capítulo de uma longa história de mau uso do dinheiro público em projetos desse setor”, afirma Zugman.

“É papel dos congressistas sérios impedir a farra dos gasodutos, para evitar que esses bilhões de reais, que deveriam impulsionar a transição energética e o desenvolvimento do país, acabem no bolso de alguns poucos empresários”, ele conclui.

 

Contato para a imprensa

Peri Dias
Comunicação da 350.org na América Latina
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