25 fevereiro, 2021

Bancos comerciais ampliam financiamento ao carvão

Apesar de seu discurso de sustentabilidade, bancos comerciais de todo o mundo estão canalizando ainda mais recursos para a produção e o consumo de carvão, desde a assinatura do Acordo de Paris, em um movimento oposto ao que deveriam fazer para reduzir as emissões de gases causadores da crise climática. 

É o que revela a pesquisa Lista Global de Saída do Carvão (GCEL), divulgada nesta quinta-feira (25), pela organização não-governamental alemã Urgewald e por um grupo de mais de 25 ONGs, incluindo a 350.org. 

O estudo mostra que, em 2016, ano em que o Acordo de Paris entrou em vigor, os bancos forneceram US$ 491 bilhões, por meio de empréstimos e subscrições, a empresas da cadeia de valor do carvão termal. Em 2019, esse montante havia crescido para US$ 543 bilhões, um aumento de cerca de 11%.

Essa alta ocorreu porque, embora os empréstimos diretos para empresas de carvão tenham alcançado um pico em 2017, com tendência de queda nos dois anos seguintes, a subscrição de ações e títulos de empresas da indústria do carvão tem crescido constantemente desde 2016. 

Os bancos comerciais, porém, não estão sozinhos no financiamento a um dos setores que mais contribuem para o aquecimento global. Em janeiro de 2021, 4.478 investidores institucionais detinham investimentos que totalizavam US$ 1,03 trilhão em empresas que operam ao longo da cadeia de valor do carvão térmico em todo o mundo. 

Entre os investidores cobertos pela pesquisa estão fundos de pensão, fundos mútuos, gestores de ativos, seguradoras, bancos comerciais, fundos soberanos e outros tipos de investidores institucionais.

A Lista Global de Saída do Carvão também revelou as instituições financeiras campeãs em apoio ao setor carbonífero. Os bancos japoneses são os principais responsáveis por empréstimos às empresas de carvão, enquanto companhias dos Estados Unidos detêm 58% dos investimentos institucionais. Já no ranking das subscrições, destacam-se instituições financeiras de China, Japão e Índia.

Veja aqui mais detalhes sobre os maiores financiadores globais do carvão.

Aspas

Katrin Ganswindt, chefe de pesquisa financeira da Urgewald:

“Nos últimos anos, o escopo de nossa pesquisa financeira ficou limitado a cerca de 200 desenvolvedores de usinas de carvão. Nessa nova pesquisa, no entanto, analisamos os fluxos financeiros para todas as 934 empresas na Lista Global de Saída do Carvão. Esta é a primeira vez que alguém tenta analisar a exposição de bancos comerciais e investidores institucionais a toda a indústria do carvão”.

“Embora o governo do Reino Unido tenha anunciado recentemente que encerrará o financiamento público para projetos de combustíveis fósseis no exterior em 2021, a maioria dos investidores institucionais do Reino Unido nem mesmo começou a expulsar o carvão de suas carteiras. A menos que façam o dever de casa logo, a COP26, que será sediada no Reino Unido, se tornará um grande constrangimento para essas instituições”.

 Eri Watanabe da 350.org Japan

“As políticas ambientais para carvão adotadas pelos bancos japoneses estão entre as mais fracas do mundo. Elas cobrem apenas uma pequena parte dos empréstimos bancários e não excluem empréstimos corporativos ou subscrição para empresas que ainda estão construindo novas usinas de carvão em lugares como Japão, Vietnã e Filipinas. Os bancos japoneses devem parar de jogar combustível na fogueira da crise climática e adotar políticas abrangentes de exclusão do carvão”.


Yossi Cadan, gerente da campanha de finanças globais da 350.org.

“Diante da perspectiva de uma recessão global, o investimento em infraestrutura de energia a carvão ficará ainda mais arriscado, tanto para quem empresta quanto para quem toma o crédito. Enquanto o mundo adota os benefícios da energia renovável, limpa e acessível, os projetos de carvão tendem a atrelar os países que neles investem a uma infraestrutura de combustível fóssil suja, perigosa e cara, que está desatualizada”. 

“Os investimentos em energia renovável podem ser uma grande força na recuperação econômica, porque geram retornos decentes e aumentam as oportunidades de emprego”.

“É hora de o ICBC avaliar corretamente os riscos implicados em seus investimentos e parar de financiar projetos de carvão”.

Chuck Baclagon, ativista de finanças da 350 Ásia:

“Enquanto a demanda por carvão está caindo nos Estados Unidos e na Europa, o uso de carvão está crescendo na Ásia. Porém, Japão e China estabeleceram metas de emissão líquida zero elevadas, que só conseguirão alcançar se mostrarem empenho em uma eliminação gradual e controlada dos combustíveis fósseis. Os bancos desses dois países precisam apoiar as metas climáticas nacionais, retirando os investimentos em carvão não apenas dos seus países, mas também no exterior, pois é para lá que a maior parte de seus investimentos é direcionada. O desastre climático é agora, não está no futuro líquido zero”.

 

Yann Louvel, analista de políticas da ONG Reclaim Finance:

“Precisamos de políticas abrangentes e imediatas de abandono do carvão. Seguradoras como AXA, bancos como Crédit Mutuel, UniCredit e Desjardins ou gestores de ativos como Ostrum já mostraram o que deve ser feito, ao excluir de suas carteiras a maioria das empresas que estão na Lista Global de Saída do Carvão”. 

“Agora é a hora de o setor financeiro agir. Uma saída rápida do financiamento e do investimento em carvão não é apenas viável e desejável, mas uma questão de sobrevivência”.


Notas aos jornalistas
  • A Lista Global de Saída do Carvão é um banco de dados abrangente de empresas que operam ao longo da cadeia de valor do carvão térmico. É produzida anualmente pela Urgewald e pode ser vista em www.coalexit.org.
  • A pesquisa foi realizada pela Profundo, uma empresa de pesquisa sem fins lucrativos com sede na Holanda. Eles usaram várias bases de dados financeiras, incluindo Bloomberg, Refinitiv Eikon e IJGlobal para compilar os dados para este projeto. Essas bases de dados, no entanto, relatam apenas empréstimos sindicados, ou seja, empréstimos que são fornecidos por um grupo de bancos a uma empresa individual. Esses bancos de dados financeiros não relatam empréstimos bilaterais, em que uma empresa toma dinheiro emprestado de apenas um banco, em vez de um grupo de credores. Uma parte significativa dos empréstimos dos bancos comerciais, ou seja, todos os empréstimos bilaterais a empresas apresentadas no GCEL, não é, portanto, capturada por nossos dados.
  • Os dados também apresentam limitações do lado do investidor, uma vez que muitos fundos de pensão e seguradoras não informam sobre suas participações. Embora os dados de participação acionária sejam geralmente mais completos, nossa pesquisa provavelmente captura menos de 1/3 dos títulos que os investidores institucionais detêm em empresas de carvão. Portanto, é provável que os números de empréstimos de bancos comerciais para a indústria do carvão e as participações de títulos de investidores institucionais na indústria do carvão sejam significativamente mais altos do que mostra nossa pesquisa.

Contato para a imprensa

Peri Dias
Comunicação da 350.org na América Latina
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