Com crescimento 120 vezes maior do que quatro anos atrás, segundo relatório, movimento pede a investidores que cheguem a $10 trilhões até 2020, para estar em conformidade com o Acordo de Paris
Global — O movimento global de desinvestimento de combustíveis fósseis divulgou um novo relatório na noite desta segunda-feira (10), mostrando um incrível aumento de escala e impacto para o crescente movimento. De acordo com o relatório “Movimento Global de Desinvestimento de Combustíveis Fósseis e Investimento em Energia Limpa”, compilado pela Arabella Advisors, investidores com $6.25 trilhões de dólares em ativos se comprometeram a desinvestir de combustíveis fósseis — um considerável aumento de 120 vezes em relação aos montante de $52 bilhões de dólares de quatro anos atrás.
“O desinvestimento de combustíveis fósseis se tornou um fenômeno global”, disse May Boeve, Diretora-executiva da 350.org. “O ano de 2018 tem sido um avanço para o movimento, com novos compromissos de desinvestimento de Nova York, toda a Irlanda e centenas de outras conhecidíssimas instituições. À medida que vemos a devastação dos impactos do clima se espalhando em todo o mundo, a sociedade se afasta rapidamente dos combustíveis fósseis. Está hora de os políticos seguirem esse caminho”.
Desde que foi lançado por estudantes como um apelo moral à ação climática em 2011, o movimento de desinvestimento de combustíveis fósseis cresceu imensamente em impacto e escopo, com novos compromissos de desinvestimento de diversas instituições, que vão desde associações médicas até instituições religiosas e museus, para abandonarem os patrocínios de empresas de combustíveis fósseis.
Em 2018, o movimento também viu um novo crescimento fora dos Estados Unidos e da Europa, com compromissos de desinvestimento do Brasil, Índia e África do Sul. A 350.org e seus parceiros estão planejando uma Conferência Global de Desinvestimento na África do Sul em 2019, para gerar ainda mais compromissos de instituições em todo o Sul Global.
O relatório foi anunciado em um evento organizado pelo Wallace Global Fund após a mobilização global Una-se pelo Clima e pouco antes da Cúpula Global de Ação Climática que ocorre em São Francisco a partir do dia 12. O evento contou com palestrantes de alto nível, incluindo Jeremy Grantham, que é um investidor mundialmente conhecido, a ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, e uma mensagem em vídeo do prefeito de Nova York, Bill de Blasio.
No evento, o movimento de desinvestimento apresentou um novo e ousado desafio: para que os investidores atinjam $10 trilhões de dólares em ativos desinvestidos até 2020, a fim de cumprir as metas do Acordo de Paris. O movimento também pediu aos investidores que estabeleçam um prazo para os esforços de “envolvimento” com a indústria e se comprometam a desinvestir se as empresas se recusarem a mudar até 2020.
“Os investidores devem estar em conformidade com o Acordo de Paris, e não apenas com os governos”, disse Ellen Dorsey, Diretora Executiva do Wallace Global Fund. “Hoje, nosso movimento promete aumentar os ativos globais desinvestidos para $10 trilhões de dólares até 2020, para ter uma chance de lutar pelas metas do Acordo de Paris. Os investidores também devem se comprometer a ter pelo menos 5% de seu portfólio investido em soluções climáticas para ajudar a escalar rapidamente para energias 100% renováveis, livres e com acesso universal. Para os investidores que persistem em se envolver com o setor, pedimos que definam 2020 como o limite de tempo para isso. Se as empresas não puderem ou não quiserem produzir planos de transição energética, os investidores devem desinvestir ou serão responsáveis pelas mudanças climáticas e seus impactos.”
Veja abaixo alguns dos destaques do relatório.
Segundo o novo relatório, 2018 é um ano de muitas novidades para o movimento de desinvestimento:
- Hoje, Londres e Nova York, os centros financeiros do mundo, estão jogando seu peso no novo Divest-Invest Cities Forum. O fórum, liderado pelo C40, trabalhará com outras cidades ao redor do mundo para desinvestir dos combustíveis fósseis e investir em soluções climáticas que aumentem o índice de emprego local e a resiliência.
- Em julho, a Irlanda se tornou a primeira nação do mundo a desinvestir dos combustíveis fósseis. “Estou feliz pela Câmara dos Representantes da Irlanda ter votado em se tornar o primeiro país a desinvestir formalmente dos combustíveis fósseis”, disse Thomas Pringle, parlamentar irlandês independente que impulsionou o projeto de desinvestimento de $8,9 bilhões de euros do fundo de investimento nacional ($10,4 bilhões de dólares). “Isso mostra que nossa nação está pronta para pensar e agir tendo em mente muito mais do que os interesses limitados e de curto prazo.”
- No início deste ano, o prefeito Bill de Blasio também anunciou um plano para desinvestir o fundo de pensão de 189 bilhões de dólares de Nova York de empresas de combustíveis fósseis dentro de cinco anos. Este anúncio segue ações semelhantes de anos anteriores em Berlim, Paris, Copenhague, Nova Zelândia e Sidney.
- Os médicos também estão desinvestido, com a Associação Médica Americana, o Colegiado Real de Clínicos Gerais (Royal College General Practitioners) e a Associação Australiana de Estudantes de Medicina assumindo compromissos no último mês. “As mudanças climáticas são a maior ameaça global à saúde deste século. Como futuros médicos da Austrália, queremos investir em um futuro saudável porque sabemos que há mais na medicina do que simplesmente tratar doenças quando nossos pacientes já estão doentes. Parte da cura para as mudanças climáticas é uma rápida transição dos combustíveis fósseis para energias renováveis limpas e baratas”, disse Alex Farrell, presidente da Associação Australiana de Estudantes de Medicina.
- Os compromissos de organizações religiosas estão crescendo com o apoio do Papa Francisco, com 132 novos compromissos desde 2016. Hoje, saudamos o primeiro desinvestimento da Índia pela Cáritas Índia.
- Os museus estão se mexendo, com o Museu Canadense de História, o Museu Van Gogh em Amsterdã e dois museus em Haia concordando em abandonar os patrocínios de companhias de combustíveis fósseis este ano. Eles se juntam ao Museu Tate, Museu da Ciência de Londres, Museu Americano de História Natural, ao Conservatório Phipps e outros antes deles.
Os compromissos filantrópicos estão crescendo. A maior fundação comunitária da Austrália também se comprometeu a desinvestir: “A Fundação Australiana de Comunidades se orgulha de fazer parte deste compromisso importante de investir nosso corpus em um mundo saudável e sustentável. Como a maior e mais antiga fundação comunitária da Austrália, esperamos inspirar outras pessoas a se juntarem ao movimento Divest-Invest,” disse, Maree Sidey, Presidente da Fundação Australiana de Comunidades.