7 julho, 2023

Com inauguração de gasoduto, Argentina anda para trás na transição energética

Estrutura de transporte de gás amplia danos econômicos e socioambientais que a extração de combustíveis fósseis provoca no país e agrava a crise climática global

 

BUENOS AIRES – Neste domingo, 9 de julho, dia da Independência da Argentina, o governo do presidente Alberto Fernández inaugura o Gasoduto Néstor Kirchner, que conectará o maior mercado consumidor argentino, a província de Buenos Aires, à principal área de produção de petróleo e gás do país, a província de Neuquén, onde se encontra a reserva de combustíveis fósseis de Vaca Muerta.

Realizado sem levar em conta as audiências públicas e as legítimas preocupações das comunidades afetadas, o gasoduto reforça a falsa narrativa de progresso econômico que o governo argentino e o setor empresarial pretendem instalar a respeito de Vaca Muerta e agrava os danos socioambientais provocados pelos setores de petróleo e gás no país.

“O gasoduto é o símbolo do compromisso com um modelo econômico e energético inviável, que reproduz desigualdades e tem altíssimo impacto social, ambiental e climático”, aponta a ativista argentina María Victoria Emanuelli, coordenadora de campanhas da 350.org América Latina.

Ela afirma que, ao optar pela expansão dos combustíveis fósseis, a Argentina perde mais uma vez a oportunidade de construir um papel de destaque na transição energética e de atrair investimentos em setores mais promissores, como o das energias renováveis.

“Vaca Muerta é uma das maiores bombas de carbono do mundo. As empresas, bancos e governos envolvidos na atividade de petróleo e gás na Argentina estão afirmando a cada dia, com suas ações, que seus lucros importam mais do que o desenvolvimento sustentável do país e do planeta”, diz Emanuelli.

Impactos do gasoduto

Antes da construção do gasoduto, foram realizadas audiências públicas para ouvir as vozes das comunidades afetadas, como a de Macachín, na província de La Pampa. No entanto, o resultado dessas audiências não era vinculante, ou seja, o governo considerou-se autorizado a continuar as obras sem levar em conta as demandas da população pelo fim da expansão do petróleo e do gás. Essa falta de transparência e participação cidadã viola os princípios democráticos e o respeito aos direitos fundamentais dos indivíduos.

Outro impacto preocupante desse empreendimento foi a derrubada maciça de árvores nativas. Jornalistas da região retrataram o impacto do desmatamento para as populações e o ecossistema local, que sofreu danos irreparáveis.

O dano de maior escala provocado pelo gasoduto, porém, é o estímulo à ampliação da produção de petróleo e gás em Vaca Muerta.

Estudo divulgado em outubro de 2022 pela 350.org e pela consultoria Profundo revelou que, se for queimado todo o petróleo e gás contido na Bacia de Neuquén, que tem em Vaca Muerta uma de suas principais jazidas, o volume de CO₂ lançado na atmosfera será equivalente a 11,4% do “orçamento global” até 2050, ou seja, de todo o CO₂ que pode ser emitido, se a humanidade quiser limitar o aquecimento global a 1,5 °C e, assim, evitar os piores cenários da crise climática.

Os danos ambientais de Vaca Muerta também incluem vazamentos frequentes de petróleo e gás em áreas de extração, com risco permanente de contaminação de água e solo, além da ampliação da frequência de terremotos em regiões onde vivem milhares de famílias. Para extrair os combustíveis, utiliza-se

Vaca Muerta tem sido desastrosa também do ponto de vista econômico. A província de Neuquén, centro da exploração de petróleo e gás na Argentina, continua a ser uma das mais pobres e endividadas do país. Nos municípios onde o fracking é utilizado, há milhares de famílias sem acesso, inclusive, ao próprio gás obtido na região, que precisam usar lenha para aquecer suas casas. Além disso, as operações das empresas em Vaca Muerta dependem, há anos, de substancial apoio do governo federal.

Contato para a imprensa

Peri Dias
Comunicação da 350.org na América Latina
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