11 fevereiro, 2019

Entenda a importância da atuação de ONGs internacionais em tragédias como a de Brumadinho (MG)

A participação auxilia na transparência de informações e fornece apoio à associações e comunidades locais

Dar voz aos atingidos, auxiliar na transparência das informações e também fornecer apoio técnico, administrativo, jurídico e humanitário às organizações locais. Este é o papel que as organizações não governamentais internacionais têm ao acompanhar grandes tragédias que vem acontecendo no Brasil. Após o rompimento de uma barragem da Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), uma equipe da 350.org Brasil foi acompanhar e dar poder às organizações locais. “Para a construção coletiva de uma sociedade autônoma e sustentável isso é imprescindível. E, pelo que tenho acompanhado aqui, isso tem acontecido de uma forma muito efetiva”, conta o gestor ambiental e campaigner da organização, Renan Andrade.

Andrade, que tem como função organizar campanhas informativas, ministrar cursos, treinamentos e atuar na mobilização de atores sociais, instituições públicas e privadas em busca do desenvolvimento sustentável e autônomo das comunidades, afirma que as ONGs têm garantido que as comunidades atingidas por esta e outras tragédias “não fiquem à mercê de governos e empresas que, em conluio, violam os direitos humanos e ambientais”.

Durante sua atuação em Brumadinho (MG), o gestor ambiental que já trabalha em conjunto com a sociedade civil há mais de 15 anos, avalia que a cidade é muito dependente da mineração e, por isso, a cidade vai sofrer significativamente os impactos da paralisação das atividades. “Todas as pessoas de uma cadeia produtiva e de consumo serão afetadas. O tempo para se recompor não será curto e dependerá muito da mobilização da sociedade civil organizada, bem como da mobilização da Vale – que cometeu o crime, e do governo – que corroborou para que isso acontecesse”, explica.

“Como, neste momento, as empresas costumam acionar protocolos para desmobilizar as forças populares que agem contra seus interesses – desarticulando movimentos socioambientais e cooptando lideranças locais para desestabilizar lutas – as organizações internacionais devem estar lado a lado compondo essas fileiras de lutas com as locais de base, que certamente estarão cobrando posturas adequadas dos poderes públicos e da empresa, como o Movimento Águas e Serras de Casa Branca/Brumadinho e o Justiça nos Trilhos, que há muito tempo vem denunciando os desmandos, incompetência e inoperância da Vale em todo o país e fora dele”, destaca Andrade.

 

Outras lutas

“Normalmente, nossos trabalhos são mais técnicos, fazemos visitas e denúncias, nas quais entendemos a dimensão do que acontece e mensuramos os impactos na vida das pessoas e do meio ambiente, para então cobrarmos às autoridades a reparação dos danos socioambientais”, relata. A equipe, que esteve presente em casos como o recente vazamento de mais de 60 mil litros de óleo da Transpetro na Baía de Guanabara (RJ) e nos poços de fracking na Argentina, percebe que alguns acontecimentos não ganham a mesma atenção e comoção por algumas peculiaridades, como o fato de envolver vidas humanas. “Não há tanta sensibilidade quando a natureza é maltratada, haja vista a incessante luta dos defensores de animais e ambientalistas”.

No entanto, Andrade acredita que exista uma relação entre todas as ações realizadas pela 350.org. “Qualquer uma dessas tragédias é, deliberadamente, uma violação dos direitos ambientais e humanos, cometidos por empresas que poderiam substituir tecnologias ultrapassadas por mais modernas a fim de minimizar e até anular os impactos socioambientais, com processos de gestão socioambiental participativos, nos quais a comunidade envolvida faça parte das tomadas de decisões. E, inclusive aí existe uma outra relação, pois ambas se baseiam em um modelo econômico exploratório que vê a natureza e as pessoas como mera mercadoria. Esses modelos tem nos levado à tragédias como essa e, se assim continuar, nos levarão a outras”, finaliza.

 

Sobre a 350.org Brasil

A 350.org foi fundada em 2008 por um grupo de amigos universitários nos Estados Unidos, juntamente com o autor Bill McKibben, que escreveu um dos primeiros livros sobre o aquecimento global para o público em geral, com o objetivo de construir um movimento climático global. O nome da 350 vem de 350 partes por milhão, que é a concentração segura de dióxido de carbono na atmosfera.

Nossas primeiras ações foram dias globais de ação que conectaram ativistas e organizações em todo o mundo, incluindo o Dia Internacional de Ação Climática em 2009, o Global Work Party em 2010, Moving Planet em 2011. A 350 rapidamente se tornou uma colaboração mundial de organizadores, grupos comunitários e pessoas comuns lutando pelo futuro.

Hoje, a 350 trabalha em campanhas de base em todo o mundo: da oposição às fábricas de carvão e megadutos até a criação de soluções de energia renovável e corte dos laços financeiros da indústria de combustíveis fósseis. Todo o nosso trabalho aproveita o poder das pessoas para desmantelar a influência e a infraestrutura da indústria de combustíveis fósseis.

 

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Paulinne Rhinow Giffhorn — jornalista da Fundação Internacional Arayara e da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS).

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