25 setembro, 2019

Oceanos e calotas de gelo serão comprometidos irreversivelmente se não acabarmos com os combustíveis fósseis agora, mostra IPCC

Cientistas alertam que o uso contínuo de combustíveis fósseis já está causando rápida elevação do nível do mar, declínio dos estoques de peixes e degelo do permafrost ártico

GLOBAL – O IPCC publicou hoje um relatório especial sobre Oceanos e Criosfera – ou seja, a cobertura de gelo em altas altitudes e nos pólos. As conclusões do relatório, apoiadas por representantes de governo reunidos em Mônaco, pintam um quadro sombrio de perda de ecossistemas e estresse hídrico, o que provavelmente levará a danos aos meios de subsistência em diversas partes do mundo e a deslocamentos massivos de população. O relatório confirma que, a menos que comecemos a eliminar os combustíveis fósseis imediatamente, as consequências da crise climática sobre os oceanos e as calotas de gelo que armazenam a maior parte da água doce do planeta serão devastadoras e atingirão sobretudo as famílias mais vulneráveis. 

“Manter a nossa dependência de combustíveis fósseis significa literalmente nos afogar. A menos que comecemos a reduzir substancialmente o uso de combustíveis fósseis agora e nos tornemos completamente livres de fósseis até 2050, no máximo, centenas de milhões de pessoas serão deslocadas devido ao aumento do nível do mar. Nossos ecossistemas marinhos, já sob estresse devido à poluição e à pesca excessiva, não serão capazes de lidar com a mudança climática descontrolada”, comentou Mahir Ilgaz, Coordenador de Pesquisa da 350.org.

Para Ilgaz, estamos destruindo a capacidade dos oceanos de atuar como sumidouros de carbono, o que amplia o risco de alterações climáticas desenfreadas.

“É tempo de acabar com essa loucura e preservar o que ainda temos. Isso significa promulgar políticas radicais para proteger os ecossistemas marinhos, parar qualquer novo empreendimento baseado em combustíveis fósseis e eliminar gradualmente os existentes”, afirma.

De acordo com a avaliação dos cientistas, as áreas mais vulneráveis a eventos climáticos extremos hoje também serão as mais afetadas no futuro. Há um risco significativo de que a combinação de secas prolongadas, aumento do nível do mar e diminuição das capturas de peixes acabe por forçar muitas comunidades das zonas costeiras a abandonar as suas casas. A pesca apoia a subsistência de 660 a 820 milhões de pessoas. Globalmente, prevê-se que o potencial máximo de captura de peixes diminua cerca de 16 a 25 por cento até ao final do século, se as emissões continuarem.

Outros riscos potenciais destacados no relatório, alguns menos prováveis do que outros, incluem a perturbação maciça das correntes oceânicas, a liberação de centenas de bilhões de toneladas de CO2 a partir do degelo do permafrost no Ártico e a propagação de zonas mortas nos oceanos.

Entre 20 e 27 de setembro, uma onda de manifestações globais pelo clima está levando milhões de pessoas às ruas para exigir uma ação climática imediata e radical, coerente com as  conclusões cientìficas e que nos permita alcançar o fim da era dos combustíveis fósseis. 

“Países localizados no Oceano Pacífico, como Tuvalu, as Ilhas Marshall e Kiribati têm um potencial muito limitado para a agricultura devido ao seu solo e dependem do oceano como fonte primária de proteína”, lembra Joseph-Zane Sikulu, especialista da 350.org em Campanhas Regionais do Pacífico.  

Além da pesca de subsistência, a agricultura e a pesca comercial são os setores que mais contribuem para o crescimento econômico do Pacífico, mas todos estão ameaçados pelo uso ininterrupto de combustíveis fósseis. 

“Temos travado uma batalha contínua contra poluidores como os nossos vizinhos, a Austrália, mas o Pacífico não vai recuar. Ao mesmo tempo em que governos como o autraliano continuam a ignorar a situação das pessoas que vivem na linha da frente dos efeitos da crise climática, o poder popular já tem alcançado resultados. Vamos responsabilizar os políticos e as empresas irresponsáveis pelo imenso dano que continuam a causar”, afirma Sikulu.

O relatório especial do IPCC sobre Oceanos e Criosfera é um dos dois relatórios publicados este ano como complementos ao relatório divulgado em outubro passado pelo mesmo painel de cientistas. O primeiro, um relatório especial sobre Terra e Mudança Climática, foi divulgado em agosto.

Em resposta ao relatório do IPCC divugado em outubro do ano passado, que mostrou que precisamos garantir que o aquecimento da Terra ficará limitado a 1,5°C em relação às temperaturas anteriores à Revolução Industrial, a 350.org desenvolveu o Dossiê do Povo por 1,5°C, que destaca 13 histórias de resistência local a combustíveis fósseis por parte de comunidades vulneráveis.

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Peri Dias
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