Era dia 22 de dezembro de 1988 quando Francisco Alves Mendes Filho, Chico Mendes, fora atingido com um tiro de escopeta no peito em sua casa, em Xapuri (AC), na presença de sua esposa e filhos.
As ameaças de morte a Chico eram constantes, muitos dos seus companheiros já haviam tido suas vidas tiradas, ele andava acompanhado por policiais, porém ele previa que dessa vez suas chances de sair vivo de uma emboscada era mínima, chegando a mencionar em entrevista semanas antes de seu assassinato.
Chico lutava pela Amazônia, era nascido e criado nos seringais, e entendia que a subsistência de sua comunidade dependia da preservação da floresta e das seringueiras nativas. Ele entendia que o avanço do desmatamento ameaçava a vida de todos da região.
“Os seringueiros, os índios, os ribeirinhos há mais de 100 anos ocupam a floresta. Nunca a ameaçaram. Quem a ameaça são os projetos agropecuários, os grandes madeireiros e as hidrelétricas com suas inundações criminosas.”, falou Mendes ao Jornal Brasil em sua última entrevista antes de seu assassinato. (entrevista completa aqui – via Pragmatismo Político)
Na luta pela preservação dos seringais, Mendes e seus companheiros utilizavam a tática da não-violência para impedir as derrubadas. Chamadas de “Empate”, manifestantes se reuniam diante dos peões e jagunços, com suas famílias, inclusive mulheres e crianças, e pediam para não desmatar argumentando a favor da vida dos povos das florestas. A tática dava certo e por ser uma forte liderança, ficou prometido de morte.
“Matador não é quem puxa o dedo no gatilho, mas quem provoca a morte”, falou Darly Alves da Silva um dos mandantes da morte de Chico Mendes em entrevista ao Fantástico.
Darly Alves da Silva e seu filho Darcy foram, julgados e ambos condenados e soltos após cumprirem 19 anos de prisão pelo assassinato do ambientalista. Em entrevista para o Fantástico em 2008, Darly argumentou, que foi Chico Mendes “quem se matou” porque “mexeu com todo mundo”. Chocante, mas essa é a mentalidade dos assassinos de defensores do meio ambiente.
Mais de 30 anos se passaram e a quantidade de “Chicos Mendes” assassinados nunca cessou. Segundo o último relatório da Global Witness, os assassinatos de ambientalistas dobraram nos últimos 15 anos. E o Brasil está sempre no topo da lista dos países que mais matam.
“É doloroso ver que ainda hoje, líderes como Chico Mendes, Wilson Pinheiro, Irmã Dorothy, tão importantes para as comunidades de base por levarem a consciência social e ambiental sejam mortos por inspirarem e mobilizarem a luta por justiça. 30 anos se passaram e ao invés de haver uma evolução no pensamento e uma abertura para o crescimento sustentável e justo, houve um aumento na incidência de ameaças e assassinatos. Isso precisa parar!”, afirmou Nicole Oliveira, diretora da 350.org para América Latina.
Em 2007 foi criado o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que gere 334 unidades de conservação espalhadas em todos os biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa, Pantanal e Marinho. E até hoje a luta, a vida e a morte de Chico continuam a ecoar e a inspirar a luta por justiça e consciência socioambiental, seus ideais, seu exemplo de resiliência ficarão para sempre como referência às novas gerações de defensores do clima e do meio ambiente. E é essa a diferença que faz Chico Mendes.
“Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Então eu quero viver. Ato público e enterro numeroso não salvarão a Amazônia. Quero viver.”, falou Chico Mendes no trecho final de sua entrevista ao Jornal Brasil.
Sobre a 350.org e as mudanças climáticas
A 350.org é um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Nossas ações vêm ao encontro de medidas que visem inibir a aceleração das mudanças climáticas pela ação humana, que incluem a manutenção das florestas.
Desde o início, trabalha questões de mudanças climáticas e luta contra os fósseis junto às comunidades indígenas e outras comunidades tradicionais por meio do Programa 350 Indígenas e vem reforçando seu posicionamento em defesa das comunidades afetadas por meio da campanha Defensores do Clima. Mais uma vertente das iniciativas apoiadas pela 350.org é da conjugação entre Fé, Paz e Clima.
Livia Lie – coordenadora de Campanhas Digitais da 350.org Brasil e América Latina, comunicóloga e Voluntária da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima Água e Vida.