Pode parecer contraditório, e de fato é. Em meio à maior crise de abastecimento de água já vivida por São Paulo, a capital financeira do Brasil enfrentou no último domingo, 18 de maio, uma tempestade de granizo poucas vezes vista na cidade. Por volta das 16h, moradores de diversos bairros se surpreenderam com pedras de gelo que em poucos minutos tomaram ruas e calçadas.

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Foto: Chuva de granizo no bairro da Aclimação, em São Paulo, por Stephanie Bevalaquia Monteiro.

 Após 32 dias sem chuvas, para surpresa de todos a tempestade de granizo aconteceu. O resultado foi alagamento, ruas interditadas e aeroportos fechados. Segundo Nicole Oliveira, líder de equipe para América Latina da 350.org, a explicação para um evento climático extremo como este é a mudança que o clima sofre em decorrência da interferência humana. “São Paulo, cada vez mais impermeabilizada por concreto e pela falta de áreas verdes, é o cenário ideal para as chamadas ilhas de calor, que deixam o clima mais favorável a eventos climáticos extremos como grandes enxurradas ou chuvas de granizo como a que aconteceu neste final de semana”.

Para se ter uma noção da magnitude do evento climático, no dia seguinte à tempestade a prefeitura retirou 310 toneladas de granizo das ruas da cidade.

“As mudanças climáticas não trazem somente o aumento da temperatura, como também ondas de calor e frio, intensa precipitação, enchentes, secas, entre outros extremos climáticos”, diz Nicole. Dados da comunidade científica mostram que enquanto a  temperatura média do planeta aumentou em 0,8ºC nos últimos 200 anos, o Brasil pode sofrer um aumento de até 6ºC nos próximos 100 anos.

Nicole lembra ainda que eventos como este não acontecem apenas em São Paulo, mas também em outras cidade do país. “Para lidar com as mudanças climáticas é preciso que o governo reaja com políticas públicas eficientes como a criação de áreas verdes e redução do transporte individual. É preciso se comprometer com a redução de gases de efeito estufa advindos principalmente do desmatamento, agronegócio e do setor energético. Sem isso a população sofrerá cada vez mais”.

   
Foto: Sistema Cantareira

Granizo versus crise de abastecimento de água
Surpreendente por si só, esse evento climático acontece ao mesmo tempo que a população paulistana sofre com a pior crise de abastecimento de água da história da cidade. O reservatório da Cantareira, responsável por abastecer grande parte de São Paulo, atingiu este mês o índice mais baixo da sua história, 8,2% de sua capacidade total. De acordo com dados da Agência Nacional de Águas, caso o regime de chuvas continue nos níveis atuais, pelo menos 14 milhões de pessoas poderão ficar sem água nos próximos meses.