Diversas passeatas ao redor do mundo avisam que, sim, vidas negras importam. Os protestos pela morte de George Floyd, João Pedro, e de tantas outras vítimas da violência policial, revelam os inúmeros desafios vividos pela população negra. E um deles está ligado, diretamente, às pautas do desenvolvimento sustentável, meio ambiente e mudanças climáticas. O único problema está em engajar uma comunidade que, como no caso de Gabriel Silva Santos, não sabe se quando saírem de casa vão voltar. 

Logo no começo do ano, um caso chamou a atenção, era a reunião do Fórum de Economia em Davos. Jovens chamavam a atenção dos governos contra a crise climática. Entre os ativistas estava a ugandesa, Vanessa Nakate, de 23 anos, a única pessoa negra presente no protesto. Infelizmente, a luta de Nakate ficou conhecida quando foi apagada de uma foto ao lado de Greta Thunberg e outras ativistas brancas pelo veículo Associated Press. Perguntada sobre o caso, a jovem confessou que sentiu pela primeira vez a definição da palavra racismo. 

A ocasião representa a invisibilidade dada às pessoas de cor no movimento ambiental, associada ao estereótipo de pessoas brancas de classe média. Esquecemos uma coisa, a população negra – ao lado dos povos originários – estão submetidas, em várias frentes, às consequências da degradação ambiental. São os que sofrem na pele os impactos deixados pelas indústrias poluentes. São os que têm de deixar suas terras como refugiados climáticos por desastres ambientais. 

No fim da década de 70, o ativista Dr. Robert Bullard foi solicitado a acompanhar o caso em uma comunidade negra que tinha problemas devido o descarte irregular de resíduos tóxicos perto de sua vizinhança. Considerado pai do movimento da Justiça Climática, Bullard começa a fazer correlação dos seguintes assuntos: raça, meio ambiente e pobreza. Seus conceitos foram importante na formação das teorias abordadas pelo racismo ambiental. 

Racismo ambiental? O termo é usado para designar que as comunidades mais pobres são expostas pelo distrato de grandes empreendimentos com meio ambiente. Acontece que a maioria dos moradores pertencem às etnias de negros, pardos e indígenas, além de muitas das comunidades viverem sob péssimas condições sanitárias e habitações sem nenhuma segurança. 

Estes são apenas alguns dos problemas sociais impostos a comunidade negra. Eles se juntam às altas taxas de homicídios sempre com a mira apontada aos jovens. Quando olhamos a representatividade em posições de lideranças, os negros, pardos e indígenas combatem diariamente a invisibilidade praticada pelo racismo estrutural. A questão, claro, não é simples. Pessoas de cor sabem o quanto a crise climática atrapalha suas vidas, mas devemos entender que as lutas por igualdade racial e justiça ambiental compõem o mesmo plano. 

 

Gabriel Perez dos Santos – é jovem negro estudante de jornalismo, já esteve em diversas ações da 350.org Brasil cobrindo pautas de meio ambiente na luta contra os combustíveis fósseis e as mudanças climáticas. 

 

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