Por Caroline Kwasnicki
São tempos difíceis. O planeta não para de nos alertar sobre os impactos que causamos. Secas extremas, inundações, furacões e ondas de calor estão acontecendo em vários lugares do mundo. As mudanças climáticas não escolhem o seu alvo e todos podem ser impactados. Mas sem dúvidas, algumas comunidades são mais sensíveis a essas catástrofes. Por isso, não podemos olhar apenas para o nosso umbigo e acreditar que os problemas estão distantes de nós. Precisamos pensar juntos e unir nossas habilidades para encontrar soluções que priorizem um futuro mais sustentável e justo, para nós e para o nosso – único – lar.
Um exemplo inspirador que prova que é possível, sim, unir áreas de conhecimento distintas por uma causa comum, foi o What Design Can Do, evento realizado na última semana em São Paulo. Foram dois dias de debates sobre as causas e consequências das mudanças climáticas, e sobre o poder do design e da arquitetura em promover soluções. Foram apresentados também projetos reais que têm tudo a ver com a ideia de que unindo forças e compartilhando ideias, podemos chegar mais longe.
Juliana Proserpio, designer, empreendedora e cofundadora da Echos, abriu o primeiro dia de palestras e falou sobre como podemos projetar futuros desejáveis. Para ela, é preciso pular da apatia para ação, unindo alguns elementos que nos ajudam a ter a visão do futuro que queremos. Ainda segundo Juliana, não basta olhar só para o passado: precisamos entender qual a nossa intenção, conhecer e aproveitar as tecnologias emergentes e entender a necessidade social. Compreender essa conexão é dar um passo à frente na busca por um mundo mais sustentável.
O painel de debates com o tema “Is media still our ally?” (A mídia continua sendo nossa aliada?) contou com a presença de Naresh Ramchandani, cofundador da ONG ambiental Do The Green Thing, Nicole Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina, e Elizabeth Mckeon, chefe de estratégia da IKEA Foundation. Nicole abordou exemplos de eventos climáticos e como nossas escolhas impactam o mundo todo. Explicou como funciona o seu trabalho na 350.org e como o ativismo climático é importante na luta contra os combustíveis fósseis e contra os retrocessos do governo, que insiste em estimular essa que é a indústria mais poluente do mundo. “Nós não precisamos de combustíveis fósseis. Nós temos energia limpa suficiente”, afirma. Você pode (re)ver a live que fizemos em nossa página durante o debate!
Guto Requena e Pete Hellicar foram outros destaques do primeiro dia de evento. Guto é arquiteto e designer, e abordou em sua palestra o tema da requalificação dos espaços públicos e como é importante estimularmos o coletivo a fazer parte da cidade. Para ele, as tecnologias podem salvar o planeta, mas elas precisam ser humanas e falar de amor também. Para Pete Hellicar, skatista, designer e músico, “a Terra não liga”. Quem precisa ser salvo são os humanos! O principal passo é entender nossos impactos e como podemos mudar e contribuir para impedir o avanço do caos climático.
Já no segundo dia, Babete Porcelijn, designer e autora do livro “The Hidden Impact”, falou sobre os impactos escondidos em nosso estilo de vida. A revelação de que o maior impacto de nossos hábitos diários no meio ambiente é causado por todas as coisas que compramos foi uma surpresa. Babete apresenta também maneiras de sermos uma sociedade mais eco-positiva e fala de seus próprios hábitos de consumo e como ela procura diminuir seus impactos. “Minha vida é melhor que antes. Sou mais saudável, economizo mais dinheiro, cresço junto com a família e faço um trabalho que eu acredito que faz a diferença”, comenta.
Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS), Guto Requena e Inka Pieter, chefe do Departamento de Responsabilidade Social e Estratégicas Sustentáveis da KLM, participaram do painel de debates “Community is key” (Comunidade é a chave). Ana Toni comentou sobre a importância de entendermos o que é o local e o que é o global, mas também que é necessário perceber que todos os lugares são absolutamente importantes. “Todos os grupos são importantes para agir. Temos múltiplas identidades”, comentou durante sua apresentação.
Naresh encerrou o dia apresentando o Do The Green Thing e propôs uma reflexão aos designers e comunicadores: o que podemos fazer para passar mensagens com consciência? Como usar a criatividade para enfrentar as mudanças climáticas?
Representatividade feminina do WDCD
Como você deve ter percebido, não podemos ignorar a presença feminina consolidada – e de respeito! – que fez parte da programação do What Design Can Do. Além de concentrar esforços nas causas ambientais, o WDCD abraça a causa feminina. Para Bebel Abreu, responsável pelo evento no Brasil, ter essa representatividade feminina ajuda a mostrar que somos iguais, “homens e mulheres, feminino e masculino”.
Nicole Oliveira também comemorou a representatividade no WDCD, o que considera uma vitória na luta pela equidade. “É gratificante participar de um evento que abraça e engloba a causa feminina. Foi uma honra debater ao lado de outras mulheres tão competentes e profissionais em suas respectivas áreas. Foi uma experiência muito marcante”, comentou Nicole.
A desigualdade de gênero é a origem de muitas formas de discriminação, abuso, violência e exploração. O assunto também foi muito bem representado no palco através da música. Dani Buarque, DJ da edição, Ekena, Luiza Lian e Karina Burh, mostraram seus trabalhos autorais sobre a luta contra o machismo e a desigualdade de gênero.
Climate Action Challenge
Além de mitigar os efeitos e projetar soluções que contribuam para a redução das emissões de carbono, para combater o aquecimento global é preciso também nos adaptarmos à realidade dos inevitáveis impactos das mudanças climáticas. E aqui o design e a arquitetura podem ter papéis fundamentais. Resiliência no planejamento urbano, produção de alimentos inteligente, preocupação com a saúde e a distribuição de água, e a produção de energia sem o uso de combustíveis fósseis são alguns tópicos que não podem faltar nesse debate.
Esses foram, inclusive, os objetivos do Climate Action Challenge 2017: uma competição de design de alcance global, que convida a comunidade criativa – entre estudantes, profissionais e startups – a inscrever projetos e soluções que combatam os impactos das mudanças climáticas. O desafio recebeu 384 inscrições de 70 países. Entre eles, um comitê de seleção nomeou 35 projetos. Logo depois, um júri internacional de especialistas em design, empreendedores sociais e de ciências do clima, avaliou as propostas e os ganhadores foram anunciados no palco do WDCD São Paulo, no dia 23 de novembro. Conheça abaixo alguns dos projetos vencedores – para ver a lista completa visite o site do WDCD:
Dronecoria: já imaginou milhares de pessoas podendo plantar milhares de árvores? Esse é um projeto de reflorestamento automático, que usa drones para dispersar sementes em bolas de argila expandida.
The Children’s Scrappy News Service: é um serviço de notícias improvisado, feito por crianças para crianças, que procura resolver os problemas do mundo, dando um passo de cada vez.
Desolenator: tecnologia de dessalinização patenteada que usa apenas a luz solar para purificar a água, transformando qualquer fonte em água 100% potável. O objetivo da empresa é tornar 1 milhão de habitantes independentes nos seus primeiros 5 anos de operações.
Free Wind: as ondas de calor devem ocorrer com cada vez mais frequência e intensidade no futuro. O Free Wind visa aliviar a situação ao menor custo possível. Ele utiliza a compressão do ar para produzir ar mais frio, canalizado pela casa em um ciclo constante.