Apesar da urgente crise climática, empresas de combustíveis fósseis e seus financiadores ainda apoiam novos projetos para extrair, transportar e queimar carvão, petróleo e gás. Esses projetos não ameaçam apenas a conduta dessas comunidades: eles também nos prendem aos combustíveis fósseis por décadas, exatamente no momento em que precisamos interromper seu uso.  Quando estiver em um buraco, pare de cavar!

A indústria de combustíveis fósseis é global – mas, felizmente, a resistência também é. Eis 7 lutas que estão ocorrendo agora para manter esses combustíveis no subsolo e maneiras de você colaborar com elas.


Kinder Morgan

No Oeste do Canadá, a força das pessoas na linha de frente – e ações de solidariedade de todo esse país e do mundo – detiveram os planos de expansão do oleoduto Kinder Morgan Trans Mountain. Em 10 de março, ocorreu a maior mobilização realizada até agora contra a Kinder Morgan. Nela, 10.000 pessoas foram às ruas em Burnaby, no Canadá. Elas agiram em solidariedade a líderes indígenas que construíram um “Posto de Vigia” – uma estrutura tradicional usada pelos povos indígenas de Coast Salish durante gerações para observar seus inimigos – no caminho do oleoduto, localizado na Montanha Burnaby.

Desde então, houve, nas instalações do terminal do oleoduto na Montanha Burnaby, mais de 200 prisões de ativistas indígenas, estudantes, avós e muitos outros – inclusive dois membros do parlamento – que se posicionaram para tomar medidas corajosas contra a Kinder Morgan a fim de proteger a terra, a água e o clima.

Essa onda de ações fez a Kinder Morgan perder a confiança de investidores e, subsequentemente, interromper o trabalho no oleoduto. A empresa estabeleceu o dia 31 de maio como prazo final para determinar o destino do oleoduto. A situação não parece muito favorável ao projeto, pois até mesmo o CEO afirma que provavelmente este seja um empreendimento “insustentável”. Porém, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, está oferecendo bilhões em financiamento público para complementar o valor de investimento, a fim de forçar a passagem do oleoduto a qualquer custo, apesar da oposição das comunidades indígenas e do governo provincial da Colúmbia Britânica.

Por todo o Canadá, pessoas consideram isso inaceitável. Essa é a razão pela qual comunidades de várias partes do país estão se posicionando para rejeitar o multibilionário socorro de Trudeau e mostrar ao governo o enorme risco político de construir esse oleoduto.

Caso você esteja no Canadá, pode encontrar uma ação próxima ou inscrever-se para organizar uma em sua comunidade, visitando o site People vs Kinder Morgan.

Se desejar apoiar de longe, a Kinder Morgan tem pressionado por acusações criminais de desacato e um processo SLAPP contra as 200 pessoas presas na Montanha Burnaby. Se puder, por favor, faça uma contribuição para o fundo destinado à defesa legal dessas pessoas.


Salve Lamu

movimento climático na África Oriental e além. A usina Lamu, que seria a primeira usina a carvão do continente fora da África do Sul, representa graves ameaças sociais e ambientais para as comunidades locais. Além do mais, isso tornaria o Quênia e outros países africanos um precedente para começar a desenvolver mais carvão – um caminho que simplesmente não podemos nos dar ao luxo de trilhar.

Apesar de esforços deliberados para excluir as comunidades das consultas públicas, o Salve Lamu e seus parceiros continuam a contestar a construção, com o apoio de aliados nacionais e internacionais. As comunidades levantaram preocupações graves e conseguiram levar esses casos aos tribunais quenianos, após mobilização popular em larga escala e formação de redes que geraram um movimento nacional anticarvão e pró-energia renovável chamado deCOALonize.org.

 

Elas continuam lutando. Em 30 de abril, o tribunal superior fez um julgamento histórico sobre os direitos da comunidade e dos pescadores em relação a projetos de desenvolvimento. Em 25 de maio, o Liberte-se, um dia de ação coordenada em toda a África, mostrará como a luta em Lamu é emblemática de um movimento maior em formação que rejeita o carvão e garante sua substituição por soluções alternativas e renováveis ​​que possam combater a pobreza energética e financeira, bem como construir comunidades mais resilientes.

 


Ponte Bayou

 

Camp L’eau est la Vie – “Água é Vida” em francês – é uma campanha de resistência que vem se fortalecendo no Sul da Louisiana desde novembro de 2017. Este é o local de resistência contínua ao oleoduto da Ponte Bayou, que se estenderia por 262 quilômetros e atravessaria 700 corpos d’água. O histórico ambiental da empresa responsável pelo projeto, a Energy Transfer Partners, mesma empresa que constrói o oleoduto Dakota Access, é o pior do país. Combinado com os efeitos das mudanças climáticas que já são sentidos, os pântanos da Louisiana – e as comunidades que prosperaram em seu entorno por gerações – estão ameaçados.

Felizmente, membros da comunidade local se organizaram para alertar os vizinhos sobre o projeto e se opor à sua conclusão. Há dois meses, um juiz suspendeu a construção através da Bacia de Atchafalaya, um local sensível, enquanto um processo contra a autorização federal para o projeto está em andamento. Grupos ambientalistas também estão processando o Corpo de Engenheiros do Exército, alegando que ele violou a lei federal de Água Limpa ao aprovar a autorização para o oleoduto. A construção continua, enquanto a decisão sobre a liminar permanece em aberto. Esta semana, um juiz da Louisiana determinou que o estado violou a lei estadual ao emitir uma licença costeira para o oleoduto da Ponte Bayou, por não considerar os impactos à saúde e segurança da comunidade de St. James, majoritariamente negra.

Você pode acompanhar e saber como apoiar aqui.

 


Linha 3

A Linha 3 é uma proposta de oleoduto que traria petróleo bruto das areias betuminosas de Alberta, no Canadá, até Superior, em Wisconsin, nos Estados Unidos. Embora a empresa responsável pelo projeto, a Enbridge, tente rotulá-lo de oleoduto de “substituição”, ele seria uma expansão enorme que atravessaria território indígena, violando os direitos do tratado e representando uma ameaça imediata à água, à terra e ao modo de vida. Isso permitiria à Enbridge exportar mais de 750.000 barris de petróleo ao ano durante três décadas, causando um dano com o qual as comunidades e o clima simplesmente não podem arcar.

Este vídeo de julho de 2017 explica os detalhes.

A resistência contra esse oleoduto tem sido forte no Canadá e nos EUA desde 2012, quando o projeto foi proposto originalmente. Recentemente, na segunda-feira 23 de abril, um juiz bloqueou a rota preferida, afirmando que o projeto só deveria ser aprovado se 17 condições fossem cumpridas.

Mas a luta não terminou, de modo algum. As pessoas nas linhas de frente estão se preparando para uma grande mobilização em Minnesota, em 18 e 19 de maio, aberta à participação de qualquer pessoa da região.

 


Fracking no Brazil

No Brasil, uma coalizão de grupos vem se mobilizando e resistindo ao fracking no país desde 2012. Uma de suas táticas tem sido protestar contra leilões nacionais nos quais o governo facilita a venda de terras a grandes empresas petrolíferas para que possam extrair petróleo e gás. Na abertura do leilão mais recente, ativistas de vários estados do Brasil falaram incisivamente sobre a ameaça que a queima de mais combustíveis fósseis representa a suas comunidades e o risco adicional de técnicas perigosas de extração, como o fraturamento hidráulico (fracking). Posteriormente, nenhum lote terrestre foi vendido, ou seja, o equivalente a 3,2 bilhões de barris e 1,1 bilhão de toneladas de dióxido de carbono permaneceram no subsolo. O próximo leilão, desta vez somente para lotes offshore, será no dia 7 de junho. Os grupos comparecerão novamente para protestar em favor da manutenção dos combustíveis fósseis no subsolo.

Os grupos estão colaborando com líderes indígenas que, no esforço para proteger seus direitos e territórios, estão resistindo ao fracking em suas terras. Por todo o Brasil, 380 municípios já proibiram a prática. Mas a coalizão está pressionando por uma proibição nacional definitiva, como vemos em muitos outros países em todo o mundo. O movimento também está se estendendo para Argentina, Uruguai e Paraguai – semeando a esperança de que a prática acabe sendo banida em toda a América Latina.

Você pode apoiar esses esforços usando a hashtag #LeilãoFóssilNão em 7 de junho, durante o próximo leilão. A solidariedade internacional é uma parte importante da luta – mostrar que o mundo está observando pode ter um impacto enorme.


#NoTAP

O Gasoduto Trans Adriático – ou TAP, na abreviação do inglês – faz parte do Corredor Sul de Gás, um mega gasoduto de mais de 3.000 quilômetros. Ele permitiria que o gás, um combustível fóssil poluente composto principalmente de metano, fluísse do Azerbaijão para a Europa.

Além dos abusos aos direitos humanos que ocorrem na origem da extração, o gasoduto atravessaria mares e centenas de comunidades ao longo de sua rota. Em toda a Europa, ativistas se organizaram para expressar oposição a um gasoduto que já é desnecessário, mesmo pelos padrões atuais de fornecimento de gás. Comunidades em Melendugno, San Foca e Lecce, na Itália, lideram a resistência, apesar da forte repressão policial. Todos os prefeitos locais e dos arredores manifestaram-se oficialmente contra o gasoduto, mas o governo nacional decidiu seguir adiante mesmo assim. Em novembro, a polícia realizou uma incursão noturna para remover oponentes do gasoduto e permitir que a construção começasse, declarando a área como uma “zona vermelha”.

Além disso, a União Europeia, por meio de seu braço de investimento, o Banco Europeu de Investimento, decidiu apoiar o projeto destruidor do clima. Após adiar as decisões em várias etapas, em fevereiro eles concederam seu maior empréstimo de todos os tempos, 1,5 bilhão de euros em fundos públicos. Mas a resistência não terminou, de modo algum. Ainda há muitos outros financiadores envolvidos para tornar o gasoduto uma realidade, e a oposição é mais forte que nunca. Eis aqui uma mensagem de Elena, de San Foca, a um dos financiadores do duto, o banco Intensa:

 


Pare Adani

A luta #StopAdani (Pare Adani) mobilizou dezenas de milhares de pessoas em toda a Austrália e pelo mundo. A mega mina de carvão Carmichael, proposta em Queensland, no extremo Nordeste da Austrália, seria a maior desse país e uma das maiores do mundo. Isso pavimentaria o caminho para o desenvolvimento de mais minas na área atualmente subdesenvolvida da Bacia da Galileia, com um caminho de exportação direto da Grande Barreira de Corais, já irremediavelmente degradada pelo aquecimento das temperaturas oceânicas. A empresa que deseja construir a mina, a firma indiana Adani, tem uma reputação global de evasão fiscal, abusos dos direitos humanos e desatendimento de regulamentações ambientais. Os planos da empresa de avançar com a mina, apesar da esmagadora objeção pública, ignoram os esforços dos povos indígenas Wangan e Jagalingou, em cujas terras tradicionais essa mina seria desenvolvida. Os principais bancos da Austrália e outras 24 outras instituições financeiras que estão entre as maiores do mundo, incluindo Banco da China, HSBC, Deutsche Bank e Morgan Stanley, se recusaram a financiar o projeto da Adani.

Ação na Praia Bondi em Sydney, NSW

 

A campanha #StopAdani se consolidou em todo o país, com mais de 160 grupos locais e pessoas comuns se posicionando para participar da luta. Você pode ajudar organizando exibições de um documentário recente sobre a luta contra o projeto da Adani; contatando políticos australianos – como o primeiro-ministro, Malcolm Turnbull, e o líder da oposição, Bill Shorten, através do e-mail [email protected] – para exigir que a mina seja detida; apoiando os protestos #StopAdani e conclamando a Adani a suspender este projeto de carvão por meio do e-mail [email protected].

 

Há alguma luta local onde você vive que esteja faltando nesta lista? Participe ou organize sua própria campanha, começando em Zero Fósseis.