Amazonia-queimando

Foto: Bruno Kelly/Reuters

Um cenário dantesco. Assim pode ser definida a tarde da segunda-feira, dia 19 de agosto, na capital paulista e em algumas cidades da Grande São Paulo, litoral paulista e nos Vales do Ribeira e Paraíba. Quem olhava para o céu a partir das três horas da tarde se deparava com a chegada da noite com boas horas de antecedência. Uma mescla de nuvens baixas carregadas, tons cinzas mesclados com amarelo, laranja e marrom trouxeram assombro. O fenômeno climático e meteorológico atingiu também a região sul de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e do Paraná. Afinal, todos se perguntam até agora: o que estava acontecendo? Para explicar esta ocorrência inusitada, alguns especialistas fizeram uma conexão do fenômeno ao aumento de focos de queimadas e incêndios na Amazônia. Um exemplo prático da intervenção humana na aceleração das mudanças climáticas.

Foto: Bruno Santos/ Folhapress

De acordo com Josélia Pegorim, do Climatempo, a combinação da frente fria que chegou ao litoral paulista na segunda-feira com fumaça contribuiu para este anoitecer prematuro. E afinal, de onde veio esta fumaça? A meteorologista explica que as análises indicam ser proveniente de grandes focos de queimadas que estão se alastrando há muitos dias, em áreas de Rondônia, Acre e, inclusive, na Bolívia e no Paraguai. Imagens do satélite Terra/MODIS, que é operado pela NASA, revelam estas imagens migrando desde o extremo sul do Brasil, a partir do dia 18. As explicações também foram dadas por outros especialistas, como o meteorologista Franco Nadal Villela, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Para outros especialistas, o tom mais escuro se deveu às nuvens estarem a uma altura mais baixa, impulsionadas pelos ventos úmidos.

Apesar de não ser um consenso, o ‘peso” que os focos de queimadas possam ter tido neste fenômeno, o fato é que o descontrole já preocupa ambientalista e autoridades.

O que torna esta combinação de fatos mais complexa é que a totalidade de queimadas em 2019, até o momento, já se configura como a maior em cinco anos. Isso mesmo! Até 1º de setembro, foram registrados mais de 91 mil focos, que ultrapassam em 67% a quantidade do ano de 2018, no mesmo período. O maior número de ocorrências está sendo notificado na Amazônia, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Apesar dessas explicações que partem de pesquisadores e cientistas, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, em declarações à imprensa, alegou que esta conexão feita com as “queimadas” se trata de “fake News”.

 

Semana do Clima em Salvador

Este fenômeno ocorre justamente, nesta semana, quando está acontecendo a Semana do Clima da América Latina e Caribe, em Salvador, BA, realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), e parceiros, com apoio da Prefeitura de Salvador e do governo brasileiro, que antecede a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP-25), em dezembro no Chile.

Vale lembrar que o Brasil declinou de sediar a conferência e, por pouco, também não cancelou oficialmente o apoio ao evento em Salvador. Medidas que já geram um mal-estar diplomático e incertezas quanto ao posicionamento do país com relação ao combate às mudanças climáticas. Hoje, o ministro chegou a ser vaiado por ativistas, por sua postura e declarações nos últimos meses, principalmente quanto ao tema de combate ao desmatamento na Amazônia, que tem gerado críticas quanto à redução da relação de comando e controle do ministério e seus órgãos, nesta agenda, incluindo o impasse criado na manutenção do Fundo Amazônia. 

Hoje de manhã o Ministro Ricardo Salles foi recebido com vaias e protestos de organizações e pela sociedade civil.

Neste espaço de diálogo e debate, em Salvador, se inscreveram mais de 5 mil pessoas, entre representantes de governos, empresas, organizações não governamentais, de 26 países. O objetivo é expor iniciativas, projetos, medidas e sugestões que tenham como compromisso frear o avanço das mudanças climáticas no planeta.

Nós estamos lá, cobrando uma postura mais efetiva nesta agenda!

Por fim, não menos importante, lembramos que este encontro antecede mais uma importante mobilização global climática, entre 20 e 27 de setembro, inspirada no movimento de jovens – Friday for Future -, que tem como uma das protagonistas, a sueca Greta Thunberg.

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Sucena Shkrada Resk – jornalista ambiental, especialista em política internacional, e meio ambiente e sociedade é digital organizer da 350.org Brasil

(atualização da matéria em 04/09/2019)