A 23a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – a COP 23, acabou na última sexta-feira (17) sem muitos avanços concretos, como era de se esperar. Governos, empresas e sociedade civil estiveram reunidos em Bonn, na Alemanha, para definir as regras para implementação do Acordo de Paris. Felizmente, o isolacionismo dos Estados Unidos de Donald Trump não contaminou a atmosfera e os demais países mantiveram sua posição sobre o Acordo. Ainda assim, um relatório mostrou que, mesmo com todos os compromissos mantidos, “ninguém está fazendo o suficiente pelo clima.” 

Envolvido em diversas polêmicas, o Brasil não passou despercebido. A boa imagem que tentou passar, com a recente queda na taxa de desmatamento, foi logo desmascarada. Casos como o da MP 795, que isenta as empresas petrolíferas do pagamento de impostos a fim de incentivar a exploração do pré-sal expuseram as contradições do governo de Michel Temer e renderam o merecido “Fóssil do Dia” ao país.

A entrada ou não no mercado de carbono, com o chamado offset florestal, foi outro ponto de discórdia. Após forte pressão de parte da sociedade civil, o Brasil manteve a posição histórica de não fazer das florestas uma moeda de troca, e manteve a decisão de não incluí-las como forma de compensação de carbono para que países e empresas poluidoras continuem a emitir grandes quantidade de gases do efeito estufa.

Para terminar com chave de ouro, mesmo mostrando que nacionalmente tem seguido uma cartilha contrária à política de baixo carbono que tanto advoga internacionalmente, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, se antecipou e anunciou o Brasil como candidato a sediar a COP 25 – no mesmo dia, inclusive, que ganhou o “prêmio fóssil”. O sistema de rotatividade da Convenção do Clima estabelece que cada COP tem de ser realizada em um continente diferente. E em 2019 a conferência deve ser em um país da América Latina e Caribe. No fim, a candidatura do Brasil não foi oficialmente confirmada e o anfitrião deve ser decidido na próxima reunião do Grulac (Grupo da América Latina e Caribe), em Nova York, ainda este ano.

Dentre os vários acontecimentos informais da conferência, destacam-se o reconhecimento dos povos indígenas como lideranças em assuntos climáticos e de preservação florestal. A presença dos Guerreiros do Clima do Pacífico foi um dos pontos altos, oferecendo solidariedade às comunidades alemãs que estão na linha de frente da extração de carvão, ficando ao lado de jovens norte-americanos representantes dos estados e cidades que resistem à agenda de favorecimento dos combustíveis fósseis de Donald Trump, e levantando a discussão sobre justiça climática e a liderança das comunidades que vivem nas ilhas do Pacífico.

Mesmo com pequenos avanços, lacunas de ambição nas metas dos países ainda deixam dúvida sobre o real cumprimento do compromisso de combate ao aquecimento global. Enquanto as delegações debatem, os desastres climáticos seguem acontecendo, reforçando a necessidade urgente de mudança de modelo de desenvolvimento, a fim de garantir a manutenção da vida na Terra.

Já que os governos não estão entregando as ações que o mundo necessita, o empoderamento de comunidades locais para impedir os projetos de combustíveis fósseis e permitir o aceleramento da transição para uma economia com 100% de energias renováveis e livres é o caminho.