Ricardo Salles e o desdém com a emergência climática

Foto: Agência Brasil

 

Para um país que estava cogitando sair do Acordo de Paris, o insuficiente anúncio feito em coletiva de imprensa na noite de 8 de dezembro pelo Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não surpreendeu. O Acordo de Paris completa no dia 12 de dezembro, 5 anos de sua assinatura, e como o próprio acordo menciona, a cada meia década, os países signatários devem renovar ou aumentar suas metas para redução de gases de efeito estufa (NDC – Contribuição Nacionalmente Determinada)

Pois bem, durante seu anúncio, Salles mencionou a intenção do governo brasileiro de zerar as emissões até 2060 e também manteve o que havia sido proposto em 2015 durante o governo Dilma Rousseff, até 2025 uma redução de 37% nas emissões do Brasil e uma redução de 43% até 2030, ambas tendo 2005 como ano base. Excetuando a China, e agora o Brasil, a maioria dos países do mundo tem como meta de zerar suas emissões, no ano de 2050. Além disso, em mais uma chantagem explícita aos países ricos, o Brasil passa a condicionar o atingimento de sua meta de zero emissões antes de 2060, ao pagamento de US $10 bilhões de dólares por ano ao país a partir do ano que vem.

Sobre a meta de reduzir as emissões em 43% até 2030, em relação a 2005, a mesma não está alinhada, com o que os cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) afirmam ser necessário, para que possamos frear o aumento da temperatura global a 1,5ºC até o fim deste século. As consequências de um aumento de temperatura superior a 1,5ºC até o fim de 2100 serão catastróficas. Já estamos observando por todo o mundo furacões cada vez mais intensos e constantes, secas e escassez hídrica, perdas na produção de alimentos, tempestades inesperadas e mais violentas e também a perda de territórios de muitos países insulares com o aumento do nível dos oceanos.

Em um momento em que muitos países começam a aumentar significativamente a ambição de suas metas, em um claro alinhamento com as recomendações da comunidade científica mundial, o Brasil, que é atualmente o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, perde a chance de dar o exemplo e prefere seguir com sua saga de continuar negando que estamos vivendo uma emergência climática. O país necessita urgentemente zerar o desmatamento em todos seus biomas, bem como acelerar uma transição energética justa, deixando de realizar leilões de petróleo e gás, abandonando novos planos de minas de carvão e também parando de leiloar termelétricas movidas a combustíveis fósseis.

 

Ilan Zugman – Diretor da 350.org América Latina

 

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