O Aquífero Guarani é a principal reserva de água doce da região e uma das maiores reservas subterrâneas de água potável do mundo. Ocupa aproximadamente 1.200.000 km² no sudeste da América do Sul e é compartilhado por quatro países: Uruguai, Argentina, Brasil e Paraguai. Estima-se que o aquífero poderia abastecer a população mundial por 200 anos a uma taxa de 100 litros por habitante por dia.
No caso do Uruguai, as organizações ambientais Coordenadora Ambiental Todas as Mãos, Associação Civil Ambientalista de Salto (ACAS), Grupo Gensa Paysandu, Paysandu Livre de Fracking, Nosso Paysandu, Tacuarembó pelo Meio Ambiente, Rivera pela Vida Sustentável e Água e Uruguai Livre de Megamineração vêm alertando sobre os riscos dos avanços da petroleira Petrel Energy, que tem o plano de fazer quatro perfurações exploratórias em busca de hidrocarbonetos na região norte, tendo começado já em junho do ano passado.
Essas mesmas organizações já haviam feito uma reclamação pública sobre a gravidade de um incidente no qual mais de 125 mil litros de produtos químicos foram derramados em uma perfuração localizada no Aquífero Guarani. Igualmente grave foi o fato de que a empresa não informou a Diretoria Nacional de Meio Ambiente do Uruguai (DINAMA) sobre este derramamento, que foi tornada pública somente após a denúncia das organizações, a partir da qual a DINAMA decidiu aplicar sanções à petroleira.
Para Victor Bacchetta, jornalista e representante da Uruguai Livre, o incidente do derramamento é de profunda gravidade e demonstra que a empresa Petrel Energy “não tem idoneidade suficiente, já que o que aconteceu é muito grave, foi um derramamento de lama muito importante”. Bacchetta acrescentou que “eles não informaram a DINAMA e seguiram as operações, demonstrando grande irresponsabilidade”.
Adriana Conti, presidente da Associação Civil Ambientalista de Salto (ACAS), questionou a reunião realizada entre o prefeito de Salto, Andrés Lima, e sua equipe de governo com representantes de Petrel Energy, para que a empresa expusesse os detalhes de seu plano de trabalho. Entre as razões para o questionamento, ela mencionou que o prefeito havia se comprometido publicamente em um Fórum Regional, perante a ambientalistas uruguaios e argentinos, a defender o Aquífero Guarani. Ao receber a petroleira para estudar plano de perfurações no Aquífero, ele está falhando com seu compromisso.
O prefeito, por sua vez, desconhece a sanção imposta pelo DINAMA à referida empresa devido aos vazamentos de lama tóxica que foram encontrados no Cerro Padilla Paysandú, desconhece que a Petrel interrompeu seu trabalho em Cerro de Chagas Salto porque durante a perfuração o poço desmoronou devido ao encontro “inesperado” de uma falha geológica e não leva em conta que a empresa planeja perfurar na área de Cañada Fea, muito perto das cidades de Palomas e Saucedo, muito perto do poço termal de Arapey e muito perto da barragem de Salto Grande, colocando em risco os cidadãos de Salta.
Diante deste cenário preocupante de atividades que põem em perigo a integridade do Aquífero Guarani, o documento apresentado pela Coordenadora Todas as Mãos sintetiza a posição dos movimentos sociais dos departamentos de Artigas, Paysandu, Salto, Rivera, Tacuarembó e Montevideo. O mesmo recebe o apoio de organizações ambientais de toda a região, representando Argentina, Paraguai e Brasil.
Segue abaixo a declaração completa:
EMPRESA PETROLEIRA INSOLVENTE COLOCA RESERVAS DE ÁGUA EM PERIGO
Dadas as declarações da empresa Petrel em seu “Plano de Trabalho” e “as razões pelas quais continua a investir no Uruguai”, nós, as organizações sociais envolvidas nesta questão, consideramos inaceitável a pretensão que sejam considerados como “normais“ os derramamentos como os ocorridos na perfuração de Cerro Padilla, que obrigaram a empresa a importar mais produtos químicos e estão sendo repreendidos pela DINAMA.
Ainda mais grave é dizer que esses vazamentos ocorrem apenas em rochas, mas nunca em água ou aquífero, pois isso atenta contra a inteligência dos uruguaios ou prova uma total ignorância sobre as características geológicas do subsolo.
Ao contrário do que foi expresso na época pela direção da DINAMA, a perfuração exploratória de hidrocarbonetos não é a mesma daqueles que buscam água; o que também é evidente porque a própria DINAMA solicitou para este caso um Estudo de Impacto Ambiental que não solicita para perfurações em busca de água.
A título de justificativa, argumenta-se também que os produtos químicos utilizados e os derramados são “biodegradáveis”. Desde a apresentação do plano de perfuração da Petrel, solicitamos à DINAMA informações precisas e avaliação das 168 toneladas de produtos químicos importados pela empresa e, até o momento, recebemos apenas respostas incompletas.
Com a confirmação de nossas advertências sobre o impacto destas atividades, temos solicitado à DINAMA a suspensão dessas perfurações no Aquífero Guarani, já que elas estão colocando em risco a qualidade e disponibilidade de água, infinitamente mais valiosa do que recurso estratégico do petróleo.
Há declarações da Petrel dizendo que busca novos parceiros no Uruguai para financiar a sua atividade, que é comprometida por gastos excessivos em incidentes e interrupções e o colapso de suas ações na Australian Stock Exchange, que caíram de um pico de 2,15 centavos dólar, em outubro de 2017, para 3 milésimos de dólar australiano hoje. Ou seja, menos que a sétima parte do seu valor há apenas 5 meses.
Por final, temos sérias dúvidas sobre a legalidade das operações da Petrel no Uruguai, substituindo a empresa Schuepbach, da qual é apenas acionista. A Schuepbach é fiadora do contrato com a ANCAP, que inclui uma cláusula para a mudança de proprietários e a venda de direitos, um procedimento sobre o qual nenhuma informação oficial foi fornecida até o momento.
Perante esses fatos, chamamos para reflexão e análise do que foi acima citado, para que se impeça colocar em risco ainda mais a integridade do nosso maior reservatório de água em uma aventura petrolífera em que os contratos assinados garantem muito poucas vantagens e muitas incertezas para o Uruguai, mesmo que hidrocarbonetos comercialmente exploráveis sejam de fato encontrados nessas operações.
Uruguay Libre de Megaminería
Coordinadora Todas las Manos- Uruguay.
Asociación Civil Ambientalista de Salto (ACAS – Uruguay)
Paysandú nuestro.
Paysandú Libre de Fracking.
Gensa- Paysandú-Uruguay.
350.org. América Latina.
Asamblea Ciudadana de Concordia (Provincia de Entre Ríos).
Vecinos auto-convocados “Guardianes de Victoria” entre Ríos- Argentina.
COESUS – Coalición Latinoamericana contra el Fracking por el Clima, Agua y la Vida.
Movimiento Argentina Sin Fracking
350.org Argentina
Asamblea de Integración por Territorios Libres de Fracking
CLEPSA – Centro Latinoamericano de Estudios Políticos, Sociales y Ambientales.
Asamblea Ambientalista Santotomeña – Santo Tomé – (Corrientes)
Asamblea Ciudadana Ambiental de Gualeguaychú – (Entre Ríos)
Guerta y Energía – Concepción del Uruguay – E. R.
Qopiwini – Israel Alegre – (Formosa)
Asamblea Ciudadana Ambiental de Colón (Entre Ríos)
Guardianes del Iberá (Corrientes)
Movimiento Pedagógico de Liberación – MPL (Misiones)
Movimiento Campesino de Liberación – MCL (Misiones)
Organización de Tareferos (Monte Carlo, Misiones)
Coordinadora Indígena (Misiones)
Movimiento de Mujeres, (Misiones)
Centro de Estudiantes Emancipación y Progreso (Tres Isletas, Provincia de Chaco)
Asamblea Pachamama – Montevideo – (Uruguay)
Agrupación “Diente de León” Montevideo – (Uruguay)
Mesa de Articulación Indígena del Paraguay (MAIPy)
Movimiento Pueblos Originarios MPO (Paraguay)
Coordinación Interregional de Pueblos Originarios (CIRPO – Paraguay)
Asociación de Comunidades Indígenas de San Pedro (ACISPE – Paraguay)
Mainomby (Paraguay)
La Organización de Mujeres Campesinas e Indígenas (CONAMURI – Paraguay)
Movimiento de Mujeres Indígenas “Kuña Guaraní Aty” (Paraguay)
RE Juvenil (Paraguay)
Movimiento 19 de Abril (Chaco – Paraguay)
Coordinadora de bajo Chaco (Paraguay)
Yryapu Alto Paraná (Paraguay)
Organización de Pueblos Garaní (OPG – Paraguay)
Coordinadora de Artesanos Indígenas (Paraguay)
350.org Brasil
Fundación Arayara (Brasil)
20 de março de 2018.