19 outubro, 2022

Fracking na Argentina é uma “bomba econômica”, mostra relatório da 350.org

Custos ocultos da extração de combustíveis fósseis em Vaca Muerta, principal reserva de petróleo e gás do país, podem ultrapassar 5,6 trilhões de dólares

 

  • Nota aos jornalistas: baixe aqui o relatório (em espanhol).

Vendida à sociedade argentina como solução para a dependência energética e a dívida externa, a exploração das reservas de petróleo e gás de Vaca Muerta representa, na verdade, um enorme risco de agravamento da crise econômica do país. É o que revela o relatório “Vaca Muerta: uma armadilha de petróleo e gás”, elaborado pela consultoria holandesa Profundo, a pedido da 350.org, e publicado em 13 de outubro na Argentina.

O estudo mostra que a soma de todos os custos ocultos de Vaca Muerta para a sociedade global, nos próximos 30 anos, pode ultrapassar 5,6 trilhões de dólares. A título de comparação, a cifra representa 13 vezes a dívida pública atual da Argentina.

Localizada na região da Patagônia, Vaca Muerta contém a segunda maior reserva de gás não-convencional e a quarta maior reserva de petróleo não-convencional do mundo. As empresas que extraem petróleo e gás nessa região utilizam a técnica do fraturamento hidráulico, o fracking, que é complexa, cara e produz alto impacto ambiental, com riscos para as fontes de água, a biodiversidade e as comunidades vizinhas.

O relatório surge no momento em que o governo Bolsonaro manobra para tentar introduzir o fracking no Brasil, por meio do projeto Poço Transparente.

Para chegar ao valor dos custos ocultos de Vaca Muerta, os pesquisadores holandeses Gerard Rijk e Barbara Kuepper, somaram:

  • Impactos na saúde pública pela queima de combustíveis fósseis extraídos em Vaca Muerta
  • Danos causados ​​por potenciais vazamentos de óleo e gás
  • Um provável imposto sobre o carbono emitido
  • Os ativos que acabariam encalhados em um cenário global de transição energética.

“Além de ser uma bomba de carbono que agrava a crise climática global, Vaca Muerta também representa uma bomba para a economia argentina e de outros países. As empresas de combustíveis fósseis concentram os lucros nas mãos de poucos e dividem com toda a sociedade os enormes custos financeiros, sociais e ambientais de suas operações”, diz Victoria Emanuelli, coordenadora de campanhas da 350.org na América Latina.

Soluções para a dívida

Outra novidade do relatório é a análise sobre o papel do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) na expansão de Vaca Muerta. Os autores do estudo apontam que os dois organismos financeiros reforçam, por meio de sua política de crédito e seu discurso sobre a economia argentina, a falsa narrativa de que a exploração de combustíveis fósseis seria necessária à superação da crise econômica.

Para exigir um realinhamento dessas instituições à realidade da Argentina, o estudo da 350.org veio a público durante a Semana Global de Justiça e Mobilização pelo Cancelamento da Dívida e ao mesmo tempo em que Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI) realizaram encontros anuais para debater suas políticas.

Este ano, centenas de organizações socioambientais de todo o mundo, inclusive a 350.org, aproveitaram esses eventos para fazer um chamado às instituições financeiras e aos governos por medidas para aliviar o peso da dívida pública sobre os países em desenvolvimento.

“O relatório sobre Vaca Muerta reforça a demanda do movimento socioambiental por novas soluções para as dívidas dos países do Sul Global, ao mostrar um exemplo claro de como o lobby de setores econômicos irresponsáveis e o neocolonialismo agravam o endividamento de um país inteiro, com a cumplicidade dos organismos financeiros multilaterais”, afirma Ilan Zugman, diretor da 350.org na América Latina.

Para apoiar as comunidades na linha de frente da resistência a Vaca Muerta, a 350.org também lançará em breve um documentário sobre os impactos socioambientais do fracking na Patagônia argentina.

Saiba mais sobre os custos ocultos de Vaca Muerta.

Informações para a imprensa

Peri Dias
Comunicação da 350.org na América Latina
[email protected] / +351 913 201 040