Em carta entregue a diversos representantes de governos ao redor do mundo, mais de 375 ONGs pedem que não seja criado mais nenhum novo projeto com combustíveis fósseis
MARRAKESH — Uma coalizão de mais de 375 organizações não-governamentais aproveitou o início da segunda semana da COP 22 e entregou aos líderes globais presentes na conferência do clima uma carta com uma única e simples reivindicação: que não seja criado mais nenhum novo empreendimento envolvendo combustíveis fósseis.
A carta baseia-se em novas pesquisas que mostram que, caso o carbono contido nos reservatórios de projetos fósseis já em exploração seja queimado, ultrapassaremos os 2°C de temperatura global, estabelecida como meta no Acordo de Paris. O documento entregue hoje pede aos líderes mundiais que “impeçam novos projetos de desenvolvimento a partir de fontes fósseis e busquem uma transição justa rumo às energias renováveis.”
Organizações de dezenas de países se reuniram para mostrar que o movimento climático não será detido na sua luta em oposição às infraestruturas poluidoras e para manter os combustíveis fósseis no subsolo. Essa demonstração de resistência global vem em um momento crítico, após os resultados das eleições nos Estados Unidos. A entrega da carta aconteceu no dia que antecede uma série de ações de solidariedade nos Estados Unidos e no mundo, contra o oleoduto Dakota Access.
Veja aqui a íntegra da carta.
O vídeo da entrevista coletiva pode ser visto aqui.
Citações dos porta-vozes na coletiva:
“Nossas pesquisas têm demonstrado que se o mundo deseja dar vida ao Acordo de Paris, não há espaço na atmosfera para mais nenhum novo projeto de desenvolvimento envolvendo combustíveis fósseis. A única forma de evitar mudanças climáticas perigosas ou a perda abrupta de empregos e investimentos é iniciar um declínio controlado da produção de combustíveis fósseis e a transição justa para as fontes de energia limpa. Esta carta mostra o gigantesco movimento global que acordou para esta realidade. Os líderes mundiais seriam sábios se ouvissem esta demanda.” – Greg Muttitt, Senior Advisor na Oil Change International.
“Se queremos que o Acordo de Paris tenha alguma relevância, precisamos congelar todo e qualquer novo projeto de desenvolvimento envolvendo combustíveis fósseis, e garantir a transição para um mundo que seja movido por energias renováveis acessíveis a todos. As comunidades na linha de frente das mudanças climáticas têm lutado por isso há anos, com riscos cada vez maiores para as suas vidas e seus meios de subsistência. A única opção é os governos escolherem ficar do lado certo da história e colocarem em ação as reivindicações de milhões de pessoas em todo o mundo.” – Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina.
“A geofísica da estabilização climática é clara: as emissões de dióxido de carbono precisam ser gradativamente zeradas para que possamos ficar dentro do nosso orçamento de carbono. Existem vários modos de fazer isso, mas partindo do princípio da precaução, deveríamos tentar limitar nossa dependência de tecnologias incertas – e a melhor forma de fazer isso é aumentar as ações para minimizar essas emissões. Em todos os setores, mas começando pelo setor energético, especialmente no de carvão.” – Joeri Rogelj, pesquisador no Programa de Energias no Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados (IIASA, na sigla em inglês).
“O carvão já está em declínio estrutural em países-chave como a China. O dinheiro investido na construção de novas usinas movidas a carvão ficará encalhado lá. Em todo o mundo, as energias renováveis, como a eólica e a solar, não são somente capazes de responder às novas demandas por energia, mas também estão começando a substituir os combustíveis fósseis. Enquanto isso, milhões de pessoas em países como a China, a Índia, a Europa e os Estados Unidos já tiveram sua saúde e seu meio ambiente sendo suficientemente prejudicados pela queima de combustíveis fósseis. Eles estão pedindo aos líderes para que liberem o caminho para as energias renováveis e sistemas energéticos acessíveis. Nós seremos a geração que vai acabar com os combustíveis fósseis.” – Li Yan, Diretor Adjunto de Programa do Greenpeace Leste Asiático.