Estreia amanhã (03), em Portugal, o documentário “Fracking the Contract” (Furar o contrato, em tradução livre), da cineasta norte-americana Sophie Rousmaniere, que também é diretora-executiva da Issue Television, uma organização não governamental (ONG), que utiliza a mídia digital como meio de educação. O roteiro relata a mobilização civil em relação à prospecção de exploração de gás e petróleo, por indústrias petrolíferas, na costa da Algarvia, em Portugal. 

As personagens centrais são João Camargo, ativista e especialista em questões climáticas; a agricultora Ângela Rosa e uma ex-funcionária da indústria petrolífera da África do Sul, Laurinda Seabra. A trama suscita três questões principais: o envolvimento cívico pode fazer a diferença? É possível fazer a diferença nos dias de hoje? Quem está realmente no comando, políticos ou moradores locais? 

Segundo Ângela Rosa, em entrevista ao veículo de imprensa português SapoMag, o documentário mostra como se conseguiu impedir, pelo menos no momento, a exploração de hidrocarbonetos na região e como a união entre pessoas, o trabalho em equipe e a cidadania podem contribuir para mudar as coisas.

O roteiro vem ao encontro de mobilizações que ocorrem aqui, no Brasil, também um país lusófono, que são apoiadas pela 350.org,  um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Uma das campanhas apoiadas pela ONG é a Campanha Não Fracking Brasil.

Sophie contabiliza alguns prêmios em sua carreira e já realizou outros documentários socioambientais. Entre eles, que aborda a mineração de urânio em terras indígenas norte-americanas.

A questão dos combustíveis fósseis tem sido roteirizada em outras produções. Como por exemplo, o documentário “La Guerra del Fracking”, do cineasta argentino Fernando ‘Pino’ Solanas, de 2013, que apresenta testemunhos de moradores e técnicos sobre os efeitos poluentes e devastadores do processo da extração de gás de xisto, por meio da fraturamento hidráulico. 

O que é Fracking?

fracking, ou fraturamento hidráulico, é uma tecnologia utilizada para a extração do gás do folhelho pirobetuminoso de xisto – consistindo na perfuração profunda do solo para inserir uma tubulação por onde é injetada, sob alta pressão, entre 7 a 30 milhões de litros de água, areia e mais de 700 produtos químicos tóxicos e com potencial cancerígeno – podendo até ser radioativos – para fraturar a rocha e liberar então o gás de xisto. Este tipo de gás tem sido utilizado em aquecimento de casas, geração de eletricidade e utilização em fábricas

Os riscos relacionados ao fracking na extração do gás de xisto são tantos que, por esse motivo, ficou conhecido como gás da morte. Entre os riscos estão: a contaminação da água potável na superfície e subterrânea, a esterilização do solo, tornando-o infértil para a agricultura, contaminando produções e inviabilizando a pecuária e o turismo. Consequentemente: fatores que afetam a geração de emprego e renda; graves e irreversíveis danos à saúde, como problemas respiratórios, cardíacos, neurológicos, vários tipos de câncer, má formação congênita, esterilidade em mulheres, aumento da mortalidade infantil e perinatal, nascidos de baixo peso e partos prematuros; além de intensificar as mudanças climáticas. 

Campanha Não Fracking Brasil

A Campanha Não Fracking Brasil foi idealizada pela Coalizão Não Fracking Brasil (COESUS) e tem a parceria da 350.org Brasil e do Instituto Arayara, desde 2016. Entre os resultados desse esforço conjunto de mobilização, que inclui representantes da sociedade e dos poderes públicos e legislativo, estão a aprovação da primeira lei anti-fracking em definitivo no Brasil, que foi sancionada em julho deste ano, pelo governo do Paraná, e a aprovação também, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, do projeto de lei nº 145/2019, que assegura a proibição da exploração do xisto no estado, que seguiu para sanção do governador. Mais um avanço importante aconteceu recentemente nesta agenda. O debate sobre o tema chegou ao Senado, em audiência pública realizada em agosto de 2019. 

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Sucena Shkrada Resk – jornalista ambiental, especialista em política internacional, e meio ambiente e sociedade, é digital organizer da 350.org Brasil

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