Daiana Lopes
Vinte anos se passaram desde a morte do indígena pataxó Galdino Jesus dos Santos, queimado vivo por quatro jovens enquanto dormia em um ponto de ônibus, em Brasília. O caso que ganhou repercurssão nacional é apenas um entre incontáveis crimes cometidos contra indígenas, que passam despercebidos, ocultos por seus autores ou ignorados pela grande mídia.
Galdino foi à capital com outras sete lideranças para reinvindicar a recuperação da Terra Indígena Caramuru-Paraguaçu, em conflito fundiário com fazendeiros – que vitimou anos antes seu irmão. Passa o tempo, mudam etnias e aldeias, mas a problemática persiste ao longo do território nacional.
E a violência, institucionalizada, muitas vezes incitada pelos próprios representantes políticos do país, acaba por alimentar o preconceito e o racismo contra os povos originários – como alguns exemplos, a polêmica fala do Deputado Federal, Luis Carlos Heinz – ao afirmar que índios, quilombolas e homossexuais “são tudo o que não presta” e afirmações preconceituosas do ministro Gilmar Mendes, na discussão sobre o marco temporal.
É o que aponta Kretã Kaingang, representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e coordenador do programa indígena da 350.org Brasil. Kretã participou nesta quinta-feira (18) do Debate Público “De Galdino a Marcondes”, ao lado de diversas lideranças indígenas na Universidade Federal da Bahia, em Salvador, para debater propostas para uma luta nacional contra o racismo – evento organizado Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (MUPOIBA).
“Foi um encontro importante pois todos puderam expor situações e pudemos falar também sobre o assassinato do parente Xokleng. É consenso que diversos casos vivenciados tratam-se de crimes de racismo e de ódio – que observamos com mais força agora na região sul, que possui um histórico recente de crimes contra indígenas”, afirma o líder kaingang.
O caso mais recente de crime contra indigenas aconteceu no dia 1 de janeiro, em Santa Catarina. O professor Marcondes Xokleng foi morto a pauladas durante a madrugada e o assassino alegou motivo fútil. Familiares e movimentos indígenas defendem o apronfundamento das investigações para chegar à real motivação do crime.
O grupo sugeriu que sejam realizados novos encontros para debates sobre o racismo contra povos originários em outras universidades do país. Representates da Universidade Federal da Bahia devem encaminhar um documento a outras instituições para sugerir a apresentação do tema. “Precisamos não apenas cobrar justiça quanto a crimes já realizados, mas reforçar o combate a discursos que incitam essa violência”, afirma Kretã