Foto satélite mostra desmatamento

Foto: INPE

Um grupo de 107 cientistas de 52 países produziu um relatório especial inédito do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado neste mês, que subsidiará as discussões e negociações na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP-25), que acontece em dezembro, no Chile. Em vez de focar somente em combustíveis fósseis, este documento trata especificamente das emissões dos Gases de Efeito Estufa (GEEs) provenientes do uso da terra, ressaltando a relação com mudanças climáticas, desertificação, degradação da terra, segurança alimentar e fluxos desses gases em ecossistemas terrestres.

Os pesquisadores analisam que não há mais espaço para um modelo de agropecuária extensivo, pois não corresponde a esforços para a sustentabilidade do planeta. E entre os caminhos para reduzir os efeitos da aceleração das mudanças climáticas e Aquecimento Global em curso, recomendam a urgência da redução do desmatamento de florestas tropicais, o replantio de vegetação nativa para sequestrar dióxido de carbono (CO2) e o foco em produção e consumo sustentável de alimentos, com destaque à necessidade da diminuição do desperdício, já que cerca de um terço dos alimentos produzidos no mundo é perdido ou desperdiçado. Isso reduziria também as emissões de GEEs. No grupo de autores, há quatro brasileiros.

Este é o segundo de três documentos especiais, que antecedem o sexto relatório da série principal do IPCC a ser divulgado em 1922, que reúne centenas de cientistas do mundo inteiro, com o objetivo de trazer avaliações e propor mitigações (redução de danos) e adaptações às mudanças climáticas.

O relatório especial anterior foi lançado no final de 2018, e tratou da proposta de limitação do Aquecimento Global de 1,5º C em relação ao período pré-industrial, uma meta avaliada como mais segura do que um cenário de 2º C, quanto aos impactos climáticos. Durante o Acordo de Paris, na COP-21, 195 países se comprometeram em realizar esforços para atingir este objetivo.

Trazer para a o centro da discussão o tema “uso da terra” se deve ao fato de que a agricultura, a silvicultura e outros tipos de uso da terra representam 23% das emissões humanas dos GEEs, como destaca o pesquisador Jim Skea, um dos co-presidentes de grupos de trabalho do IPCC. Segundo Skea, ao mesmo tempo, os processos naturais de terra absorvem dióxido de carbono (Co2) equivalente a quase um terço das emissões de CO2 dos combustíveis fósseis e da indústria.

O documento alerta que atualmente 500 milhões de pessoas já vivem em áreas que passam por desertificação. Essas populações são mais vulneráveis às mudanças climáticas e aos eventos extremos, incluindo seca, ondas de calor e tempestades de poeira. Por outro lado, em outras regiões, se intensificam chuvas, ciclones e tornados.

Com a constatação de cenários mais drásticos, que já podem ser observados em diferentes partes do planeta, o relatório sinaliza o aumento dos riscos de escassez de água, danos causados por incêndios, degradação do permafrost na região do Ártico e instabilidade alimentar, mesmo que o Aquecimento Global seja de cerca de 1,5º C.

As populações mais afetadas por impactos drásticos neste cenário de insegurança alimentar, de acordo com os cientistas, são de países de baixa renda da África, Ásia, América Latina e Caribe.

Com a expectativa de uma população com 9,7 bilhões de pessoas até 2050, caso as nações não tomem medidas sustentáveis, é estimado que 140 milhões de pessoas se verão forçadas a migrar dentro de seus países de origem por causa das mudanças climáticas. A projeção foi feita pelo Banco Mundial.

350.org e as mudanças climáticas

A 350.org é um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Nossas ações vêm ao encontro de medidas que visem inibir a aceleração das mudanças climáticas pela ação humana, que incluem também a manutenção das florestas.

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Sucena Shkrada Resk – jornalista ambiental, especialista em política internacional, e meio ambiente e sociedade, é digital organizer da 350.org Brasil