Como e por que os super-ricos devem pagar para ajudar a resolver a crise climática

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Por que devemos taxar os bilionários para ajudar a resolver a questão do clima

A taxação de riquezas social e ecologicamente destrutivas deveria ser uma questão óbvia. A ação urgente e necessária para abastecer o mundo com energia renovável mais barata e limpa e reduzir nosso uso de energia exige um enorme investimento público, mas os governos do Norte Global não estão se mobilizando. A controvérsia sobre quem deve pagar a conta da ação climática é um debate internacional. Forçar a parcela mais rica da sociedade a pagá-la, por meio de impostos sobre a riqueza, é uma das soluções mais claras e diretas para esse problema. Os governos não apenas poderiam arrecadar os trilhões necessários para lidar com a crise climática, como ajudariam a reduzir a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres.

A questão de quem paga pela ação climática é o cerne de uma guerra cultural que está sendo alimentada na Europa e em outras partes do mundo. A extrema direita e seu negacionismo climático manipulam o público em escala planetária, dizendo que as pessoas comuns terão que pagar pelas medidas favoráveis ao clima, como a construção de mais painéis solares ou a instalação de aquecimentos. Isso definitivamente não é verdade. A questão sobre quem paga não é algo inevitável, mas uma escolha – e a realidade é que os super-ricos podem e devem ser forçados a contribuir. Os bilionários e multimilionários costumam pagar muito menos do que sua justa e devida parcela de impostos, ao mesmo tempo em que contribuem de forma desproporcional para a crise climática, que afeta as pessoas mais pobres em países ricos e nações vulneráveis ao clima. Um imposto sobre a riqueza disponibilizaria os recursos necessários para enfrentar as crises do clima e do custo de vida. Tornaria a energia mais barata e renovável, com nossas casas seguras e aconchegantes, viagens mais acessíveis e convenientes, ar e água mais limpos, além de fornecer o financiamento há muito prometido às nações mais pobres do mundo para que possam reparar e prevenir danos climáticos, ampliando a transição para as energias renováveis.

Não pode haver mais atrasos, bodes expiatórios nem desculpas. Quase dez anos após a assinatura do Acordo de Paris, os países ricos ainda não conseguem fornecer nem o mínimo necessário a cada ano para reparar e prevenir danos climáticos, construir infra estruturas à prova do clima ou produzir mais energia renovável no nível e na velocidade exigidos pela crise climática. Diversas vezes, líderes de governos – muitos dos quais expostos ao lobby de bilionários – escolheram a austeridade em vez da ação. Incorreta e desastrosamente, muitos deles jogaram a culpa por um sistema econômico falido em grupos marginalizados, como imigrantes e a comunidade LGBTQ+, em vez de fazerem escolhas políticas para garantir que as crianças tenham comida no prato e as pessoas recebam bons cuidados de saúde e possam viver em casas aconchegantes, com condições de pagar por elas.

Os super-ricos – que acumulam riquezas impressionantes, sonegando impostos e explorando trabalhadores comuns – são uma das razões pelas quais nosso sistema econômico está quebrado. De mãos dadas, os chefes dos combustíveis fósseis e outras empresas megapoluidoras causaram e estão piorando a crise climática com seu lobby e recusa em mudar. Adotar medidas urgentes e significativas para taxar a riqueza excessiva, destrutiva e ilegítima dessas pessoas é um passo para consertar essa situação. Os bilionários incluídos neste dossiê são apenas a ponta do iceberg. Mas eles são, em grande parte, exemplos de uma classe ultrarrica que, até agora, tem agido com impunidade, representando não apenas um problema a ser resolvido, mas uma oportunidade de promoção de mudanças transformadoras para todos que se preocupam com a justiça climática.

“É impossível combater seriamente as mudanças climáticas sem uma profunda redistribuição da riqueza, tanto dentro dos países quanto internacionalmente.”

THOMAS PIKETTY
professor de Economia da Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais

 

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Por que esses bilionários?

Nenhum dos bilionários mencionados neste dossiê paga a mesma proporção de impostos que as pessoas comuns. Seis dos bilionários são do Reino Unido, da França e da Alemanha — os três países mais ricos da Europa. Dois são do Brasil, onde o governo está liderando apelos por um “imposto sobre bilionários” nas reuniões do G20 e sediará negociações climáticas críticas da ONU em 2025. Alguns bilionários evitaram pagar impostos durante pelo menos parte de suas vidas, e a maior parcela de suas rendas – que eles usam para comprar propriedades e outros ativos – vem da riqueza, não do trabalho. Muitos usam empresas de fachada e paraísos fiscais, enquanto alguns se mudaram de país para evitar impostos. Alguns desses indivíduos super-ricos usaram suas riquezas para tentar influenciar a política.

Outros, para burlar regulamentações sobre poluição e emissões, enquanto outros usaram o poder de suas fortunas para pressionar trabalhadores. Em outras palavras, todos estão enganando o sistema de alguma forma – usando brechas para evitar o pagamento dos impostos que as pessoas comuns pagam e usando suas fortunas para atropelar processos e decisões democráticas. Em paralelo, seus investimentos e estilos de vida estão destruindo o planeta. Esses oito bilionários são apenas uma amostra da riqueza mundial de 2.781 bilionários e ilustram precisamente por que precisamos tanto de um imposto sobre a riqueza dos super-ricos.

Jim Ratcliffe

Fracking, plásticos e produtos químicos

Quem é Jim Ratcliffe?

Jim Ratcliffe é o presidente e fundador do INEOS Group, conglomerado multinacional especializado em petróleo, gás e produtos petroquímicos. A INEOS é a 11ª maior empresa de produtos químicos do mundo. Em 1998, Ratcliffe comprou a empresa da qual ele era um dos cofundadores, a Inspec, e a antiga unidade química da BP na Antuérpia que ele havia arrendado para formar a INEOS. A partir daí, a empresa seguiu um padrão de comprar fábricas químicas indesejadas de empresas como a ICI e a BP, impondo medidas implacáveis de redução de custos, mirando nos sindicatos, e evitando tributações

Posição na lista dos mais ricos do mundo

Ratcliffe ocupa a posição número 111 na lista de bilionários da Forbes de 2024. No Reino Unido, ele está em segundo lugar, conforme a Forbes, e em quarto, de acordo com a lista dos mais ricos do Sunday Times, que estima a fortuna do magnata da química em 23,5 bilhões de libras.

Atitude em relação aos impostos

Em 2019, Ratcliffe pagou 110 milhões de libras de imposto de renda, o que pode parecer muito, mas representa apenas 0,59% de sua riqueza naquele ano. Ele se mudou para Mônaco, um paraíso fiscal, e desde então não paga nenhum imposto no Reino Unido.

Ratcliffe transferiu a INEOS para Rolle, Suíça, em 2010, após uma discussão com o governo trabalhista do país sobre a garantia de um período de carência para uma cobrança de IVA de 350 milhões de libras. A mudança de país pode ter possibilitado a economia de 100 milhões de libras por ano da empresa em pagamentos de impostos. Em 2016, a INEOS retornou ao Reino Unido após cortes governamentais no imposto sobre as empresas, mas a fatura fiscal da companhia cresceu de 39 milhões para 67 milhões de libras

Em 2019, a empresa de contabilidade PwC, fortemente criticada por esquemas de evasão fiscal, ameaçou renunciar à posição de auditora da INEOS no contexto de um ambicioso esquema de evasão fiscal. Idealizada por Ratcliffe e outras figuras importantes da INEOS, a manobra teria permitido que eles sacassem bilhões de libras da empresa sem pagar ganhos de capital ou imposto de renda. Sir Vince Cable, então líder liberal democrata, disse que pessoas como Ratcliffe estavam“tratando a tributação como algo puramente voluntário”.

Que frack é esse?

Em 2014, Ratcliffe disse que queria começar uma“revolução do gás de xisto”no Reino Unido, ganhando rapidamente a reputação de uma abordagem de “subornos e escavadeiras” em relação ao fracking. Em 2017, eles propuseram a operação de fracking na icônica floresta de Sherwood e ameaçaram a National Trust com um processo judicial, a menos que fosse permitido o fracking em terras mantidas pela entidade em Nottinghamshire. Em 2018, a INEOS recusou-se a descartar a possibilidade de perfurar no North Moors National Park. Depois de o governoreintroduzir sua moratória sobre o fracking em outubro de 2022, a INEOS direcionou suas atenções para o Texas, gastando 1,2 bilhões de libras em 2.300 poços de petróleo e gás da empresa estadunidense de exploração de gás Chesapeake Energy, em fevereiro de 2023.

Bombas de carbono, água suja e ar poluído

A INEOS também está por trás do maior projeto de plástico da Europa, chamado sinistramente deOne Projectuma usina de

'craqueamento' em Antuérpia que a ClientEarth diz ser uma“bomba de carbono, que terá impacto na saúde humana e no meio ambiente”. Em fevereiro de 2024, a ClientEarth preparou sua quarta ação legal“falhou ao não fornecer às autoridades detalhes completos sobre o impacto da usina proposta nas pessoas, na natureza e no clima”. No Reino Unido, a fábrica da INEOS em Middlesbrough registrou 176 violações de licenças (entre 2014 e 2017), 90 das quais relacionadas a emissões atmosféricas e hídricas

Lobby para contornar regulamentações ambientais

Antes do referendo da UE, a INEOS fez lobby para se isentar do imposto sobre mudanças climáticas do Reino Unido e abolir o preço mínimo de carbono do Reino Unido. Em fevereiro de 2024, Ratcliffe escreveu a Ursula von der Leyen alegando que os impostos sobre o carbono estavam “afastando investimentos”da Europa.

Sportswashing

A INEOS patrocina grandes equipes esportivas, incluindo o Manchester United, os All Blacks e a equipe do Tour de France INEOS Grenadiers (que se chamava Team Sky). Os patrocínios custam relativamente pouco e dão à empresa o que é conhecido como “licença social para operar”associando uma empresa de combustíveis fósseis e produtos químicos ao que a maioria das pessoas considera algo inequivocamente bom, como o esporte.

“Vim, comprei e conquistei.”

Para marcar o 20º aniversário da empresa, Ratcliffe contratou um designer para criar um brasão da INEOS que ostentasse o lema em latim VENI EMI VICI,“Vim, comprei e conquistei.”

James Dyson

Aspiradores de pó, purificadores de ar e agronegócio

Quem é James Dyson?

Dyson é mais conhecido como o inventor do aspirador de pó sem saco. A Dyson Ltd., fundada em Malmesbury, tem sede em Singapura desde 2019. Além de produzir aspiradores de pó, secadores de mãos, secadores de cabelo, ventiladores sem pás e purificadores de ar, Dyson é agora o maior produtor rural do Reino Unido com mais de 14.500 hectares espalhados por Lincolnshire, Oxfordshire, West Berkshire, Somerset e Gloucestershire.

Posição na lista dos mais ricos do mundo

140 na lista de bilionários da Forbes de 2024. No Reino Unido, ele ocupa o 5º lugar no ranking dos mais ricos do Sunday Times

Atitude em relação aos impostos

A Dyson Limited foi uma das muitas empresas envolvidas no que ficou conhecido como Lux Leaks – documentos vazados que mostravam como Luxemburgo ajudou multinacionais a não pagarem milhões em impostos. Em 2014, uma investigação do jornal The Guardian descobriu que, em 2011, a empresa de Dyson havia criado empresas na Ilha de Man e em Luxemburgo, usadas para obter empréstimos de 300 milhões de libras para suas operações no Reino Unido. Os pagamentos de juros sobre os empréstimos cortaram a conta de impostos da Dyson no Reino Unido

Em 2018, o Sunday Times revelou que James Dyson era um investidor emtrês empresas do setor audiovisual que evadem impostos. Em abril de 2021, mensagens de texto vazadas mostraram que Dyson havia se comunicado com o então primeiro-ministro Boris Johnson, durante a primeira onda da pandemia de covid-19, para perguntar se engenheiros que se mudassem para o Reino Unido para trabalhar na fabricação de ventiladores estariam livres do pagamento de impostos. Johnson respondeu: . Dyson mudou-se para Singapura com o seu negócio em 2019, mas os registros de suas empresas mostram que no dia seguinte ao lobby junto ao primeiro-ministro para contornar regras tributárias, ele retornou ao Reino Unido. 

Em 2024, James Dysonpagou 156 milhões de libras em impostos, o que parece muito, mas é apenas 0,68% de sua riqueza. A verdade é que nenhum bilionário paga os impostos condizentes com suas fortunas.

Liberdade para cortar empregos no Reino Unido

Em julho de 2024, Dyson anunciou que cortaria um terço de sua força de trabalho no Reino Unido como parte deuma “sacudida global” A empresa já havia cortado 600 empregos no Reino Unido durante a pandemia de covid-19, forçando muitas pessoas a ficarem sem trabalho remunerado, enquanto os bilhões da Dyson seguiam aumentando. Talvez fosse esse o tipo de “liberdade” de que Dyson falava quando disse sobre o Brexit: “Nós temos nossa liberdade , podemos fazer acordos comerciais com outros países fora da Europa [e] podemos empregar pessoas do mundo todo.”

Trabalho forçado e condições perigosas na Malásia

Em fevereiro de 2022, uma investigação do Channel 4 revelou alegações de maus-tratos em uma fábrica da ATA que produz peças para a Dyson.O escritório de advocacia Leigh Day abriu processo contra a Dyson Ltd. em nome dos trabalhadores, citando a falha reiterada da empresa em agir em relação às queixas feitas pelos denunciantes. Em outubro de 2023, o Tribunal Superior do Reino Unido concordou com o argumento da equipe jurídica de Dyson de que o caso deveria ser julgado na Malásia. Os trabalhadores ganharam o direito de apelar em junho de 2024, e o caso será analisado pelo Tribunal de Recursos em novembro de 2024.

Mas Dyson também faz coisas boas com o dinheiro dele, não?

Dyson organiza uma competição anual de inovação climática, uma universidade privada doou milhões para sua antiga escola particular e 6 milhões de libras para financiar um centro de “ciência, tecnologia, engenharia, arte e matemática” em uma escola primária de Malmesbury. É claro que os indivíduos podem decidir o que fazem com seu dinheiro, mas doações individuais não substituem o pagamento de impostos. Pessoas comuns não estão isentas se comprarem um bilhete de rifa na festa da escola local. Dyson não deveria ter passe livre para sonegar impostos ao comprar o prédio de uma escola com sua imensa riqueza.

Bernard Arnault

“O lobo em caxemira”

Quem é Bernard Arnault?

Arnault é o homem mais rico do mundo, segundo a lista de bilionários da Forbes de 2024. Ele supervisiona o império LVMH, que inclui as marcas de luxo Louis Vuitton, Guerlain e Dior, além da marca de perfumes e cosméticos Sephora e da rede global de supermercados Carrefour. Arnault começou investindo US$ 15 milhões de sua família para criar a holding que lhe permitiu comprar a Dior em 1984. A partir daí, sua abordagem implacável às aquisições lhe rendeu o apelido de “o lobo em caxemira”. Arnault transformou a LVMH num nome familiar global, por meio do patrocínio “premium” de 150 milhões de euros da empresa para as Olimpíadas de 2024, impondo frequentemente a marca no que supostamente eram zonas livres de patrocínio. Ele confia muito em sua capacidade de atrair celebridades, como Pharrell Williams, Zendaya, e o rapper sul-coreano J-Hope para moldar a imagem pública da Louis Vuitton e de outras marcas de luxo.

Posição na lista dos mais ricos do mundo

Segundo a lista de bilionários da Forbes de 2024, Bernard Arnault (e sua família) é considerado a pessoa mais rica do mundo, embora ele esteja próximo da quarta posição na lista de bilionários da Bloomberg, que é atualizada diariamente. Na França, ele é o mais rico – US$ 133 bilhões de dólares à frente de seu concorrente mais próximo, de acordo com a lista de bilionários da Forbes de 2024.

Atitude em relação aos impostos

Arnault mudou-se do país no início da década de 1980 para escapar do imposto sobre a riqueza de François Mitterand. Quando o presidente François Holland propôs um imposto de 75% sobre a riqueza em 2012, Arnault buscou obter fa nacionalidade belga. O bilionário retirou o pedido em 2013, na mesma época em que o Ministério Público belga abriu inquérito para investigar uma empresa ligada à LVMH, a Pilinvest –holding familiar criada para não pagar impostos sobre herança. Existem 14 subsidiárias da LVMH na Bélgica, totalizando 20 bilhões de euros em ativos para apenas 14 funcionários, cada um deles obtendo 411 milhões de euros em lucro. Ao tornar Bruxelas o centro financeiro da LVMH, em vez de Paris, estima-se que a empresadeixou de pagar 700 milhões de euros em impostos entre 2008 e 2016. De acordo com o Observatório Multinacional, em 2020 a LVMH teve 305 subsidiárias com sede em paraísos fiscais. 

Destruindo o planeta

O estilo de vida de consumo elevado de Arnault implica numa emissão individual de carbono equivalente à de 1.158 franceses comuns . Seu iate particular, chamado Symphony, é responsável por 86% das emissões anuais do bilionário, poluição que equivale a de 996 franceses comuns. Arnault vendeu seu jato particular em 2022 para evitar o escrutínio de ativistas do Twitter que contavam as emissões de seus voos com uso intenso de combustíveis fósseis. Agora ele freta jatos particulares , igualmente poluentes.p>

Espionagem e lavagem de dinheir

Em 2023, o Ministério Público de Paris iniciou uma investigação de possível lavagem de dinheiro relacionada a um complicado acordo comercial envolvendo Arnault e o oligarca russo Nikolai Sarkisov. Em 2021, a LVMH, empresa de Arnault, pagou US$ 10,2 milhões em acordos judiciais sobre queixas de que um ex-chefe da inteligência francesa teria espionado para a empresa.

Mantendo tudo em família

Em 2022, Arnault mudou a estrutura jurídica da holding familiar Agache para uma sociedade anônima visando garantir que sua riqueza extrema permaneça na família a longo prazo. Os estatutos da LVMH também foram alterados para aumentar a idade máxima do CEO de 75 a 80 anos

O exterminador (de empregos)

Arnault tem a reputação de expulsar fundadores e dividir famílias e sócios. Ele comprou a Boussac Saint-Frères pela quantia simbólica de um franco em 1984, garantindo ao governo que preservaria empregos. Em cinco anos, Arnault despojou a empresa de tudo, mantendo a Dior, e tirou o emprego de 8 mil pessoas, o que lhe valeu o nome de “O Exterminador”É um padrão que Arnault segue desde então: aproveita oportunidades, aumenta preços e corta empregos enquanto expande o próprio império.

E aproveitador de negócios duvidosos

Arnault usou derivativos para ter uma participação na Hermès, o que lhe rendeu multa deUS$ 8 milhões da Autoridade de Mercado Financeiro da França, muito menos do que ele arrecadou quando vendeu as ações: US$ 2,4 bilhões

Vincent Bolloré

O Murdoch francês

Quem é Vincent Bolloré?

“Nunca antes tanta influência foi concentrada nas mãos de um homem, e nunca antes tal influência foi usada para promover uma agenda tão extrema.”Alexis Lévrier

O império de Vincent Bolloré começou com o conglomerado Bolloré Group de sua família, fundada em 1822 como fabricante de embalagens de cigarro e bíblias. Após passagem pela Rothschilds, Bolloré assumiu o controle do grupo em 1981 e o usou para criar um gigante global. Além da reputação nas áreas de construção, logística e transporte, Bolloré ficou conhecido como Rupert Murdoch da França. Ele criou a versão francesa da Fox News e promoveu uma guinada drástica da mídia francesa para a direita, renomeando a i-Télé como C News, semelhante à Fox, e transformando o influente Journal du Dimanche em veículo alinhado à extrema direita. Segundo relatos, longe dos olhos do público, Bolloré diz: ”Eu uso a minha mídia para minha luta civilizacional”.

Posição na lista dos mais ricos do mundo

Bolloré (e família) ocupavam a posição 224 da lista de bilionários da Forbes em março de 2024, embora em setembro sua riqueza tenha aumentado para US$ 11 bilhões, conforme dados atualizados em tempo real. Na França, Bolloré (e família) ocupam a 11ª posição entre os mais ricos, segundo a lista de bilionários da Forbes 2024.

Atitude em relação aos impostos

O bilionário construiu uma estruturação complexa, que envolve uma constelação de holdings familiares, com a qual ele é capaz de acumular centenas de milhões de dólares e evadir impostos. Ao manter o dinheiro que deveria ser distribuído (à família Bolloré) nesse conjunto de holdings, Bolloré obtém uma vitória dupla: não paga imposto sobre dividendos e infla os balanços das holdings, permitindo que a família tenha acesso a mais financiamentos.

Corrupção colonial

Bolloré foi acusado de subornar políticos na África, cobrando preços abaixo do valor de mercado por seus serviços em troca de concessões portuárias no Togo e por meio de negociações inescrupulosas em Gana. Em fevereiro de 2021, a empresa pagou uma multa de 12 milhões de euros para evitar processos na França após alegações de corrupção, vendendo, naquele mesmo ano, suas operações logísticas na África para a empresa de transporte MSG Group Em junho de 2024, a instituição judicial francesa que investiga crimes financeiros pediu o julgamento de Bolloré por seu papel nos negócios da empresa em Togo. 

Mais flagrante que Murdoch: controle da mídia e apoio à direita que é um atraso para o clima-

“Unir a direita francesa e levá-la ao poder sempre foi o principal objetivo de Bolloré”Alexis Lévrier, historiador da mídia

Bolloré colocou seu império midiático a serviço da direita nacionalista na França. Ele é amplamente visto como autor da aliança de até então rivais que levou esse espectro ideológico a chegar muito perto do poder.Bolloré foi visitado pelo líder conservador Eric Ciotti na manhã seguinte ao anúncio de Macron de uma eleição antecipada para 9 de junho de 2024. O magnata recebeu o apelo para apoiar o Reagrupamento Nacional. A coalizão prometeu desmantelar o Pacto Ecológico Europeu, reverter a proibição de novos motores de combustão e abandonar a estratégia “Da fazenda ao garfo” da União Europeia, que promove padrões sustentáveis na cadeia agroalimentar.

Bolloré compra títulos, os esvazia e usa sua credibilidade para promover uma agenda radicalmente diferente. Ele nomeou Geoffroy Lejeune, ex-editor-chefe de uma revista de extrema direita, condenado por publicar discurso de ódio racista, para chefiar a conhecida publicação semanal Journal du Dimanche.

Suzanne Klatten e Stefan Quandt

Abastecendo a crise climática, um negócio familiar

Quem são Suzanne Klatten e Stefan Quandt?

Os herdeiros da BMW, Susanne Klatten e seu irmão Stefan Quandt, são nomes recorrentes nas listas das pessoas mais ricas da Alemanha. Susanne Klatten é a mulher mais rica do país, com ativos que totalizam US$ 26,4 bilhões. Seu irmão, Stefan Quandt, possui ativos no valor de US$ 27,3 bilhões.

Posição na lista dos mais ricos do mundo

Suzanne Klatten está na posição 71 na lista de bilionários da Forbes de 2024, Stefan Quandt é o 68º colocado. Na Alemanha, os herdeiros da fortuna da BMW são os quartos e quintos mais ricos do país, segundo a lista de bilionários da Forbes de 2024. A revista Manager coloca os irmãos em segundo lugar entre os mais ricos da Alemanha, com um patrimônio líquido conjunto de 34,4 bilhões de euros (significativamente menor que os números da Forbes).

Atitude em relação aos impostos

Klatten disse que está feliz em pagar impostos “aqui na Alemanha”, mas a família faz uso de diversos mecanismos diferentes para a evasão fiscal. Em 2007, ela recebeu 2,37 bilhões de euros 2,37 bilhões de euros em dividendos, transferidos para uma holding, reduzindo significativamente sua conta de impostos.

Klatten e Quandt receberam uma parte de sua riqueza extrema anos antes da morte de sua mãe, evitando imposto sobre herança. Como explica Stefan Bach, pesquisador de economia pública vinculado ao Instituto Alemão de Pesquisa Econômica, Klatten e Quandt não pagam a maior taxa de imposto de renda da Alemanha porque "sua renda é amplamente separada em estruturas empresariais e, portanto, não está sujeita ao imposto de renda progressivo."

Dividendos em uma pandemia

Em 2020, a BMW foi criticada por emitir 700 milhões de euros em dividendos para Klatten e Quandt, em meio à pandemia de covid-19, enquanto milhares de seus trabalhadores estavam em licença.

Abastecendo a crise climática

Em 2021, a Comissão Europeia multou a BMW e o Grupo VW em 875 milhões de euros por conluio para limitar a tecnologia de limpeza de emissões, mediante combinações para aderir apenas aos padrões mínimos absolutos. Em 2007, a empresa recebeu o prêmio "Pior Lobby da UE" por uma campanha conjunta visando desestimular e atrasar as metas obrigatórias de redução de CO2.

Riqueza construída por meio de campos de trabalho forçado

Em 2011, um projeto de pesquisa liderado pelo historiador Joachim Scholtyseck e encomendado pela família concluiu que os Quandtslucraram com o uso extensivo de trabalho escravo durante a Segunda Guerra Mundia. A família também lucrou com a apropriação de empresas de propriedade de judeus, o que proporcionou as bases para seu império bilionário. Klatten reconheceu as irregularidades, mas os irmãos nunca ofereceram qualquer tipo de compensação.



A família Porsche-Piech

O escândalo das emissões da Volkswagen, carros beberrões e rixas familiares

Quem é a família Porsche-Piech?

É complicado, mas há muitos deles, e todos estão envolvidos ou lucram com a fabricação de automóveis. Ferdinand Piech é conhecido por criar um ambiente tóxico e rigoroso na Volkswagen, o que contribuiu para o escândalo de emissões de 2015. Ele deixou a empresa pouco antes do caso estourar, deixando seu prodígio Martin Winterkorn levar a culpa. O jornalista do meio automobilístico John Phillips descreveu como o “sorriso [de Ferdinand] ficou conhecido por reduzir a temperatura dos ambientes em 15 graus”.Um executivo de alto escalão, falando em anonimato ao New York Times, afirmou que a Volkswagen conhece só uma forma de gestão: “seja agressivo o tempo todo.”

Posição na lista dos mais ricos do mundo

A família Porsche-Piech não está na lista de bilionários da Forbes, mas estima-se que eles tenham ativos que valem uma fortuna combinada de US$ 22,5 bilhões A Old Money Society aponta que a riqueza combinada da família é de US$ 55 bilhões. Suas rixas internas são lendárias, e, quando Ferdinand Piech morreu repentinamente em 2019, sua fortuna foi dividida entre sua esposa, três ex-esposas e 13 filhos. Acredita-se que a família Porsche-Piech seja a sétima mais rica da Alemanha, segundo as revistas Stern e Manager.

Atitude em relação aos impostos

Quando a família Porsche se mudou da Alemanha para a Áustria em 2010,Wolfgang Porsche conseguiu postergar seu imposto de saída da Alemanha, sem juros, graças a uma emenda de 2006 à lei alemã, que adia o pagamento de impostos até que ele venda suas ações.Além disso, os assessores do bilionário criaram uma maneira de não pagar impostos sobre ações, ao transferir a propriedade dessas ações por meio de uma série de transferências, evitando também o imposto austríaco sobre ganhos de capital,segundo o jornal Frankfurter Allgemeine. Essa parte do plano foi interrompida pelas autoridades alemãs, que aprovaram uma lei para impedir a evasão fiscal por meio da transferência de ações, a qual ficou conhecida como ”Lex Porsche”. 

Escândalo de emissões da Volkswagen

O escândalo de emissões da Volkswagen nunca foi diretamente ligado a Ferdinand Piech, mas ele é amplamente creditado por estabelecer a cultura empresarial que levou ao escândalo e que “manchará para sempre todas as grandes coisas que ele conquistou”, na visão de Eric Schiffer, presidente da Reputation Management Consultants. Em 2015, as autoridades alemãs iniciaram uma investigação sobre suspeita de evasão fiscal pela Volkswagen porque os veículos afetados pelo escândalo das emissões receberam uma faixa de impostos mais baixa.

Driblando a regulamentação ambiental #Porschegate

Há relatos de que o chefe da Porsche, Oliver Blume, se gabou de ter mantido um contato muito próximo com o líder do partido FDP, Christian Lindner, durante as negociações de coligação – alegando ter desempenhado um papel importante na inclusão de compromissos para pressionar a UE em prol de uma exclusão da legislação que proíbe motores de combustão para combustíveis eletrônicos controversos.

Sem superar os combustíveis fósseis, trabalhadores pagam o preço

O fracasso em avançar para além dos combustíveis fósseis, apesar de receber bilhões em subsídios do governo, contribui para perdas e cortes de empregos na Volkswagen. Em 2024, a VW removeu garantias de emprego de décadas , e ameaçou o primeiro fechamento de fábrica em 87 anos de história da empresa. No fim de setembro, a Volkswagen rejeitou reivindicações sindicais, gerando greves contra perdas de empregos e possíveis fechamentos de fábricas prováveis a partir de dezembro de 2024. Os trabalhadores ergueram cartazes dizendo: “Escassez de trabalhadores qualificados no conselho”. Isso ocorreu após a empresa anunciar a intenção de poupar 10 bilhões de euros até 2026 e cortar custos com pessoal administrativo em um quinto.

Riqueza ligada ao regime nazista

As bases da riqueza da Volkswagen foram estabelecidas durante a 2ª Guerra Mundial. O cofundador Ferdinand Porsche buscou ativamente proximidade com o regime nazista para garantir pedidos. E obteve resultado: a empresa desenvolveu tanques, a bomba V-1 e o Fusca em resposta a um pedido de Hitler. Um estudo de 1996 mostrou como a Volkswagen fez uso extensivo de trabalho forçado durante a guerra. A fábrica de Wolfsburg, que ainda é o principal local de produção da Volkswagen, era originalmente um projeto prestigiado pelos nazistas,construído sob supervisão de Ferdinand Porsche. A família Porsche ignorou a demanda por uma parcela da empresa por parte de seu cofundador judeu, Adolf Rosenberger, após o fim da guerra.



Luciano Hang

Apoiador de Bolsonaro e rei das lojas de departamentos

Quem é Luciano Hang?

Showman conhecido por se vestir de verde e amarelo, dono de uma loja de departamentos, Luciano Hang venera o capitalismo americano. Suas lojas de departamento são construídas para se parecerem com a Casa Branca, ostentando na entrada réplicas da Estátua da Liberdade, algumas com mais de 30 metros de altura. Ele ficou famoso ao dizer que o Brasil é “um país de perdedores”, acrescentando: “Podemos ser vencedores”.

Posição na lista dos mais ricos do mundo

Hang está em 1.431º lugar na lista de bilionários da Forbes com uma fortuna de R$ 13 bilhões. No Brasil, ocupa a 22ª posição no ranking de pessoas mais ricas da revista CEO

Atitude em relação aos impostos

Hang, que gosta de se autodenominar um “patriota que luta pelo Brasil” manteve uma empresa, chamada Abigail Worldwide, com valor estimado de R$ 632,8 milhões, em um paraíso fiscal, há quase 20 anos, segundo investigações do jornal El País. Em 2003, Hang foi condenado a mais de três anos de prisão e multado por sonegar R$ 10,4 milhões em contribuições previdenciárias. A pena de restrição de liberdade foi reduzida para serviço comunitário e um plano de pagamento de dívida foi negociado. Em 2020, a Receita Federal constatou que a Havan, uma das empresas de Hang, havia sonegado contribuições previdenciárias, cobrando da empresa quase R$ 2,5 milhões em multas

Coerção de eleitores, conspiração para golpe e apoio a um presidente negacionista das alterações climáticas

Hang é um fervoroso apoiador do ex-presidente Bolsonaro e financiou envios de mensagens em massa do WhatsApp, impulsionou posts do Facebook , e foi multado em R$ 85 milhões por coagir seus funcionários a votarem em Bolsonaro nas eleições de 2018. Bolsonaro foi eleito recusando taxar os ricos e com uma promessa de redução geral de impostos. Durante o mandato, Bolsonaro cortou o financiamento de uma série de agências de proteção ambiental e incentivou o desmatamento da Amazônia. Defensores da natureza descrevem o impacto como “devastação”, “carnificina” e “apocalipse””.

A Polícia Federal fez uma operação de busca e apreensão na casa de Hang em 2022 após acusações de que ele havia debatido um golpe de estado em apoio a Bolsonaro com outros empresários. A conta de Hang no Facebook foi uma das várias encerradas após uma ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) – essas contas foram usadas para pedir um golpe militar que fechasse o STF e o Congresso

Os irmãos Batista

Destruindo a Amazônia e subornando políticos

Quem são os irmãos Batista?

Os irmãos Batista controlam em conjunto a JBS S.A., uma das maiores empresas de processamento de carne do mundo, por meio da holding J&F Investments. Em 2022, a JBS tornou-se a maior empresa de alimentos de qualquer tipo, superando a Nestlé. Na COP28, a JBS prometeu priorizar a sustentabilidade em toda a sua cadeia de suprimentos, mas a empresa tem sido repetidamente apontada como vinculada ao desmatamento ilegal da Amazônia. De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a J&F Investments “possui aproximadamente 250 empresas em 30 países”. Em 2022, a J&F comprou minas de manganês e minério de ferro no Brasil com o objetivo de criar a “JBS das minas”

Posição na lista dos mais ricos do mundo

Os irmãos ocupam o mesmo lugar na lista de bilionários da Forbes de 2024, na posição 991 da lista, com uma fortuna de US$ 3,3 bilhões (R$ 18,6 milhões). No Brasil, os irmãos ocupam a 13ª posição na lista das pessoas mais ricas do Brasil da CEO Magazine. Combinadas, as riquezas dos irmãos os levariam ao 6º lugar.

Atitude em relação aos impostos

Em 2019, a Receita Federal da Austrália iniciou uma investigação sobre a holding australiana da JBS, Flora Green, por suspeita de evasão fiscal. As investigações centram-se em uma recomendação da empresa global de contabilidade PwC de 2014, segundo a qual uma reestruturação internacional poderia resultar legalmente na economia de 250 milhões de dólares em impostos nos EUA e de até 70 milhões de dólares na Austrália se fosse deliberadamente estruturada como um serviço jurídico

Suborno de políticos, informações privilegiada e o escândalo de corrupção que quase derrubou um presidente

Em 2017, em delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato, os irmãos Batista entregaram uma rede de políticos com os quais passaram décadas cultivando relações. Eles descreveram à Justiça uma rede de subornos envolvendo mais de 1.800 políticos, que teriam facilitado o acesso a bancos estatais e fundos de pensão. A holding controlada pelos irmãos foi obrigada a pagar R$ 10,3 bilhões em indenizações ao longo de dez anos no Brasil e US$ 256 milhões nos EUA. Quando os Batista fizeram suas revelações, a bolsa brasileira atingiu o seu menor valor em 14 anos, forçando o fechamento do pregão no que ficou conhecido como “Joesley Day” após uma gravação que Joesley Batista fez de uma conversa com o então presidente Michel Temer.

Os irmãos também foram acusados de usarem informação privilegiada por vender ações e negociar em moeda estrangeira antes de um acordo judicial com os investigadores , mas foram absolvidos pela Comissão de Valores Mobiliários do Brasil. Os irmãos voltaram aos holofotes com os esforços do ministro do STF Dias Toffoli para desmantelar a Operação Lava Jato. Em 2020, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA emitiu uma ordem de cessar e desistir de um esquema de suborno referente à compra da Pilgrim’s Pride Corporation pelos irmãos.

Caos climático, exploração e opressão de povos indígenas

Gestores de ativos como Blackrock e Vanguard estão canalizando milhões de dólares para a JBS por meio de fundos marcados como “verdes”, mas que não rastreiam o desmatamento.

A expansão das pastagens para a criação de gado é responsável por 41% do desmatamento tropical . Na Amazônia, há criação de gado em 70% das terras desmatadas, sendo a JBS uma das maiores compradoras. Um relatório de 2024 da Global Witness vinculou a JBS a 80 mil campos de futebol de desmatamento no bioma Cerrado.

A Global Witness descobriu que um dos fornecedores da JBS, a rica dinastia do gado Seronni, cometeu violações de direitos humanos, utilizou trabalho escravo e esteve envolvida em desmatamento ilegal, grilagem de terras e “lavagem de gado”. A JBS criou gado ilegalmente na Terra Indígena Apyterewa entre 2013 e 2018.

A Fundação para a Justiça Ambiental descobriu o uso generalizado de trabalho escravo em fazendas fornecedoras da JBS. A Anistia Internacional concluiu que a tomada de terras para a pecuária ilegal, ligada à cadeia de fornecimento da JBS, resultou em ameaças, intimidações e violência contra quem protege seus territórios.

Um relatório da Mighty Earth e do Repórter Brasil descobriu que um composto-chave do agente laranja – um desfolhante mortal – foi pulverizado de aviões em mais de 81.200 hectares na Fazenda Soberana, no Pantanal, visando abrir caminho para a pecuária ligada à JBS e outras empresas de carne – o que o relatório descreve como desmatamento químico.’

Listagem na bolsa de valores de Nova York

Em julho de 2024, os irmãos reviveram uma ambição de décadas de terem uma empresa listada na Bolsa de Valores de Nova York. Os lobistas do grupo “Proíbam os Batistas” foi formado para se opor à perspectiva de uma oferta pública inicial da JBS, com grupos bipartidários de senadores fazendo lobby contra a medida. O estado de Nova York está processando a JBS por declarações enganosas de que a empresa pode reduzir as emissões enquanto cresce.


Menção (des)honrosa

Elon Musk

Elon Musk

Em março de 2024, Musk teve sua fortuna estimada em US$ 195 bilhões, segundo a lista de bilionários da Forbes, colocando-o em segundo lugar, atrás do bilionário francês Bernard Arnault. Em setembro de 2024, os dados em tempo real da Forbes apontaram que a riqueza de Musk seria  superior a US$ 266 bilhões. Conforme pesquisa da Propublica publicada em 2021, Musk não pagou nenhum imposto em 2018. Ele então  prometeu pagar US$ 11 bilhões em impostos em 2021 após experimentar opções de ações da Tesla, mas não se sabe quanto imposto o magnata realmente pagou. Entre 2019 e 2024, a Tesla não pagou nenhum imposto federal, apesar dos lucros de US$ 4,4 bilhões  e do pagamento de US$ 2,5 bilhões a executivos.

jeff bezos

Jeff Bezos

Bezos tinha  US$ 194 bilhões, conforme a lista de bilionários da Forbes de 2024. Em setembro de 2024, os dados ao vivo da Forbes estimaram a fortuna dele em mais de US$ 206 bilhões. Conforme pesquisa de 2021 da Propublica, Bezos não pagou nenhum imposto em 2007 e 2011. Em fevereiro de 2024, logo após Bezos anunciar sua mudança para a Flórida, para viver mais perto de seus pais, a CNBC destacou que a mudança resultaria na economia de US$ 600 milhões em impostos  relativos à venda de ações da Amazon, já que o novo estado não tributa ganhos de capital. 

O tratamento indigno da Amazon aos seus trabalhadores é notório. A empresa foi multada em 32 milhões de euros na França por vigilância “excessiva” dos trabalhadores. Os trabalhadores descreveram as condições nos armazéns como sendo semelhantes a uma “colônia do inferno” e uma “prisão”. A Amazon é responsável por mais emissões do que qualquer uma das outras “cinco grandes” empresas de tecnologia. A gigante da tecnologia também subestima sua pegada de carbono, contabilizando apenas seus próprios produtos (ou seja, 1% das suas vendas) e destrói milhões de itens a cada ano em apenas um de seus armazéns no Reino Unido.

Perfis dos países

Reino Unido: combustíveis fósseis, produtos químicos e aspiradores de pó

A lista de bilionários da Forbes conta com 55 bilionários que vivem no Reino Unido, com um patrimônio líquido total de US$ 225 bilhões. Os preços ao consumidor aumentaram 20,8% entre maio de 2021 e maio de 2024, enquanto os rendimentos reais estagnaram nos últimos 15 anos.

Apesar do enorme apoio público, o Reino Unido não tem imposto sobre a riqueza, e a tributação sobre rendas elevadas vem sendo reduzida drasticamente desde 1979. A taxa máxima do imposto de renda foi reduzida de 83% em 1979 para apenas 45% atualmente – e sem impostos sobre a riqueza, os bilionários pagam muito, muito menos.

Segundo a Equality Trust, a desigualdade custa ao Reino Unido 106,2 bilhões de libras a mais por ano, em danos para a economia, as comunidades e os indivíduos, em comparação com um país desenvolvido médio na OCDE.

Uma pesquisa realizada pela YouGov aponta que 78% dos eleitores apoiam um imposto anual sobre a riqueza daqueles com ativos avaliados em mais de 10 milhões de libras. Conforme o estudo, 62% apoiam o uso das mesmas taxas de imposto sobre o rendimento da riqueza que o rendimento do trabalho.

A renda proveniente de um imposto sobre a riqueza poderia reparar serviços públicos deteriorados devido a décadas de subfinanciamento, reconstruir escolas arruinadas, aquecer residências no inverno e financiar uma transição justa, criar milhares de novos empregos e dar apoio a trabalhadores da indústria siderúrgica decepcionados pela inação de sucessivos governos.

É necessário um imposto médio global de 8,6% sobre a riqueza dos bilionários para deter a desigualdade em espiral. No Reino Unido, um imposto de apenas 8,6% sobre a riqueza dos bilionários poderia interromper a crescente desigualdade e ajudar a financiar uma ampla gama de benefícios anuais, que incluem:

  • isolamento térmico de mais de 1,1 milhão de casas por ano e instalação de mais de 270 mil novos aquecedores para que as casas possam se manter aquecidas no inverno e frescas no verão;
  • construção de milhares de novas turbinas eólicas para fornecer energia segura e renovável a 900 mil lares, juntamente com uma garantia de energia para permitir que as demandas básicas sejam atendidas e ninguém fique sem energia para suas necessidades essenciais;
  • instalação de painéis solares em mais de 60 mil edifícios públicos, como escolas e hospitais, a cada ano, produzindo energia limpa e renovável;
  • treinamento para mais de 150,000 trabalhadores da indústria de combustíveis fósseis e de alto carbono visando requalificá-los para empregos à prova das mudanças do futuro em cidades como Port Talbot e Aberdeen;
  • introdução de mais de 3.700 novos ônibus elétricos. Modernização das redes ferroviárias e redução das tarifas desse modal, tornando as viagens mais fáceis e baratas e menos poluentes;
  • construção de milhares de moradias sociais a cada ano, garantindo que todos tenham um lugar seguro e aconchegante para viver;
  • salários para mais de 15 mil enfermeiros e mais de 17 mil prestadores de cuidados. Com fundos adicionais para fornecer mais de 10 novas bibliotecas e hospitais reformados para melhorar o bem-estar das comunidades;
  • proteção de casas, negócios e infra estruturas por meio de aumento significativo do financiamento atual para proteção contra inundações e incêndios florestais;
  • aumento das atuais 11,6 bilhões de libras em contribuições financeiras climáticas e ampliação maciça do compromisso atual de 60 milhões de euros por perdas e danos. Para ajudar a reparar a responsabilidade histórica para com os países mais afetados pela crise climática.

França: Riqueza oriunda de produtos químicos e bens de luxo

A França tem um total de 53 bilionários, segundo a lista de bilionários da Forbes de 2024. A riqueza de Bernard Arnault sozinha triplicou de US$ 75 mil bilhões em 2020 para US$ 233 bilhões  em 2024.

A desigualdade econômica está aumentando na França. Em 2021, as famílias 10% mais ricas possuíam 47% de toda a riqueza das famílias do país, em comparação com 41% em 2020.

A França tem uma cobrança de imposto sobre a riqueza, mas ela não é muito efetiva e foi significativamente enfraquecida. Em 2018, o imposto de solidariedade sobre a riqueza foi substituído por uma tributação sobre a propriedade, muito mais fraca, que arrecada 4,5 bilhões de euros a menos por ano. O IFI é um imposto escalonado sobre a propriedade, que exclui coisas como investimentos, veículos e jóias e tem muitas outras brechas.

Segundo pesquisa da Oxfam França, 76% dos franceses são favoráveis ao retorno do imposto solidário sobre a riqueza e 80% apoiam a abolição de brechas fiscais.

Macron ganhou rapidamente a reputação de “presidente dos ricos”: o imposto sobre a riqueza foi reduzido para um imposto sobre a propriedade, a tributação de empresas foi reduzida e um novo imposto fixo foi introduzido. Em setembro de 2024, o novo ministro das Finanças da França, Antoine Armand, confirmou a cobrança de  “impostos direcionados” , limitados e temporários, das famílias mais ricas. Mas as medidas poupam os super-ricos, e nenhuma parte da receita arrecadada será usada para aumentar os investimentos gerais em uma transição justa.

É necessário um imposto médio global de 8,6% sobre a riqueza dos bilionários para deter a desigualdade em espiral. Na França, um imposto de apenas 8,6% sobre a riqueza dos bilionários poderia interromper a crescente desigualdade e ajudar a financiar uma ampla gama de benefícios anuais, incluindo:

  • isolamento térmico de mais de 330 mil casas a cada ano, instalando mais de 430 mil aquecedores para manter as casas aquecidas no inverno e frescas no verão;
  • construção de milhares de novas turbinas eólicas para fornecer energia segura e renovável a 1,5 milhão de lares, juntamente com uma garantia de energia para assegurar que as demandas básicas sejam atendidas e ninguém fique sem energia para suas necessidades essenciais;
  • instalação de painéis solares em mais de 90 mil edifícios públicos anualmente, como escolas e hospitais, produzindo energia limpa e renovável;
  • treinamento para mais de 240,000 de trabalhadores da indústria de combustíveis fósseis e de alto carbono para requalificação visando trabalhos “à prova do futuro”;
  • Introdução de mais de 6 mil novos ônibus elétricos. Modernização das redes ferroviárias e redução das tarifas desse modal, tornando as viagens mais fáceis e baratas e menos poluentes;
  • construção de milhares de moradias sociais a cada ano, garantindo que todos tenham um lugar para morar;
  • salários de mais de 24 mil enfermeiros e mais de 28 mil prestadores de cuidados. Com fundos adicionais para fornecer mais de 20 novas bibliotecas e hospitais reformados para melhorar o bem-estar das comunidades;
  • proteção de casas, negócios e infra estruturas por meio de aumento significativo do financiamento atual para proteção contra inundações e incêndios florestais;
  • aumento dos atuais 6 bilhões de euros de contribuição financeira climática e melhoria maciça do compromisso existente de 100 milhões de euros por perdas e danos. Para ajudar a reparar a responsabilidade histórica para com os países mais afetados pela crise climática.

Alemanha: carros que “bebem” combustíveis fósseis, escândalo de emissões e bilhões não tributados

A Alemanha tem o quarto maior número de bilionários do mundo, totalizando 132 pessoas, segundo a lista de bilionários da Forbes de 2024, ante 126 no ano anterior. O Relatório Global de Riqueza do Boston Consulting Group conta 3.300 alemães super-ricos, colocando o país em terceiro lugar, atrás apenas dos EUA e da China em número de ultra-ricos. Em conjunto, os alemães bilionários ficaram US$ 59 bilhões mais ricos entre 2023 e 2024, com um patrimônio líquido total de US$ 644 bilhões. O país tem uma das maiores concentrações de riqueza entre os países da OCDE.

Na Alemanha, os 10% mais ricos possuem 67,3% da riqueza, enquanto os 50% mais pobres têm apenas 1,2% dos recursos, tornando o país um dos mais desiguais da Europa. Segundo dados do Bundesbank, entre 2009 e 2021, os 50% mais pobres entre os alemães tinham apenas 0,6% do patrimônio líquido total das famílias do país.

O Boston Consulting Group descobriu que os super-ricos alemães controlavam cerca de US$1,4 trilhão de riqueza global investível em 2020, o que representa crescimento de quase 6% em relação ao ano anterior.

O imposto sobre a riqueza em vigor na Alemanha desde 1948, que contribuiu significativamente para a redução da desigualdade, foi suspenso em 1995 e desde então não foi restabelecido.

Cerca de dois terços dos alemães (62%) apoiam um imposto sobre a riqueza de ativos superiores a um milhão de euros, segundo uma pesquisa de 2024. O grupo Taxmenow, formado por pessoas ricas em países de língua alemã, promove campanhas por um imposto sobre a riqueza desde fevereiro de 2021.

É necessário um imposto médio global de 8,6% sobre a riqueza dos bilionários para deter a desigualdade em espiral. Na Alemanha, um imposto de apenas 8,6% sobre a riqueza dos bilionários poderia interromper a crescente desigualdade e ajudar a financiar uma ampla gama de benefícios anuais, que incluem:

  • isolamento térmico de mais de 290 mil casas a cada ano e instalação de mais de 380 mil aquecedores para que as casas se mantenham aquecidas no inverno e frescas no verão;
  • construção de milhares de novas turbinas eólicas para fornecer energia segura e renovável para 1,3 milhão de lares, juntamente com uma garantia de energia para garantir que as demandas essenciais sejam atendidas e que ninguém fique sem energia para suas necessidades básicas;
  • instalação de painéis solares em mais de 87 mil edifícios públicos, como escolas e hospitais, a cada ano, produzindo energia limpa e renovável;
  • capacitação para mais de 210,000 milhão de trabalhadores da indústria dos combustíveis fósseis e das indústrias de alto carbono, visando a requalificação para empregos “à prova do futuro” em regiões como a Lusácia;
  • introdução de mais de 5 mil novos ônibus elétricos. Modernização das redes ferroviárias e redução das tarifas ferroviárias, tornando as viagens mais acessíveis e baratas, além menos poluentes;
  • construção de milhares de moradias sociais a cada ano, garantindo que todos tenham um lugar para viver;
  • salários de mais de 21 mil enfermeiros e mais de 22 mil prestadores de cuidados. Com fundos adicionais para oferecer 18 novas bibliotecas e hospitais reformados para melhorar o bem-estar das comunidades;
  • proteção de casas, negócios e infra estruturas por meio de aumento significativo do financiamento atual para proteção contra inundações e incêndios florestais;
  • aumento dos atuais 6 bilhões de euros de contribuição financeira climática e melhoria maciça do compromisso existente de  100 milhões de euros por perdas e danos. Para ajudar a reparar a responsabilidade histórica para com os países mais afetados pela crise climática.

Brasil: paraísos fiscais, desmatamento e propina

O Brasil defendeu a adoção de um imposto sobre a riqueza ao ocupar a presidência do G20 em 2024. O país também desempenha papel fundamental como lar de um forte movimento indígena e de uma sociedade civil ativa, que luta pela justiça climática, além de abrigar em seu território a maior parte da Amazônia. Para completar, o país sediará uma importante rodada de negociações climáticas internacionais em 2025, a COP30, na qual todos os países deverão se comprometer a reduzir suas emissões na velocidade e escala exigidas pela crise climática.

O Brasil tem um total de 69 bilionários, com patrimônio líquido total de US$ 231 bilhões, segundo a lista de bilionários da Forbes de 2024. Os seis homens mais ricos do Brasil têm a mesma riqueza que os 50% mais pobres da população, cerca de 100 milhões de pessoas. Os 5% mais ricos do país têm renda equivalente à dos 95% restantes.

Atualmente, não há imposto sobre a riqueza no Brasil, embora o atual governo avalie a criação de um imposto sobre a renda de milionários que poderia variar entre 12 e 15%. No país, a renda é atualmente tributada com base numa taxa progressiva até um máximo de 14%, com nenhuma contribuição paga sobre rendas acima de R$ 85.047,00. Quase metade dos impostos no Brasil incidem sobre alimentos e serviços,  impactando principalmente as pessoas com rendimentos mais baixos.

Seguindo  o exemplo das comunidades indígenas e aproveitando o poder destrutivo de um punhado de indivíduos ultrarricos e gigantes do petróleo, o governo poderia mobilizar uma grande quantia para garantir justiça energética. Um imposto sobre a riqueza no Brasil poderia gerar bilhões todos os anos para ajudar a:

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O que poderia mudar se os bilionários finalmente pagassem o que devem?

Este dossiê traz a resposta. Ao examinar a riqueza acumulada por esses magnatas e suas estratégias para escapar dos impostos, mostramos como grandes fortunas podem ser a chave para financiar uma transição energética justa.

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Taxando os bilionários e construindo nosso próprio poder

Atualmente há quase 600 bilionários na Europa e, desde 2020, a riqueza acumulada desse grupo aumentou um terço, atingindo 1,9 trilhões de euros em 2023. Ao pressionar países do G20 como África do Sul, Alemanha, Brasil, Canadá, França e Reino Unido a apoiarem um acordo global de imposto sobre a riqueza e introduzirem taxações desse tipo, enormes somas poderiam ser cobradas por meio de impostos nacionais sobre a riqueza – definidos nos orçamentos anuais dos países, visando solucionar a crise climática, tirar as pessoas da pobreza e melhorar a vida cotidiana da população.

A oportunidade política.

O Brasil tem procurado se estabelecer como um líder climático global, e o governo brasileiro deve ser apoiado em seus esforços para levar a cabo um acordo sobre um imposto sobre a riqueza no G20. Isso ajudaria a fechar brechas aproveitadas pelos super-ricos, gerando enormes somas para o financiamento climático e para serviços públicos no país e em outras nações. A presidência do G20, atualmente ocupada pelo Brasil, em 2025 será da África do Sul, que deve continuar defendendo um acordo para o imposto sobre riqueza.

Para as pessoas comuns na Europa, quais são os benefícios da introdução de impostos sobre a riqueza?

 

A crise do custo de vida atingiu duramente muitos países da Europa, com o aumento generalizado dos preços da energia e dos alimentos. O debate político é pautado em cortes e austeridade, em vez de abordar investimentos e ações climáticas. Paralelamente, guerras culturais estão sendo mobilizadas pela extrema direita em relação a quem deve pagar o custo das políticas climáticas. A resposta não poderia ser mais clara: os super-ricos devem ser forçados a pagar, e isso trará enormes benefícios, como:

  • Fornecimento de energia para o futuro e fim da pobreza energética: acelerando a implementação de fontes seguras de energia renovável, atualizando matrizes nacionais de energia obsoletas e construindo instalações de armazenamento de energia. Garantia de energia mais barata, confiável e verde, para que todos possam aquecer suas casas confortavelmente, com redução das emissões de carbono.
  • Oferta de moradia de qualidade e aconchegante, com contas mais baratas: ao implementar um programa maciço de melhoria residencial para aumentar a eficiência energética, aperfeiçoar o aquecimento urbano nos países de clima mais frio e garantir que todas as casas sejam mantidas aquecidas no inverno e frescas no verão, as contas de energia cairão, e esse processo criará centenas de milhares de novos empregos. As receitas também poderiam contribuir para a construção anual de centenas de milhares de novas habitações sociais resistentes ao clima.
  • Criação de novos empregos e oportunidades de formação: o investimento na transição justa gerará milhões de novos empregos em toda a economia, contribuindo para novas oportunidades de carreira promissoras para os jovens. Programas de reciclagem profissional garantirão empregos seguros e de boa qualidade para pessoas que atualmente dependem dos combustíveis fósseis e de indústrias intensivas em carbono para trabalhar.
  • Melhoria de serviços e infraestruturas vitais: o potencial de arrecadação de impostos sobre a riqueza é tão grande que também fecharia a crescente lacuna de investimentos em hospitais, escolas, transporte público e espaços recreativos – como bibliotecas e espaços verdes –, melhorando enormemente a vida cotidiana de milhões de pessoas.
Taxando os bilionários: para o financiamento climático internacional 

 

É uma questão de obrigação moral que países e empresas de combustíveis fósseis responsáveis pela crise climática paguem para prevenir e reparar os impactos climáticos nas nações que menos contribuíram para as mudanças climáticas – aquelas que estão sendo mais afetadas por aumentos extremos de temperatura, inundações, tempestades, tufões e incêndios florestais mortíferos. 

Impostos progressivos sobre riquezas extremas e grandes empresas petrolíferas estabelecidas em países ricos, como Alemanha, França e Reino Unido, aumentariam a receita dos governos nacionais. Uma campanha concertada poderia permitir que esses governos finalmente aumentassem suas obrigações financeiras climáticas internacionais, baseadas em subsídios e financiadas publicamente, após anos de fracasso em cumprir suas promessas.

Trilhões de dólares de receita anual adicional podem ser arrecadados por meio de impostos progressivos sobre as pessoas e empresas mais ricas e poluidoras, juntamente com medidas como o redirecionamento de subsídios de combustíveis fósseis para energias renováveis. Esses recursos deveriam ser usados para finalmente entregar esse financiamento tão necessário e prometido há muito tempo, por meio da nova meta internacional de financiamento climático. Também é uma questão de justiça que as pessoas comuns não paguem a conta. Por isso, é um imperativo moral taxar os bilionários e as empresas de combustíveis fósseis, bem como obrigar essas pessoas físicas e jurídicas a pagarem. 

Como forma de responder a responsabilidades históricas, o financiamento climático a partir dos países mais ricos pode gerar benefícios abrangentes para o enfrentamento da crise climática e a redução da pobreza no mundo todo. Planos de ação climática nacionais totalmente financiados na África, na Ásia, na América Latina e no Pacífico poderiam proporcionar: 

  • Financiamento para perdas e danos, adaptação e mitigação: neste ano, nas negociações da COP29, uma nova meta de financiamento climático (a Nova Meta Quantificada Coletiva) deve ser acordada para entregar US$ 1 trilhão por ano ao Sul Global, o que é necessário para prevenir e reparar danos climáticos e garantir a transição para a energia renovável.
  • Acesso à energia e necessidades fundamentais: replicando e ampliando projetos de energia renovável em todos os continentes, centenas de milhões de pessoas que atualmente vivem sem acesso à eletricidade podem ser conectadas a fontes de energia seguras, confiáveis e acessíveis. O acesso à eletricidade vai permitir que milhões de crianças estudem após anoitecer, impulsionar o desenvolvimento econômico local, melhorar a saúde e tornar os lugares mais seguros para se viver.
  • Melhoria da infraestrutura e benefícios mais amplos à comunidade, tais como: investimentos em larga escala e amplamente distribuídos para descarbonizar e tornar os sistemas de transporte “à prova do clima”, edifícios públicos como escolas e hospitais e infraestrutura econômica como portos ou fazendas ajudando as comunidades a prosperarem e aumentar a resiliência diante dos impactos climáticos.
  • Treinamento, habilidades e empregos: a implementação generalizada de projetos de energia renovável orientados para a comunidade e o desenvolvimento resiliente ao clima vão impulsionar programas de treinamento em larga escala para aprimorar habilidades e criar milhões de novos empregos.
  • Propriedade comunitária e democracia energética: financiar adequadamente projetos que capacitem as comunidades a assumirem o controle de sua própria energia vai ajudar no fornecimento de sistemas efetivos de energia renovável que beneficiam as pessoas comuns. Treinar pessoas para articulações, campanhas e lobbies pela propriedade da energia renovável descentralizada vão garantir benefícios para as comunidades, superando as injustiças da economia movida a combustíveis fósseis.
  • Removendo o domínio da exploração de combustíveis fósseis: acelerar o fim da era dos combustíveis fósseis vai libertar milhões de pessoas sujeitas tanto aos impactos climáticos devastadores quanto aos danos causados às vidas, aos meios de subsistência e à terra pela extração e produção de combustíveis fósseis.