Quem pensa que o assunto das mudanças climáticas é restrito a um círculo fechado de especialistas, está enganado. Este recado é dado, nas entrelinhas, por um grupo formado atualmente por 120 homens e mulheres de 17 anos até a faixa de 40 anos, distribuído em 20 países, que estão se habilitando para tratar do assunto em diferentes instâncias, afim de ter condições de discutir e de atuar em rede por meio de iniciativas que visem a educação sobre o clima a estudantes até o gerenciamento de projetos e participações nas conferências internacionais. Quem são estes mobilizadores? São participantes que integram os programas do Youth Climate Leaders (YCL), que tem como fundadora e CEO, a jovem brasileira Cássia Moraes.
“Nosso principal objetivo é treinar e conectar jovens que estão sensibilizados para a causa das mudanças climáticas. São pessoas que querem saber como agir diante deste problema que interessa a todos”, explica ela, que é especialista em Desenvolvimento Sustentável e Cooperação Internacional, além da experiência de atuação no Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, como também na Missão Brasileira na ONU, no PNUD, e na Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU (SDSN).
“Após passar por treinamentos práticos de imersão e teóricos, os participantes têm condições de ingressar em nossa rede de facilitadores de engajamento para ter oportunidade de fazer estágios, voluntariados, de continuar a participar de eventos de atualização sobre o tema. Estamos construindo um banco de dados em nosso site, com acesso público”, explica. A YCL abre anualmente bolsas, segundo ela, pois o propósito não é de haver uma postura elitista.
Direto na fonte
Em um ano e meio de atividades, a YCL já teve participantes dos quatro continentes. São pessoas das mais variadas formações. Estudantes, oceanógrafos e chefs, entre outros. “As falas mais críticas vêm dos jovens, cada vez mais conscientes, que muitas vezes, são marginalizados no espaço de tomadas de decisão sobre o clima. Mas é importante destacar que o nosso movimento é intergeracional, por isso, trazemos mentores e palestrantes mais experientes para esta contribuição”, afirma.
Com esse propósito de diálogo, as parcerias vão aumentando e hoje são cerca de 30 no mundo. Uma das atividades mais recentes da ONG foi realizada em parceria com o Núcleo Interdisciplinar de Mudanças Climáticas da Universidade de São Paulo (Incline/USP), que trouxe cientistas brasileiros do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), em um evento aberto ao público, nesta segunda-feira. A 350.org Brasil pôde conferir esta iniciativa.
A primeira imersão internacional da YCL ocorreu na metade de 2018, quando foi formado um grupo que foi a Paris. Durante uma semana, tiveram aprendizados e palestras com atores-chaves da política internacional climática. Na sequência, seguiram para o Quênia, onde fizeram várias visitas, entre elas, à sede do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Colocando a mão na massa, desenvolveram um projeto para uma ONG local, localizada em Meru. Neste ano, os destino de imersão foi a Alemanha. Relatos de participantes podem ser conferidos na página da YCL.
Em setembro a novembro do ano passado, houve o primeiro curso no Brasil, com 37 participantes de 10 estados brasileiros. E em junho deste ano, o segundo. E na COP 24 do Clima, a Youth Climate Leaders também abriu vagas a bolsistas para seguir com a delegação do grupo para acompanhar a Conferência das Partes da Convenção-Quadro sobre a Mudança do Clima (COP 24), na Polônia. Neste mês, estão programadas participações nas mobilizações pelo clima em Nova York, e na COP 25, segundo Cássia.
Sobre a 350.org Brasil e a causa climática
A 350.org é um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Nossas ações vêm ao encontro de medidas que visem inibir a aceleração das mudanças climáticas pela ação humana, que incluem a manutenção das florestas.
Desde o início, trabalha questões de mudanças climáticas e luta contra os fósseis junto às comunidades indígenas e outras comunidades tradicionais por meio do Programa 350 Indígenas e vem reforçando seu posicionamento em defesa das comunidades afetadas por meio da campanha Defensores do Clima.
###
Sucena Shkrada Resk – jornalista ambiental, especialista em política internacional, e meio ambiente e sociedade, é digital organizer da 350.org Brasil
Veja também:
Entenda o que está em jogo com o limite de aumento da temperatura média do planeta em 1.5º C até o final do século
Dia da Amazônia: uma lente de aumento sobre a importância dos povos da Amazônia
A proteção da Amazônia ecoa na voz da mulher indígena
Entrevista especial: da Amazônia à Conferência do Clima, especialista brasileiro alerta
A hipótese da savanização da Amazônia se torna cada vez mais provável
Relatório especial do IPCC/ONU destaca a relação do uso da terra com as mudanças climáticas
Mais de 91 mil focos de calor registrados até final de agosto, o número