Exploração da reserva de petróleo e gás de Vaca Muerta atrasa o desenvolvimento da Argentina e agrava a crise climática global, alerta 350.org
A poucos dias da mais importante conferência climática global, a COP27, a 350.org emite um alerta: a reserva argentina de combustíveis fósseis de Vaca Muerta pode se tornar uma verdadeira “bomba de carbono”, com impactos significativos para o desenvolvimento da Argentina e para a crise do clima.
Vaca Muerta contém a segunda maior reserva de gás de xisto e a quarta maior reserva de óleo de xisto do mundo, extraídos por meio do fracking, uma técnica complexa e de alto impacto, que chegou à Argentina com o início das atividades nessa área.
Caso sejam totalmente explorados e queimados, o petróleo e o gás contidos na Bacia de Neuquén, da qual Vaca Muerta é o maior campo, liberarão na atmosfera um volume de CO₂ equivalente a 11,4% do orçamento global, ou seja, de todo o volume desse gás que pode ser emitido até 2050, se a humanidade quiser limitar o aquecimento global a 1,5 °C.
* Confira, no fim da página, o infográfico em espanhol
Os dados fazem parte do relatório “Vaca Muerta: uma armadilha de petróleo e gás”, que a 350.org publicou em 13 de outubro. Na semana de publicação do estudo, a organização destacou os custos econômicos ocultos da exploração de petróleo e gás no país, que tornam a reserva argentina uma “bomba econômica”. Agora, enquanto a grande maioria dos países se prepara para a COP27, a 350.org chama a atenção para o desastre climático que o setor de combustíveis fósseis poderia causar.
“Vaca Muerta é uma das maiores “bombas de carbono” do mundo. Ao seguir explorando petróleo e gás na região, as empresas, bancos e governos envolvidos nessas atividades estão declarando, todos os dias, que o lucro de uns poucos importa mais que o bem-estar da nossa espécie e de todas as outras espécies do planeta”, disse a ativista argentina Victoria Emanuelli, coordenadora de campanhas da 350.org na América Latina.
Para efeitos de comparação, se todo o petróleo e gás que existe em Vaca Muerta fosse queimado em 50 anos, as emissões anuais de CO₂ seriam equivalentes a 49,3% do total de emissões anuais que a própria Argentina definiu como meta para 2030, em sua NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada). Evidentemente, uma parte dos combustíveis fósseis extraídos em Vaca Muerta pode ser queimada fora do território nacional, o que reduziria esse percentual, mas ainda assim, o impacto para o cumprimento das metas climáticas do país tende a ser gigantesco.
A 350.org também alerta que Vaca Muerta concentra parte significativa dos lucros de exploração nas mãos de empresas estrangeiras, inclusive algumas sediadas em países que proíbem o fracking, como Reino Unido e França. Nesse sentido, a extração de petróleo e gás na Patagônia Argentina reforça o colonialismo climático, por meio de uma relação que enriquece países que já são ricos e deixa para a Argentina os maiores custos ambientais, climáticos e socioeconômicos.
“As companhias de combustíveis fósseis da Europa e dos Estados Unidos sabem que seu espaço nos países desenvolvidos está diminuindo, por causa da pressão por ação climática, e estão buscando transferir para o Sul Global suas atividades. Seria útil para a Argentina se proteger dessa armadilha, porque o custo político e econômico de apostar em energias sujas será cada vez mais pesado”, afirma Gerard Rijk, analista de ativos da consultoria holandesa Profundo e co-autor do relatório.
O caminho para a Argentina escapar da armadilha de Vaca Muerta e acelerar seu desenvolvimento passa por uma transição energética justa, que coloque as necessidades das comunidades mais vulneráveis acima do lobby das empresas de petróleo e gás.
“Temos um enorme potencial para as energias renováveis e podemos redirecionar os recursos que hoje subsidiam o fracking para atividades que beneficiem as pessoas e o planeta. A escolha de deixar Vaca Muerta para trás está em nossas mãos”, afirma Victoria Emanuelli.
Leia o relatório “Vaca Muerta: uma armadilha de petróleo e gás” (em espanhol)
Mais informações sobre os custos ocultos da Vaca Muerta
Informações para a imprensa
Peri Dias
Comunicação da 350.org na América Latina
[email protected] / +351 913 201 040