Global – O anúncio feito em 25 de janeiro pelos bancos Credit Suisse, BNP Paribas e ING de que deixarão de financiar o comércio de petróleo extraído da Amazônia equatoriana isolou e aumentou a pressão sobre os outros dois bancos europeus que continuam a promover esse tipo de operação, Natixis e UBS.
“Não há mais desculpa para que os bancos continuem a lucrar com a crise climática e os desastres ambientais e sociais que a indústria do petróleo promove na Amazônia. Algumas das empresas do setor estão mostrando que sujar a própria marca em operações destrutivas para o planeta não compensa. Será que Natixis e UBS querem mesmo ser os últimos financiadores da destruição de uma área tão especial da maior floresta tropical do mundo?”, questiona Ilan Zugman, diretor da 350.org para a América Latina.
Em agosto de 2020, um relatório publicado pelas ONGs Amazon Watch e Stand.earth mostrou que seis instituições financeiras eram responsáveis por 85% do financiamento vindo de bancos, desde 2009, ao comércio de petróleo advindo da região das Cabeceiras Sagradas da Amazônia, uma das áreas ambientalmente mais sensíveis de todo o bioma. A lista era composta por BNP Paribas, Credit Suisse, ING, Natixis, Rabobank e UBS. Em algumas operações, os bancos participavam inclusive da entrega física do petróleo aos compradores, uma amostra do seu envolvimento com esse setor.
Ao mesmo tempo em que anunciavam, com pompa e circunstância, compromissos socioambientais mais rigorosos para suas atividades na Europa, essas seis instituições seguiam viabilizando uma indústria que já contaminou milhares de quilômetros de rios no Equador e colocou em risco dezenas de comunidades. Só o último grande vazamento de petróleo na região, em abril de 2020, poluiu as fontes de água de mais 120 mil pessoas, incluindo 27 mil indígenas.
A campanha que mudou essa realidade foi liderada por um grupo de ONGs que, além de Amazon Watch e Standard.earth, incluía organizações locais, como a Confederação das Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana (CONFENIAE) e a Coordenadora das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA).
Depois de expostos, Credit Suisse, BNP Paribas e ING anunciaram na segunda-feira que vão se retirar das operações de venda de petróleo produzido na floresta equatoriana. O Rabobank afirmou que havia deixado de financiar o comércio de petróleo na região alguns meses antes do lançamento do relatório. Natixis e UBS, porém, informaram a lamentável decisão de continuar viabilizando as atividades de empresas de combustíveis fósseis naquela região.
“Os bancos que financiam a destruição de florestas e rios precisam lembrar que a vida vai sofrer em todo o planeta se a natureza continuar a ser atacada. Por isso, a decisão de deixar de apoiar a exploração de petróleo e gás na Amazônia é importante para os povos indígenas, mas também para todas as comunidades do planeta”, afirma Ninawá Huni Kui, presidente da Federação dos Povos Indígenas do Acre.
A 350.org apoiou a campanha de agosto de 2020, compartilhando conteúdo sobre o tema em seus próprios canais. Além disso, a organização lançou, em dezembro de 2020, a campanha Resistência Amazônica, com o objetivo de fortalecer as vozes de comunidades amazônicas contra a exploração de gás e petróleo na maior floresta tropical do mundo. A primeira ação da campanha foi um protesto no Rio de Janeiro, em frente ao hotel onde a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizou, em 04 de dezembro, um leilão de áreas de exploração de petróleo e gás em diversas regiões do país, inclusive na Amazônia.
Aspas sobre o anúncio
Ilan Zugman, diretor da 350.org na América Latina, afirma:
“A campanha coordenada por Amazon Watch, Stand.earth e organizações indígenas do Equador mostrou que chamar a atenção do setor financeiro para as consequências de suas operações dá resultado. As comunidades afetadas pela extração de petróleo na Amazônia merecem ter respeitados seus direitos à saúde, ao meio ambiente equilibrado e à preservação de sua cultura, por isso, não podemos mais tolerar atividades poluidoras nessa região das Cabeceiras Sagradas da Amazônia”.
“Esse duplo padrão dos bancos europeus, que anunciam reduções de suas emissões nos países ricos, mas financiam a indústria fóssil e o desmatamento em países em desenvolvimento, é uma das facetas do colonialismo climático do nosso tempo. Se ouvissem os indígenas das regiões afetadas pelos vazamentos, os executivos desses bancos entenderiam que todo o planeta é interligado e que é terrivelmente hipócrita seguir financiando a crise climática na América Latina enquanto fingem se importar com o meio ambiente para o público da Europa”.
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Peri Dias
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