18 novembro, 2022

Brasil recebe “menção desonrosa” no prêmio Fóssil do Ano pelo conjunto da obra do governo Bolsonaro

Anúncio da “menção desonrosa” entregue ao Brasil nesta 6a-feira. Crédito: Isvilaine Silva


Sharm El-Sheikh, Egito – 
Organizações ambientais de todo o mundo acabam de premiar o Brasil por sua política climática nos últimos quatro anos, período do governo Bolsonaro. Porém, o reconhecimento concedido, infelizmente, foi uma “menção desonrosa” no Prêmio Fóssil do Ano, uma nomeação irônica entregue ao fim de cada Conferência do Clima da ONU (COP) aos países que mais emperram o combate à crise climática global.

“O prêmio reconhece aquilo que a sociedade civil brasileira vem apontando desde o início deste governo: as políticas de Bolsonaro prejudicam o Brasil e o mundo e precisam ser urgentemente revertidas. A partir de 2023, Lula terá a chance de recolocar o Brasil em um papel de liderança climática, com ações de combate ao desmatamento, aceleração da transição energética justa e respeito aos direitos das comunidades tradicionais”, afirma Ilan Zugman, diretor da 350.org na América Latina.

O prêmio Fóssil do Ano é uma iniciativa bem-humorada da Climate Action Network (CAN), uma rede de ONGs climáticas que reúne mais de 1800 organizações de 130 países. Há 23 anos, a cada COP, a CAN oferece “honrarias” aos governos que se destacam negativamente, com o objetivo de chamar atenção para posições que bloqueiam o avanço das negociações internacionais pelo clima.

Nesta sexta-feira, na premiação simbólica que realizou em Sharm El-Sheikh, no Egito, a CAN concedeu seu primeiro prêmio, o Fóssil Colossal, aos Estados Unidos. Completaram o pódio as duas menções honrosas entregues a Brasil e Rússia.

Os Estados Unidos levaram o reconhecimento principal por causa de seus esforços para adiar indefinidamente a criação de um fundo de Perdas e Danos para os países mais atingidos pela crise climática, uma das principais demandas do Sul Global para a COP27. Já a Rússia foi agraciada porque levou mais de 30 lobistas do setor de combustíveis fósseis para a conferência e tentou promover a energia nuclear como solução para a crise climática, ao mesmo tempo em que ignorava as emissões massivas de gases do efeito estufa causadas pela guerra na Ucrânia.

No caso do Brasil, os organizadores da premiação mencionaram que o país “passou os últimos quatro anos tentando estragar o Acordo de Paris, ao mesmo tempo em que violava direitos humanos e ambientais”.

Guinada urgente e ambiciosa

O governo Bolsonaro agravou a crise climática por meio de políticas que elevaram o desmatamento e atrasaram a transição energética no Brasil. Nos primeiros três anos dessa gestão, o ritmo de devastação de floresta amazônica subiu 73%, segundo informações do projeto PRODES, conduzido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Já entre as medidas que atrasaram a transição energética está a expansão das usinas termelétricas e da rede de  gasodutos, por mecanismos economicamente irracionais e pouco transparentes, em um momento em que o mundo corre para expandir as energias renováveis. Também pesaram os incentivos ao setor carvoeiro na Região Sul do país e o estímulo à exploração de novos blocos de petróleo e gás, inclusive em áreas onde vazamentos de petróleo poderiam destruir patrimônios nacionais, como Fernando de Noronha e Atol das Rocas.

“Bolsonaro passar vergonha no cenário internacional não é surpresa alguma. O problema é que ele vinha arrastando o Brasil com ele, nessa espiral de truculência, ineficiência e isolacionismo que caracterizou seu governo. O impacto só não foi pior porque a sociedade civil brasileira foi resistente e corajosa na cobrança por justiça climática, mas estamos cansados de “menções desonrosas” ao Brasil. Nas próximas COPs, a gente espera trocar o sorriso amarelo pela felicidade real de ver o país liderando os esforços climáticos”, disse Ilan Zugman.

Conheça as propostas da 350.org para a transição energética no próximo governo.

 

Informações para a imprensa

Peri Dias
Comunicação da 350.org na América Latina
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