Sabemos que o futuro da humanidade está ameaçado e um dos principais motivos, somado às mudanças climáticas, é a escassez de água potável. Não à toa, muitos apontam que a água será o bem mais valioso nas próximas décadas – o que nos coloca um enorme desafio pela frente: proteger as nossas fontes. Nos últimos dias essa necessidade ganhou força com a sinalização do interesse do governo federal em privatizar a água no Brasil. Não é um pesadelo, isso é real.

Diante de um cenário como esse, o que dizer de um projeto de produção de energia, cara e poluente, que pode consumir milhões de litros de água, por hora? Parece absurdo, mas hoje o Ceará  vive uma das piores crises hídricas do estado e a água de reservatórios que deveriam ser destinadas ao abastecimento de comunidades está sendo desviado para atender à termelétrica do Complexo Industrial de Pecém.

Moradores de Caucaia e diversas comunidades indígenas vem lutando há meses para defender a retirada de água do Lagamar do Cauípe, uma área de preservação ambiental. Diversas famílias montaram acampamento em frente ao canteiro de obras onde estão sendo instaladas tubulações para o roubo da água do povo. O projeto prevê a retirada de até 300 litros de água por segundo para servir ao resfriamento das turbinas da usina.

De acordo com estudo divulgado pelo Instituto de Energia e Meio ambiente, em novembro de 2016, a maior parte das usinas termelétricas em operação no Brasil  adotam sistemas de resfriamento que demandam grandes volumes de água, o que pode significar impactos significativos ao equilíbrio hídrico do entorno.

A vazão de água necessária nos sistemas de resfriamento, segundo o Instituto pode variar, dependendo da eficiência e tecnologia da usina,  de 40m3/MWh a 250 m3/MWh  – traduzindo, o consumo varia de 40 mil a 250 mil litros de água para a produção de um Megawatt/ hora.  O projeto Verde Atlântico Energias, prevê a construção de um termelétrica em Peruíbe/SP com capacidade de 1700 MWh. Não é preciso ser um especialista em matemática para prever que o projeto consumiria bilhões de litros de água por dia.

“É completamente absurdo, em tempos em que a tecnologia nos permite a produção de energia a partir de fontes renováveis, que são mais limpas e baratas para o consumidor final, considerar a possibilidade da instalação  de uma usina, que tem como base um combustível fóssil e poluente, e que põe em risco um dos nossos bens mais preciosos”, defende Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina.

Para esclarecer a questão dos valores: No leilão A-6 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), realizado em dezembro, para a venda de energia que será distribuída em 2023,  o MWh da energia a gás foi comercializado pelo valor de R$ 218,00, enquanto o MWh da energia gerada pelo vento foi de R$ 98,00. Não se deixe enganar, esses valores são pagos pelos consumidores finais –  não impactam em prejuízos aos distribuidores, mas à população.

Enfim, o custo direto da energia térmica é alto para as pessoas, mas muito maior para o ambiente – e quando falamos de água, ou mais precisamente da falta dela, estamos falando de um custo futuro ainda mais pesado para as comunidades. A pergunta que fica mais uma vez é: É esse o desenvolvimento que queremos?

Peruíbe está a um passo de aprovar a emenda à lei orgânica municipal que barra o projeto de uma usina na cidade, projetada para ser uma das 50 maiores do mundo. Um projeto que contraria a vocação natural do município e põe em risco toda região. A proibição da usina representará uma grande vitória para o povo da cidade, mas apenas o começo de embate que não termina para o litoral de São Paulo e para o Brasil: a luta pela defesa da água e da vida.

Comunidade de Peruíbe/SP acompanha nesta quarta-feira votação de lei que barra usina termelétrica