Em compasso de contagem regressiva, o Sínodo da Amazônia, que terá foco na Pan-Amazônia (nove países da região, incluindo o Brasil), e será realizado entre os próximos dias 6 e 27 de outubro, no Vaticano, recebeu apoio em um ato inter-religioso, com diferentes lideranças, em encontro realizado na Catedral da Sé, na região central de São Paulo (SP), nesta segunda-feira (30/09).
A organização foi da Frente Inter-Religiosa Dom Paulo Evaristo Arns, composta por integrantes de 12 religiões e doutrinas. O ato contou com a participação do brasileiro Dom Claudio Hummes. Ele é o relator do encontro internacional entre bispos e o papa, além de convidados, que tem como principal base socioambiental, a encíclica papal Laudato Sí, escrita pelo papa Francisco, no ano de 2015 .
“Juntos vamos pensar as grandes causas da humanidade. O Sínodo não é fechado, não é exclusivo, ele é inclusivo. A crise amazônica é grave. Vivemos uma grande crise socioambiental”, disse Hummes, que também é presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam).
Falas de solidariedade se sucederam, durante o ato. O sheik Al Bukai, da União Nacional das Entidades Islâmicas, afirmou: “A reunião de hoje trata de um suicídio coletivo que o ser humano comete contra a natureza. Eu quero desejar que o Sínodo da Amazônia seja uma luz que ilumine os corações dos governantes”.
O rabino Alexandre Leone reforçou que o encontro no Vaticano seja bem-sucedido. “Neste momento urgente e crucial de tomada de consciência da devastação da natureza da Amazônia e de tantos outros lugares do planeta, a Igreja Católica, o papa Francisco chama o Sínodo para refletir sobre a situação e propor novos caminhos”.
“Nossos orixás estão na natureza, na água, no ar, na terra. Eu peço a manutenção da natureza. Os povos originários são assassinados todos os dias, como a natureza. Que esse Sínodo permita que todos nós mudemos a nossa história”, disse a sacerdotisa do Candomblé Adriana de Nanã.
Segundo o pastor Ariovaldo Ramos, o Sínodo da Amazônia pode contribuir para um caminho à crise ambiental instalada. “Quando o Criador colocou o homem no planeta, nos deu a tarefa de governar o planeta. Falhamos, mas há sempre esperança, o Sínodo é a esperança. Que tenha sucesso”.
Participaram também do ato, Dom Odilo Scherer, arcebispo Cardeal da Arquidiocese de São Paulo; o monge budista Ryozan e o professor kardecista Afonso Moreira Júnior.
Participação brasileira no Sínodo
Segundo dados da Repam, haverá mais de 250 participantes no Sínodo da Amazônia. Só do Brasil, foram convocados 118 brasileiros. Entre eles, estão 56 bispos das dioceses e prelazias da Amazônia e 2 padres administradores das Igrejas particulares que estão sem bispos nomeados. Ao grupo dos padres sinodais, aqueles que têm direito a voto, somam-se os padres representantes da União dos Superiores Gerais (USG).
Na Assembleia Sinodal, ainda foram convidadas 19 mulheres, 13 religiosas e 6 leigas. Neste grupo, há auditoras e peritas que contribuirão nas reflexões e discussões, mas não poderão votar. Representantes de outras igrejas de tradição cristã também integrarão o grupo. Entre os convidados especiais, está o climatologista Carlos Nobre. A lista completa de participantes do evento, de diferentes países, pode ser conferida neste link. A informação foi divulgada pelo Vaticano, no último dia 21 de setembro.
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Sucena Shkrada Resk – jornalista ambiental, especialista em política internacional, e meio ambiente e sociedade, é digital organizer da 350.org Brasil
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