Algumas das áreas oceânicas mais importantes para a biodiversidade e a pesca no litoral brasileiro está em risco de destruição devido ao leilão de blocos de petróleo e gás que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizará no dia 7 de outubro, quinta-feira.

Nove empresas estão inscritas para disputar a exploração e produção de petróleo e gás em até 92 blocos, localizados nas bacias sedimentares de Campos, Santos, Potiguar e Pelotas. Segundo estudos realizados por Fabrício Gandini, mestre em oceanografia pesqueira pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e fundador do Instituto Maramar, as bacias de Potiguar e Pelotas são sensíveis para a manutenção da vida marinha, também destaca que a atividade petrolífera e de gás na região pode causar danos graves a áreas essenciais para a pesca, além de ressaltar que essas áreas ainda não se encontram oficialmente protegidas, e lamenta:

“Por ser uma verdadeira fronteira oceanográfica, a Bacia de Pelotas é um patrimônio marinho brasileiro, que além disso presta um serviço valiosíssimo à economia de alguns dos estados mais populosos do país, mas que o governo brasileiro está oferecendo para a exploração de petróleo”, Gandini.

Blocos próximos a áreas protegidas pela legislação ambiental também estão na mira da indústria fóssil. Fernando de Noronha, Atol das Rocas e o Arquipélago de São Pedro e São Paulo, conhecidas como “oásis” da biodiversidade marinha, estão sendo leiloadas sem avaliações detalhadas dos impactos que essas regiões podem sofrer.

Reservas de Fernando de Noronha e do Atol das Rocas são reconhecidas como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Foto: ICMBio

Na semana passada, a 350.org organizou um protesto submarino em dois pontos do litoral brasileiro: Ilha do Arvoredo (SC) e Fernando de Noronha (PE). Em ambas as áreas podem ocorrer graves danos em caso de vazamentos de óleo nos blocos ofertados.

Protesto submarino realizado pela 350.org em Fernando de Noronha. Foto: Zairamtheus/allangle

Em 2019, o vazamento de cinco mil toneladas de óleo que atingiu mais de 130 municípios em 11 estados, tirou a renda de milhares de pescadores artesanais e impactou o turismo das regiões afetadas. Os estudos de Gandini, destacam que se ocorresse novamente um vazamento de óleo e chegasse ao trecho litorâneo, que vai do Rio Grande do Norte ao Pará, a pesca artesanal e a indústria de espécies de peixes grandes sofreriam impactos graves. 

“As comunidades que vivem da pesca, do turismo e dos ambientes de mangue já foram muito prejudicadas pelo petróleo e pelo gás em várias regiões do Brasil, por isso, queremos evitar que esses danos se expandam para novas áreas. As grandes empresas desses setores ficam com o lucro e, para nós, sobram os vazamentos, afirma Alexandre Anderson, presidente da Ahomar.

Haverá transmissão do leilão ao vivo para que o público possa acompanhar todo o processo pela internet. A transmissão ocorrerá pelo canal da ANP no YouTube a partir das 9 horas do dia 7 de outubro.

 

Ilha do Arvoredo (SC). Fotos: Matías García

Ilha do Arvoredo (SC). Fotos: Matías García

 

 

 

 

 

 

 

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