A delegação da 350.org América Latina acompanhará e levará reivindicações à Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-25), que acontece entre 2 e 13 de dezembro em Madri, na Espanha, com convidados especiais que reforçam a importância dos povos indígenas no papel histórico de defensores climáticos.  Neste grupo, estão representantes de diferentes povos e organizações indígenas que ecoarão suas vozes no contexto da arena das negociações climáticas entre as cerca de 200 nações. Conheça um pouco sobre uma dessas lideranças – Ninawa Inu Huni Kuī, que desde 2010, ocupa a função de presidente da Federação do Povo Huni Kui, do Acre (FEPHAC), reeleito até 2023. São cerca de 17 mil indígenas, sendo 15 mil no Brasil e 3 mil, no Peru.

Ninawa Inu Huni Kui rumo à COP 25

Arquivo pessoal

Qual é a trajetória de Ninawa Inu Huni Kuī?

Técnico em Gestão de Projetos e Gestão Cooperativista nas Terras Indígenas, Ninawa cursa medicina na Universidade Amazônica de Pando, na Bolívia. Ao longo dos anos tem se destacado como uma liderança ativa no Brasil e internacionalmente. Aqui, no país, atualmente é conselheiro da Coordenação das Organizações da Amazônia Brasileira (COIAB); membro da Aliança Mundial dos Guardiões da Mãe Terra, desde 2000. Também atua como conselheiro titular no Conselho de Museologia Social Indígena, desde 2018, e foi vice-coordenador na Organização dos Povos do Acre, Oeste do amazona e Oeste de Rondônia (OPIARA), de 2014 a 2018 e secretário da Organização dos Povos Indígenas do rio Envira – OPIRE/Feijó-AC, entre 2006  e 2010.

No âmbito internacional, atualmente ocupa a função de delegado Internacional do Climate Justice Aliance (CJA) – Communities United For a Just Transition e é membro da Teia das Cinco Curas – Aliança Brasil/Perú e Canadá. 

Quais são as causas que mobilizam Ninawa Inu Huni Kuī?

“Eu defendo a autonomia e protagonismo dos povos indígenas nas decisões referentes às suas decisões política, social e econômica, demarcação e proteção dos territórios indígenas, da terra e florestas, como também o combate às ações governamentais que afetam o clima e defender o direito à vida a todos os ser viventes do planeta”, afirma.

No dia a dia, Ninawa Inu Huni Kui também investe esforços e já atuou em projetos com apoios do terceiro setor ou governamentais, que tenham sintonia com a “mãe natureza” e com o respeito às tradições ancestrais e saúde indígena. Nestas atribuições, já coordenou o projeto de desenvolvimento da agricultura orgânica nas aldeias Huni Kui, um convênio com a Fundação Banco do Brasil (FBB) e FEPHAC. Atuou também como membro do Colegiado Indígena do Conselho Nacional de Cultura (CNPC/MinC), entre 2015 e 2018 e foi coordenador de apoio no III Fórum Nacional da Cultura Indígenas (CNPC/MINC) em 2015. Na esfera legislativa, integrou a Comissão Nacional Mista entre deputados e Lideranças Indígenas na  Câmara dos Deputados, em 2014 Federais- 2014; e suplente no Conselho Nacional de Políticas Indigenistas – CNPI/FUNAI.         

Qual é a mensagem de Ninawa Inu Huni Kuī rumo à COP-25?

“Nossa demanda é atuar na defesa dos povos indígena e seus direitos, do meio ambiente, do fortalecimento cultural e do patrimônio material e imaterial. A terra é essencial para garantir a continuidade do homem e da sua sociedade. O sistema que constitui a biodiversidade, onde ocorre a cadeira produtiva da vida, é responsável pelo movimento climático, sem o qual, nós seres humanos independentes de raça, cor e povos, necessitamos para continuar a viver.  Nós precisamos manter o equilíbrio do material com o espiritual. Portanto desde o mais simples e humilde aos que têm o comando político que somos dependentes desses sistemas em equilíbrio, pois ao final todos teremos um destino igual, onde não existe nenhum tipo de diferença. Enquanto temos tempo, vamos manter a Gaia, Mãe Terra, com vida e não mutilar aquela que nos fornece o que precisamos para viver.”

Sobre a 350.org e as mudanças climáticas

A 350.org é um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Nossas ações vêm ao encontro de medidas que visem inibir a aceleração das mudanças climáticas pela ação humana, que incluem a manutenção das florestas.

Desde o início, trabalha questões de mudanças climáticas e luta contra os fósseis junto às comunidades indígenas e outras comunidades tradicionais por meio do Programa 350 Indígenas e vem reforçando seu posicionamento em defesa das comunidades afetadas por meio da campanha Defensores do Clima. Mais uma vertente das iniciativas apoiadas pela 350.org é da conjugação entre Fé, Paz e Clima.

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Sucena Shkrada Resk – jornalista ambiental, especialista em política internacional, e meio ambiente e sociedade, é digital organizer da 350.org Brasil

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