Com a proposta de combater o desmatamento nas florestas tropicais e de promover a proteção dos defensores climáticos, da Amazônia à Bacia do Congo, a Cúpula do Clima, realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro, em Nova York, lançou a Campanha Fé pelas Florestas. Segundo a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Inger Andersen, a iniciativa visa dar continuidade a uma mobilização global de diferentes organizações religiosas em prol da justiça climática. O anúncio foi reforçado por Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Com este impulso, o Sínodo da Amazônia, no Vaticano, Itália, começa neste domingo (06) e segue até o dia 27.
Em caráter de apelo global, o conceito de fé, paz e clima tende a se ampliar. A campanha já recebeu a adesão de mais de 900 lideranças religiosas de 125 países, que congrega uma rede com mais de 1 bilhão de pessoas. A preocupação se deve ao fato de que em apenas uma década, houve a perda no planeta, de uma área de floresta tropical correspondente ao tamanho da Alemanha, Franca e Reino Unido juntos contribuindo para o Aquecimento Global e o avanço da perda da biodiversidade.
Entre os eixos principais propostos, está a defesa de direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais, que se caracterizam como defensores climáticos das florestas tropicais, que estão na linha de frente sob todos os tipos de pressões. Mais um ponto considerado prioritário na campanha é que possa também exercer influência sobre o setor privado e as indústrias extrativas que estão transformando as florestas tropicais em terras agrícolas, em commodities como carne bovina, soja, óleo de palma, celulose e papel, e em exploração de minério, madeira, e petróleo e gás. Ao mesmo tempo, incentivar a mudança dos padrões de consumo da sociedade, não acolhendo empresas que lucram com a destruição de florestas tropicais.
Fé, paz e clima
Esta movimentação, entretanto, vem se ampliando no sistema ONU desde 2017, quando o Pnuma lançou Fés pela Terra, que reúne aproximadamente 1,5 mil organizações religiosas e doutrinas, com este propósito, dando início também à Iniciativa Inter-Religiosa para Florestas Tropicais. “Com esta nova campanha de 2019, a proposta é uma declaração que precisa ser divulgada em todo mundo e está sendo desenvolvida uma biblioteca de materiais educacionais para lideranças e comunidades religiosas sobre desmatamento, mudanças climáticas e direitos dos povos indígenas”, afirma o coordenador da Iniciativa para Florestas Tropicais, Charles McNeil.
O coordenador principal da Iniciativa Fés pela Terra, Ivad Abumoghli, lembrou que há um vasto campo a ser explorado de potencial nas organizações religiosas. Segundo ele, estas instituições possuem 5% de todas as florestas comerciais da terra, 22% e 28% na Suécia e na Áustria, respectivamente e têm um papel fundamental como defensores ambientais.
Escolher o fórum da Cúpula do Clima para este anúncio, foi um ato estratégico. O evento antecedeu a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP 25), a ser realizada no Chile, em dezembro deste ano, que é o fórum oficial de negociações entre os cerca de 200 estados-membros. Isso se deve ao pouco nível de ambição apresentado até agora, pela maior parte das governanças das nações em comprometimentos de redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs), provocadas por combustíveis fósseis, como por meio do desmatamento, entre outras fontes. Veja também Ambições modestas dos países marcam Cúpula do Clima .
O apelo à sociedade, por meio das religiões, é um caminho importante destinado à conscientização sobre o atual estágio de crise climática vivenciada no planeta. O Brasil e os demais oito países da Pan-Amazônia têm um forte papel neste cenário. O Sínodo da Amazônia trará esta abordagem, neste mês, tratando a Ecologia Integral, com base em princípios expostos na Encíclica papal Laudato Sí.
Sobre a 350.org Brasil e a causa climática
A 350.org é um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Nossas ações vêm ao encontro de medidas que visem inibir a aceleração das mudanças climáticas pela ação humana, que incluem a manutenção das florestas.
Desde o início, trabalha questões de mudanças climáticas e luta contra os fósseis junto às comunidades indígenas e outras comunidades tradicionais por meio do Programa 350 Indígenas e vem reforçando seu posicionamento em defesa das comunidades afetadas por meio da campanha Defensores do Clima. Mais uma vertente das iniciativas apoiadas pela 350.org é da conjugação entre Fé, Paz e Clima.
###
Sucena Shkrada Resk – jornalista ambiental, especialista em política internacional, e meio ambiente e sociedade, é digital organizer da 350.org Brasil
Veja também:
Sínodo da Amazônia é tema de debate em audiência pública na Câmara dos Deputados
Encontro inter-religioso apoia Sínodo da Amazônia
Nobel alternativo premia os defensores climáticos Davi Kopenawa e Greta Thunberg
Direito indígena amplia sua visibilidade internacional por meio de lideranças e projetos
A proteção da Amazônia ecoa na voz da mulher indígena
Sínodo da Amazônia tem como tema central a ecologia integral
10 frases do papa Francisco contra o aquecimento global